Padre Graça acordou de madrugada. Rezou, fez a higiene matinal, comeu pouco, como de hábito, e preparou a pequena mala com os objetos litúrgicos. O São João Batista o aguardava. Havia vinte e quatro anos cumpria a função de levar a palavra de Deus para famílias que perderam seus entes queridos. No início, via sentido em ser capelão, não mais. Preferia ser transferido para uma comunidade pequena, onde ainda houvesse fieis. Via o quanto os seres urbanos eram hostis e descrentes da paz eterna. O entusiasmo de seminarista cedera espaço a um isolamento estéril, sem saída. O convívio excessivo com a morte o tornara insensível. Não se adequava mais ao cargo. O pedido de transferência fora enviado meses antes, mas os superiores não demonstravam pressa para encontrar substituto. Padre Graça esperava resignado. Por isso, a perspectiva de enfrentar a sequência de velórios, no longo dia quente que se anunciava, lhe consumiu os sentidos. Teria perdido a fé? Quem o visse entrar no 13