Domitila
sentou-se novamente ao lado do minúsculo túmulo, debruçou o corpo sobre ele,
como se o abraçasse. Fechou os olhos e sentiu uma paz que havia muito não
sentia. Não tinha mais cansaço, nem dor, não havia mais agonia. Cumprira a
missão.
Tudo
começou por ali, nos arredores daquela vila. Ali viveram seus pais, e ali elas
nasceram. Tempos difíceis, sem qualquer recurso. Lembrava-se dos olhos
tristonhos da mãe ao falar sobre o encanto da filha mais velha. Da vivacidade
dos seus oito meses de vida, da alegria, da pele rosada, dos olhos cristalinos,
das coxas roliças.
E, num repente, na extensão de apenas um dia, ela se
foi. Começou com um pequeno desarranjo, julgado como reação pelo despontar dos
dentes, e no começo da noite agravou-se com uma febre incontrolável. Mesmo com
a débil claridade da lamparina, ficava visível nas pequenas bochechas rubras a
intensidade da febre. E a prostração do amado corpinho evidenciava a gravidade
do quadro. Tudo muito rápido, sem tempo algum para qualquer acudimento. Na
verdade, acudimento não existia. Ali, naquele fim de mundo, não havia nada. Ninguém
além deles...
Quanta
dor quando perceberam que nada mais poderia ser feito! A vida da filha havia
partido. E, ainda com a madrugada escura, com o fosco prateado do início da lua
crescente, a mãe e o pai seguiram em direção à vila, carregando nos braços e na
alma aquela que seria a maior dor da vida. E tudo foi feito. Nem sabiam como. A
papelada foi providenciada, e a filha enterrada. De início, uma pequena carneira
de ripas fora erguida, mas depois o pai providenciou uma lápide de tijolos com
uma cruz de madeira. Tudo caiado de branco.
Dois
anos depois, nasceu Domitila. Igualmente formosa, mas de saúde delicada. Da
mesma maneira, amada. Por ali viveram mais uns poucos anos e, esperançosos, partiram
para terras mineiras, dadas como promissoras para os roceiros. Passaram por
duas fazendas de café, e na última ficaram até a morte do pai.
Domitila
e a mãe mudaram-se para Lavras, cidade mais próxima da fazenda onde viviam.
Alugaram três cômodos. Sobreviviam com a pensão que a mãe recebia pela morte do
pai, e mais uns caraminguás que conseguiam defender com o trabalho de lavar e
passar roupas. A mãe já estava fisicamente debilitada. Idosa e judiada pela
vida, pouco ajudava. Mas, para Domitila, era uma companhia prazerosa. Sempre se
deram bem. Ambas possuíam almas nobres, eram mansas na lida com a vida. A
rudeza e as tristezas não as endureceram... Faziam ótima companhia uma à outra.
Conversavam demoradamente sobre todos os acontecimentos, sobre todas as
saudades. Não havia nenhum planejamento futuro. Apenas a esperança de um dia
voltar à vila onde Virgínia estava sepultada. Por opção, Domitila nunca se
casou. De saúde frágil durante toda a vida, padecia constantemente com agudas crises
de asma.
E
assim os anos corriam mansos, simples. O passeio semanal de mãe e filha era a
missa domingueira na capelinha próxima da casa em que viviam. Até que um dia, a mãe se cansou. Não queria mais comer, não queria
mais tomar banho, não queria mais ir à igreja. Prostrada, definhada, não
conseguia mais sair da cama. E Domitila cuidava dela como se cuidasse de uma
criança. Com paciência, com dedicação, com todo o amor do mundo. Mas os seus
cuidados perderam a batalha para outra força. A morte levou a mãe.
Sentiu
a mais dura solidão. Nunca pensara em ficar só. Não sabia como administrar a
vida assim, sem ouvir uma única voz na casa. Entristecida, idosa, sem recursos
para sobreviver, com a alimentação minguada e a falta de cuidados, as crises de
asma intensificaram-se a ponto de os vizinhos procurarem a assistência social.
