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Nascida em 24 de dezembro: Ruth Rocha

Mulheres de Coragem

  Foi na Alemanha que esta história aconteceu.
     Há muitos e muitos anos.
     A guerra já durava havia muito tempo.
  As tropas do imperador Conrado III cercavam o castelo do REi Welfo VI.
  Antes que o cerco começasse, quando percevberam que as tropas inimigas se aproximavam, os habitantes do castelo já tinham fugido nas suas carroças, nos seus carros de boi ou mesmo a pé, carregando o que podiam.
     As crianças tinham sido mandadas para longe, para a asa de parentes.
     Ficaram apenas os soldados e os cavaleiros, para a defesa do caselo; e as suas mulheres, que não quiseram abandoná-los.
     O cerco já durava dois longos anos.
     Nos primeiros tempos, os defensores do castelo estavam otimistas, achavam que havia possibilidade de vencer o inimigo, pela luta ou pelo cansaço.
     Mas com  passar do tempo a comida foi acabando, a água foi se tornando cada vez mais difícil, as doenças começavam a se espalhar.
     Os feridos se arrastavam pelos aposentos desertos do castelo, sem tratamento, sem esperança.
      A invasão do castelo estava próxima. E todos sabiam que quando isso acontecesse ninguém se salvaria.
     Havia desânimo e tristeza.
     Um dia o imperador mandou ao rei um cavaleiro, levando uma mensagem.
      Impressionado com a lealdade das mulheres, que haviam permanecido com seus maridos, Conrado oferecia a elas a salcação: poderiam sair do caselo, atravessar o acampamento de suas t
tropas, que não seriam maltratadas.
     E poderiam, ainda, carregar consigo o que tivessem de mais precioso.
     Nessa noite, enquanto os homens se preparavam para a batalha, as mulheres discutiam a fuga.
     Não sabemos o que se passou nessa noite. O que sabemos é que de manhã, muito cedo, quando os primeiros raios de sol iluminaram os portões, um grupo de mulheres saiu, trazendo uma grande bandeira branca. 
     Dirigiu-se ao acampamento do inimigo.
     Ao encontrar a primeira sentinela, uma das mulheres adiantou-se e pediu para alar com o imperador. Conrado recebeu-as, cada vez mais impressionado com sua valentia.
     As mulheres tinham vindo perguntar ao imperador se podiam, realmente, contar com sua palavra. Se podiam, de verdade, sair do casftelo, carregando o que tinham de mais precioso.
     Ofendido, ele reafirmou sua palavra:
     - Palavra de rei não volta atrás! - ele deve ter dito.
     As mulheres então voltaram ao castelo, para executar o seu plano.
     Daí a pouco começaram a sair, envoltas em suas  pesadas capas de viagem, caminhando com dificuldade. Pois nos ombros traziam o que tinham de mais precioso.
     Ante o olhar atônito dos homens de Conrado, as mulheres passavam, com seus maridos nos ombros.
    Os soldados se voltaram para o chefe, aguardando suas ordens.
     Mas Conrado, impassível, mantinha sua palavra, deixando que toda a tropa inimiga passase por entre suas próprias tropas, protegida pela coragem de suas mulheres.
     Contam que o castelo não foi nem invadido.
     Ali mesmo, no campo de batalha, Welfo e Conrado se encontraram e a paz foi feita.
     E puderam todos voltar para suas casas e esquecer, por algum tempo, que existia guerra.

Rocha, Ruth - Mulheres de Coragem, FTD, São Paulo 2006
Ilustação: Lúcia Hiratsuka.


Recomendo ao eleitor de Bolsonaro e ao eleitor de Lula (ou do PT) a leitura atenta desta postagem a respeito do livro Dois Idiotas Sentados Cada Qual Em Seu Barril, Ruth Rocha.

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