O táxi a deixou na esquina do bulevar. Ela só precisava caminhar cinquenta metros para chegar em casa. A rua era iluminada pelos lampiões que coloriam as fachadas com reflexo laranja, mas ainda assim, como sempre lhe acontecia tarde da noite, ela ficou apreensiva. Olhou para trás e não viu ninguém. A luz do hotel, ali em frente, inundava a calçada entre dois arbustos plantados em vasos que delimitavam a entrada do hotel três estrelas. Ela parou diante do seu prédio, abriu o zíper do meio de bolsa para pegar o chaveiro com o controle remoto, e depois tudo aconteceu muito depressa. Uma mão segurou a alça, uma mão surgida do nada e pertencente a um homem moreno, vestido com uma jaqueta de couro. O medo levou apenas um segundo para atravessar todas as suas veias e subir até o coração, para ali explodir numa chuva gelada. Por reflexo, ela se agarrou à bolsa, o homem puxou e, encontrando resistência, pousou a mão sobre o rosto dela e empurrou a cabeça contra o metal da porta.
A caderneta Vermelha, Antoine Laurain
Tradução:Joana Angélica D´ Ávila Melo,Alfaguara 2016, pág. 7
Nesse primeiro livro com tradução para o Brasil, o autor traz uma história simples ambientada em Paris e que me prendeu logo na primeira página. Tenho hábito de me deixar levar a lugares fatos e objetos que encontre em livros. Assim, descobri que o autor citado na historia tem 71 anos e é um Nobel nascido em Boulogne-Billancourt (FR); Habanita, o perfume que estava dentro da bolsa, foi criado em 1921 e ainda existe. Vou confessar: fiquei interessada. Antoine juntou fatos absolutamente possíveis a um nem tanto, meio parecido com novela das 9, pra fazer um livro cativante que o leitor não quer largar sem ver o final.
Recomendo.
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