Dirijo de volta, Sílvio emborcado ao meu lado. Passa da meia-noite. Deixamos Pedro no Flamengo e atravessamos Botafogo, em direção à Barra. Nossos encontros servem de refresco para as aporrinhações do trabalho, mulher e filhos. São a confirmação de nossa amizade, valor maior que cultuamos nesse tempo de puro egoísmo e solidão. As regras foram se estabelecendo naturalmente: só a pedido falamos de assuntos pessoais e de família; evitamos o mau humor e a depressão e só faltamos em casos graves. Discutimos futebol, política, mulheres, assuntos da semana, contamos piadas, falamos mal de conhecidos, fazemos todas as gozações permitidas pela intimidade. Mas, principalmente, enchemos a cara. Pedro, antes de saltar no Flamengo, reclamou muito, contando que está de saco cheio da mulher, fica acordada esperando ele chegar, cheia de ciúmes, diz que somos viados, tem muita chiação, choro e há semanas ele está dormindo na sala. Vi esse filme montão de vezes. Filho ún