E Domitila conseguiu, além de uma pensão vitalícia, tratamento médico
dispensado pela equipe do posto de saúde.
Recuperou-se.
Passou a fazer uso diário de muitos medicamentos que minimizavam os vários
problemas de saúde desconhecidos até então. Passava os dias sem maiores
preocupações, apenas atenta aos horários e doses dos seus medicamentos. O único
propósito, no qual pensava e repensava ao longo do dia e durante as noites insones,
era a viagem de volta à vila onde nascera, a visita ao túmulo da irmã. Era um
desejo, uma missão. Prometera à mãe que não morreria sem lá voltar. E essa era
a vontade mais velada.
Mesmo
com todos os cuidados, a saúde de Domitila ficava mais comprometida a cada dia.
E chegou um momento em que precisou deixar a casa que alugava. Foi levada para
um asilo. Lugar aconchegante, apinhado de velhinhos amigos, cheio de
cuidadores, de comida cheirosa, de cama limpa, de banhos refrescantes. Estava
feliz. O jardim era lindo, com todas as flores da infância. Muitas dálias,
cravos, rosas, flores de capitão...
Domitila
não lembrava mais de qualquer tristeza. Preenchia os seus dias com as
atividades de pintura, de bordados, crochê, de jardinagem. E conversava muito.
Tantos amigos, tantas histórias. Umas alegres, outras tristes... E nessas
conversas soube que as pessoas idosas poderiam viajar de ônibus sem pagar. Não
sabia! Isso lhe abriu caminhos... A parca pensão vitalícia não chegava a suas
mãos. Quase a totalidade ficava com a administração do asilo, o que era muito
justo, assim ela pensava. A ela eram repassados uns trocados a cada mês, mas
não tinha nem como gastar! Tinha tudo, tinha mais do que precisava...
O
inverno chegou de forma inclemente. Frio que doía nos ossos, e que trouxe gripe
a quase todos os idosos do asilo. Domitila ficou mal. Noites e noites de febre causticante,
de tosses agudas, de falta de ar. E sempre, amorosamente cuidada. Pedia
silenciosamente por saúde, pedia para que fosse dada a ela a possibilidade de
viajar até a terra em que havia nascido. Era o seu mais intrínseco e único
desejo. Nada mais queria da vida. Só isso...
Alavancada
pela missão a cumprir, recuperava-se, ainda que lentamente. A febre cedera.
Apenas a tosse a incomodava. Dava-lhe uma canseira danada no peito, uma
inapetência, e atrapalhava o sono. Com a diminuição dos remédios, passava mais
horas acordada, e tinha mais tempo para maquinar a sua viagem. Sabia que se
falasse sobre isso com alguém seria desencorajada, e se a administração
porventura ficasse sabendo, ela seria impedida de ir de qualquer maneira. Por
isso tramava tudo silenciosamente. Dentro da cabeça, tinha toda a trajetória a
percorrer. Em detalhes... Sairia do asilo à noitinha, no horário em que todos
se recolhem. A sua companheira de quarto era dorminhoca. Bastava entrar nas
cobertas e já estava ressonando. Iria bem agasalhada, levaria os remédios na
bolsa, juntamente com a carteira de documentos e o pouco dinheiro que guardara
por todo tempo. O nome da cidade ela sabia, e usaria do direito das passagens de
idosos.
Tudo
arquitetado, cuidadosamente planejado. Domitila ainda se sentia fraca, mas
temia adoecer novamente e não ter a oportunidade de realizar o desejo arraigado
na alma e cumprir a missão que combinara com a mãe. Não poderia fraquejar
agora, talvez seria essa a última, a única chance.
No
dia escolhido, uma segunda-feira, reorganizou a bolsa, conferiu tudo, separou
uma troca de roupa e a acondicionou numa pequena sacola plástica. Colocou tudo
sobre os cobertores, no seu guarda-roupa.
