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Dedicatória (2): Aos Bichos, Às Nuvens, Aos Rios-Irmãos, Luciano Maia

Aos Bichos

Ao bicho triste (pé de arribação)
À acauã que canta o triste fado
À juriti, ao pássaro carão
À asa-branca, ao sabiá, ao gado
Que bebe o rio-ausente do verão
Em cantigas de aboio represado.
A todos os viventes dos caminhos
Reverberadas pelos passarinhos.

Às Nuvens

Ás andarilhas nuvens tropicais
Que recebem do solo vaporoso
As águas em conúbios vesperais
E retornam (nem sempre) ao sequioso
País das pedras intertemporais
Nalgum velado encontro, em breve pouso
Dedico (na esperança de revê-las)
Este canto de amor sob as estrelas.

Aos Rios-Irmãos

Aos rios do Ceará, principalmente
Os do sertão sedento que não vão
Muito longe da terra seca e quente
Onde resiste o deserdado irmão
Preso a um fio d´agua sucumbente
Que o amarra à sina deste chão
Mas que ao tempo do solo lavradio
É a mais doce vazante do meu rio.


In: Maia, Luciano, Jaguaribe Memória das Águas, Governo do Estado do Ceará 2010
Imagem: Assembleia legislativa do estado do Ceará
Leia também:
Dedicatória 1 aos cantadores e aos repentistas

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