Entrou no hospital, mandou chamar o melhor neurocirurgião. Disse que era caso de vida e morte. Não se sabe como, o melhor neurocirurgião foi atendê-lo. Médicos são imprevisíveis. Precisa-se muito e eles falham; subitamente, estão ali, salvando nossas vidas, ele pensou, sem se incomodar com o lugar-comum. Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, anônima. Por que são sempre assim, derrotando a gente logo de entrada? O médico: – Sim? – Quero me operar. Quero que o senhor tire um pedaço do meu cérebro. – Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um pedaço do seu cérebro? – Porque eu quero. – Sim, mas precisa me explicar. Justificar. – Não basta eu querer? – Claro que não. – Não sou dono do meu corpo? – Em termos. – Como em termos? – Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o senhor está impedido de fazer. Ou melhor; eu é que estou impedido de fazer no senhor.