Naquele
dia saboreou o café da manhã como nunca, passou os olhos em cada um dos amigos,
conversou com muitos. Almoçou e jantou com eles, numa alegria imensa. Já estava
com saudades antes mesmo de partir. E não pretendia demorar nessa viagem...
Logo estaria de volta, e sabia que levaria uma bronca danada! Passeou pelo
jardim olhando detalhadamente cada flor, que agora eram poucas. Ali o frio
também havia castigado.
Depois
do jantar, voltou ao quarto. Pegou uma folha de papel, uma caneta, e começou a
desenhar umas letras. Mal sabia escrever, estudara muito pouco. Como ela mesma
dizia, não escrevia, apenas desenhava algumas letras. Acabou de escrever e
guardou a folha na bolsa. Não era um bilhete para a amiga de quarto. Cumpriria
religiosamente o que havia esboçado em sua mente. Não diria nada a ninguém.
Ficou
sentada na cama, esperando a chegada da parceira. Quando ela entrou foi direto
ao banheiro. Voltou já de camisola, pronta para entrar nas cobertas. E assim
fez. Domitila fez a oração da noite com ela, e em seguida entrou no banheiro.
Tomou um banho demorado, estava imensamente feliz. Quando saiu, a companheira
já ressonava. Deixou a porta do banheiro entreaberta para clarear um pouco o
quarto. Pegou a melhor roupa, vestiu-se calmamente. Agasalhou-se bem, colocando
até uma touca preta de lã. Escolheu um cachecol bem longo, deu duas voltas no
pescoço. Calçou as grossas luvas, meias de lã, e confortáveis sapatos. Pronto. Estava
preparada para partir. Aguardava apenas as luzes serem apagadas e o silêncio
envolver tudo.
Para
esperar, sentou-se novamente na cama. Com a pouca claridade que passava pela fresta
da porta do banheiro, olhou cada detalhe do quarto. Quatro paredes que acolheram
o seu sono nos últimos oito anos. Tempo bom... Olhava a amiga que dormia
santamente. Companheira de tantas orações, de tantas prosas, de tantas risadas,
de tantos dias bem vividos.
Finalmente
tudo quieto. Tudo apagado. Domitila pega a bolsa, o saco plástico, olha para a
amiga e dá um sorriso. Apaga a luz do banheiro, abre a porta do quarto
devagarinho, sai, e com o mesmo cuidado a fecha. Segue passo a passo, com muito
cuidado, como se pisasse em plumas. Não pode fazer qualquer barulho. Atravessa
o pátio, e sai pelo portão dos fundos. O único que é fechado com trava somente
por dentro. Imprudente, irresponsavelmente vai deixar o portão destrancado, mas
não há outro jeito.
Quando
se vê na rua, tem vontade de rir. Está fazendo a maior peripécia de toda a sua
vida! A maior, não! A única! Olha a rua vazia, escura, um vento frio, cortante.
Ajeita os óculos, ergue a dobra do cachecol até cobrir a boca e segue em
frente. A rodoviária não fica longe. Basta andar por mais alguns quarteirões, e
a primeira etapa estará vencida.
Chegando
à rodoviária, pede informações e dirige-se ao balcão da empresa de transporte
que faz a rota. Pede para comprar a passagem de idoso. É avisada de que o
ônibus parte às 23h, que irá até São José do Rio Preto, e que lá terá que pegar
outro ônibus para chegar ao destino. Terá de esperar pouco mais de uma hora,
mas está feliz. Muito feliz. Sente um frio intenso. Acomoda-se em uma poltrona
bem recuada, fora da corrente de ar. Ali, quietinha, silenciosamente põe-se a
rezar. Sente a presença da mãe. Sabe que ela está ali, a lhe guiar. E sente-se
ainda mais feliz.
No
horário marcado, o ônibus parte. Que sensação prazerosa! Domitila nem tem conta
de quantos anos faz desde a última viagem em um ônibus de carreira. Ainda era
menina, isso mesmo! As luzes do ônibus se apagam, a poltrona ao lado está
vazia. Nenhum idoso solicitou a outra passagem. Tem espaço para colocar a bolsa
e a sacola plástica. Sente muito frio, pensa que deveria ter trazido a manta.
