Há muitos e muitos anos.
A guerra já durava havia muito tempo.
As tropas do imperador Conrado III cercavam o castelo do REi Welfo VI.
Antes que o cerco começasse, quando percevberam que as tropas inimigas se aproximavam, os habitantes do castelo já tinham fugido nas suas carroças, nos seus carros de boi ou mesmo a pé, carregando o que podiam.
As crianças tinham sido mandadas para longe, para a asa de parentes.
Ficaram apenas os soldados e os cavaleiros, para a defesa do caselo; e as suas mulheres, que não quiseram abandoná-los.
O cerco já durava dois longos anos.
Nos primeiros tempos, os defensores do castelo estavam otimistas, achavam que havia possibilidade de vencer o inimigo, pela luta ou pelo cansaço.
Mas com passar do tempo a comida foi acabando, a água foi se tornando cada vez mais difícil, as doenças começavam a se espalhar.
Os feridos se arrastavam pelos aposentos desertos do castelo, sem tratamento, sem esperança.
A invasão do castelo estava próxima. E todos sabiam que quando isso acontecesse ninguém se salvaria.
Havia desânimo e tristeza.
Um dia o imperador mandou ao rei um cavaleiro, levando uma mensagem.
Impressionado com a lealdade das mulheres, que haviam permanecido com seus maridos, Conrado oferecia a elas a salcação: poderiam sair do caselo, atravessar o acampamento de suas t
tropas, que não seriam maltratadas.
E poderiam, ainda, carregar consigo o que tivessem de mais precioso.
Nessa noite, enquanto os homens se preparavam para a batalha, as mulheres discutiam a fuga.
Não sabemos o que se passou nessa noite. O que sabemos é que de manhã, muito cedo, quando os primeiros raios de sol iluminaram os portões, um grupo de mulheres saiu, trazendo uma grande bandeira branca.
Dirigiu-se ao acampamento do inimigo.
Ao encontrar a primeira sentinela, uma das mulheres adiantou-se e pediu para alar com o imperador. Conrado recebeu-as, cada vez mais impressionado com sua valentia.
As mulheres tinham vindo perguntar ao imperador se podiam, realmente, contar com sua palavra. Se podiam, de verdade, sair do casftelo, carregando o que tinham de mais precioso.
Ofendido, ele reafirmou sua palavra:
- Palavra de rei não volta atrás! - ele deve ter dito.
As mulheres então voltaram ao castelo, para executar o seu plano.
Daí a pouco começaram a sair, envoltas em suas pesadas capas de viagem, caminhando com dificuldade. Pois nos ombros traziam o que tinham de mais precioso.
Ante o olhar atônito dos homens de Conrado, as mulheres passavam, com seus maridos nos ombros.
Os soldados se voltaram para o chefe, aguardando suas ordens.
Mas Conrado, impassível, mantinha sua palavra, deixando que toda a tropa inimiga passase por entre suas próprias tropas, protegida pela coragem de suas mulheres.
Contam que o castelo não foi nem invadido.
Ali mesmo, no campo de batalha, Welfo e Conrado se encontraram e a paz foi feita.
E puderam todos voltar para suas casas e esquecer, por algum tempo, que existia guerra.
Rocha, Ruth - Mulheres de Coragem, FTD, São Paulo 2006
Ilustação: Lúcia Hiratsuka.
Recomendo ao eleitor de Bolsonaro e ao eleitor de Lula (ou do PT) a leitura atenta desta postagem a respeito do livro Dois Idiotas Sentados Cada Qual Em Seu Barril, Ruth Rocha.
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