Tinha pensado nisso, mas não queria fazer volume na bagagem. Tenta pensar em
outra coisa, esquecer o frio. Em vão... Em poucas horas está tremelicando, e o
ar frio do ônibus piora tudo. Percebe que está com febre. Tem sede, muita sede.
Quando
o ônibus faz a primeira parada, já é madrugada, Domitila pede ao motorista que
lhe compre uma garrafinha com água. Além da sede insana, quer tomar um remédio
para baixar a febre. Sente muito frio, e muito desconforto. E para piorar o
gentil motorista traz água gelada. Coitado, foi tão solícito!
Toma
o remédio, bebe toda a água. Não consegue dormir. Não sabe se pela ansiedade ou
se pelo mal-estar, mas não prega os olhos. Na segunda parada, desce
cuidadosamente do ônibus, vai ao banheiro, compra outra água, agora sem gelo, e
volta ao ônibus. O dia amanhece e encontra-a exausta. Sente-se cansada e doente.
A tosse começa a incomodar. Está gelada. Os pés, quase insensíveis.
Quando
o ônibus chegou a São José do Rio Preto, Domitila perguntou ao motorista como
deveria proceder para comprar a outra passagem. Orientada, conseguiu a passagem
e precisava esperar pelo embarque para o seu destino. Depois de um tempo, acomodada
no assento reservado, e com o ônibus a caminho da vila da sua infância,
Domitila começou a pensar nos amigos do asilo. A essa altura eles deveriam
estar alvoroçados com a sua falta, as freiras deveriam estar preocupadíssimas
com o seu sumiço. Na volta ela explicaria, e a bronca seria retumbante. Dá um
sorriso. Sente saudades.
A
missão está quase finalizada. Falta muito pouco. Sente um mal-estar tremendo,
muito desconforto, uma fraqueza sem limite. Percebe que a febre voltou, a tosse
está se intensificando, dói-lhe o peito. Deus! Esse ônibus precisa chegar logo
ao destino. Talvez quando descer, tomar um café com leite e comer um pão, tudo
ficará bem. Quer chegar, isso é o que deseja. Nada mais.
Quando
o ônibus chega à rodoviária da vila, Domitila começa a chorar. Não sabe definir
se chora de alegria ou de dor. Sente-se feliz, mas fragilizada. Tem medo das
forças a abandonarem. Já no saguão, vai ao bar, toma um café reforçado e engole
os remédios do dia. Vai ao banheiro. Antes de sair, lava o rosto e passa uma
escova nos cabelos. Segue a orientação do rapaz que a leva ao táxi. Passando
pelas ruas, tudo lhe é totalmente desconhecido, nada familiar. Não tem
lembrança de nada, era muito pequena quando partiu.Uma vila que agora é uma
cidade, e cheia de ladeiras. O táxi sobe e desce, vira aqui e vira ali, e em
poucos minutos para diante do cemitério.
Uma
entrada acanhada. Domitila passa pelo portão de ferro, olha adiante e vê uma
imensidão de área. Não há ninguém no atendimento. O cemitério é enorme. Tudo
muito diferente do que a mãe lhe descrevia. Os túmulos eram gigantescos,
modernos, suntuosos. Não havia nada da singeleza descrita pela mãe. Vai
caminhando em zigue-zague, procurando com os olhos alguma evidência, algo
similar a todas as narrativas da mãe. A tosse impiedosa não a abandonava. Tinha
calafrios sucessivos. Andou muito, viu muitos túmulos de crianças, e procurava
avidamente por uma lápide pequena, rústica, com uma cruz de madeira. Muito
cansada, sentou-se em um banco que ficava sob uma árvore, pediu a Deus que a
orientasse, que abreviasse a sua busca. Estava mal, sabia que iria precisar de
cuidados médicos, mas não agora.
Voltou
à portaria, havia um homem lá. Logo ele se apresentou como coveiro e
responsável pelo cemitério. Domitila contou a ele toda a sua história, e o que
buscava. Estendeu a ele o seu documento e disse que o nome da irmã era
Virgínia, e que o sobrenome era o mesmo dela. O homem nem pegou o documento. Declarou
a ela que trabalhava ali havia mais de 40 anos, que não existia qualquer
registro anterior a 1950. Então Domitila disse a ele que talvez o túmulo da
irmã nem existisse mais. Mas ele garantiu a ela que todos os corpos sepultados
até 1950 possuíam sepulturas perpétuas, definitivas. Todos continuavam no mesmo
lugar. Explicou que os túmulos mais antigos ocupavam a área no entorno da
capela. E como o cemitério fora ampliado posteriormente, os sepultamentos,
quanto mais recentes, mais distanciados da capela ficaram.
Percebendo
que Domitila não estava muito bem, o homem ofereceu a ela uma água e um café.
Ela aceitou, agradeceu e recomeçou a sua busca. Parou junto à calçada da capela
e procurava buscar na memória a direção que a sua mãe havia descrito. Seguiu em
linha reta, depois retornou ao mesmo lugar. Refez a caminhada na diagonal.
Muitas crianças sepultadas, muitas fotos, o que simplificava a busca. O túmulo
da sua irmã não tinha foto. Buscava um túmulo simples, com uma cruz de madeira.
E não conseguia encontrar. Sentia tanto frio, tossia incessantemente, tinha
vontade de deitar, mas estava ali, pronta a realizar o seu desejo. Não
recuaria, nunca...
A
tarde ia caminhando sem pena. E ela não encontrava o túmulo da irmã. Prostrada,
chorando baixinho, sentindo a febre cada vez mais elevada, com a tosse a
castigar-lhe o peito, retornou novamente ao ponto de partida: a velha e
minúscula capela. E desta vez seguiu sem rumo, novamente ziguezagueando entre
os túmulos. Tropeçava aqui, pisava em falso ali, já não sentia os pés. O sol
estava a descer, e ela continuava a busca. O encarregado do cemitério Tinha
terminado o expediente. Pensou que Domitila tivesse desistido, e se foi. Além
dela, não havia mais ninguém por ali.
Não
tendo mais forças para continuar, Domitila senta-se na estreita calçada de um
túmulo. Começa a chorar copiosamente. Sente-se doente, incapaz de seguir a
caminhada, e extremamente desolada. Não encontrou o túmulo da irmã. Olha o céu,
o sol quase sumiu por completo. Pensa na mãe. Olha em frente, e depois volta os
olhos para o lado. Olha a lápide margeada pela calçada onde está sentada. Com
muito esforço, coloca-se de pé. É um túmulo pequeno, antigo, tem uma pequena
elevação na cabeceira com um buraco no centro. Percebe que aquele buraco não
fora feito em vão. Sim, ali havia a cruz de madeira. Certamente se desfez com o
tempo. Sente que finalmente encontrou o túmulo da irmã. E chora, chora como
nunca havia chorado na vida. Chora gritado. Nem sabe por quantos minutos... Estava
exaurida.
Domitila
sentou-se novamente ao lado do minúsculo túmulo, debruçou o corpo sobre ele,
como se o abraçasse. Fechou os olhos e sentiu uma paz que havia muito não
sentia. Não tinha mais cansaço, nem dor, não havia mais agonia. Cumprira a
missão.
Com
a cabeça recostada na fria lápide, e com o rosto em brasa, Domitila tinha no
pensamento a figura da mãe, dos amigos do asilo, do pai. De repente o frio
cessara, não havia desconforto, nem tosse, nem dor no peito. Tudo ficara muito
leve, flutuava...
Na
manhã, Domitila foi encontrada.
Sem
saber o que fazer, e lembrando toda a história contada por ela, o coveiro conferiu
a bolsa, procurou pelos documentos e viu uma folha de papel dobrada, toda
amassada. Abriu rapidamente o papel e nele viu desenhado: QUERO FICAR AQUI.
ESTE É O MEU LUGAR.
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