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Mostrando postagens de 2016

Cantiga Para Não Morrer, Ferreira Gullar

Quando for for se embora moça branca como a neve me leve Se acaso você não possa me carregar pela mão, menina branca de neve me leve no coração. Se no coração não possa por acaso me levar, moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar. E se aí também não possa por tanta coisa que leve já viva em seu pensamento menina branca de neve me leve no esquecimento In Os melhores poemas de Ferreira Gullar, sel. Alfredo Bosi, Global editora,pág.98

A Sociologia Dos Prédios, Aluízio Falcão.

Quem mora em prédio sabe do que estou falando. Há todo um mecanismo sociológico engendrando as relações entre condôminos. estes, na maioria, têm uma convivência precária, de piscina e elevador.Não se visitam, nem saem juntos, mas conversam animadamente nos encontros episódicos, como se fossem velhos amigos. Gracejam sobre futebol, falam mal do síndico e da República.Parecem detestar o seu país. "Só mesmo no Brasil!", costumam dizer, referindo-se a uma sacanagem qualquer. São favoráveis à pena  de morte, votam em Maluf.       Os condôminos, com raras exceções, fazem questão do máximo respeito à hierarquia dos elevadores: o social para as famílias residentes, o de serviço, para empregadas domésticas. Pois foi neste último que  me aconteceu entrar às pressas. Sem olhar direito para uma pessoa que lá estava, cumprimentei maquinalmente: bom-dia! Não houve resposta. Era uma senhora de certa idade, usando avental de empregada. Olhava-me com um certo espanto por ter sido cumpri

Álbum de Família, Renato Teixeira

Álbum de família Vejo a vida e me espant o                                         Pois não compreendo Por que ela correu tanto Na manhã da vida De alma ensolarada Tudo era um querer De querer tudo E sem querer não querer nada Triste do retrato Que saudoso rememora Minha ingênua farda De soldado da escola Hoje já não tem Aquele mesmo resplendor Pois passou o tempo E ele também perdeu a cor A doce lembrança Que me invade sem receio Ouço a gritaria Da hora do recreio As meninas anjos A trocar as suas prendas Um beijo no Zé Gordo Entretido com a merenda Ana sabe tudo Era minha namorada E eu por minha vez Era perito em saber nada Dura tabuada Com seu conto em cada enredo Nela eu aprendi Como se faz corda nos dedos Nove vezes novembro Quase que me bota oco E hoje o resultado Deus no céu vale tão pouco Nada mais existe Do menino aprendiz Que levou a sério O que todo mundo diz Desbotou com o retrato Aquela alma ensolarada Tudo que é querer se foi Ficou o querer nada Ficou o querer na

Meu Povo, Meu Poema - Ferreira Gullar

Meu povo e meu poema crescem juntos como cresce no fruto a árvore nova No povo meu poema vai nascendo como no canavial nasce verde o açúcar No povo meu poema está maduro como o sol na garganta do futuro Meu povo em meu poema se reflete como a espiga se funde em terra fértil Ao povo seu poema aqui devolvo menos como quem canta do que planta  Dentro da noite veloz, 1975 e. José Olympio   

Peru de Natal, Mário de Andrade

      O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.      Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em

Oração, Fernando Pessoa - tradução de Jorge Pontual

Nossa Senhora das lágrimas vãs, Dai ao meu coração o vosso ninho. Adoeço em infindáveis manhãs E me embebedo com o amargo vinho De só conhecer  angústias mal sãs, De não saber senão viver sozinho. Reconheço que imploro a vós em vão, Mas meu coração só conhece a dor. Um vosso olhar seria a salvação, Mesmo que seja um olhar de horror. Concedei-me que eu volte a ser irmão Do vosso menino, Nosso Senhor. Meu sentido de mim é todo pranto, De mim mesmo só tenho muita pena. Oh colo dos meus medos acalanto Agarro-me a vós, criança pequena. Quisera vos ver viva por encanto A minha mão na vossa mão serena. Há muito tempo perdi o sabor Da fé, e tenho ânsia de oração Meu coração é um jardim sem flor, Nos meus brancos cabelos, vossa mão De mãe deixai repousar com amor E deixai-me morrer por compaixão. P rayer Our lady of Useless Tears, Thine is my heart's best shrine. I am sick with the gorging years, I am drunk with the bitt

Jovens Escribas lança três livros no Recife

Em noite no Bar do Barbosa, editora apresenta as novas obras do escritor recifense de coração Paulo Costa, Patrício JR residente na cidade e o autor visitante potiguar Carlos Fialho Com ideia de coletivo de autores, a Jovens Escribas faz lançamento triplo no centro do Recife com: “A prata das pétalas”, de Paulo Costa, “Absoluta Urgência do Agora” de Patrício Júnior e “A noite que nunca acaba” de Carlos Fialho, nesta quinta-feira, 15, no Bar do Barbosa. Um encontro de três escritores provocativos, d uas das obras trazem histórias fantásticas ambientadas em cidades nordestinas e também um romance que demonstra a fúria dos relacionamentos.  A editora sempre reúne e promove intercâmbio entre escritores em várias cidades pelo Brasil. “Desta vez o anfitrião é Paulo Costa, mas aproveitamos para apresentar Patrício JR que também mora no Recife e ainda continuo com o lançamento nacional de A Noite que nunca acaba. Outros livros de nossos escritores

O Estranho Visitante, Regina Ruth Rincón Caires

A cada enxadada, fincando o chão seco, duro e praguejado, o suor escorrendo pelas costas abaixo, sob um sol impiedoso, Gregório, involuntariamente, matuta. Se ao menos essas lembranças o abandonassem um pouco, a força dos braços seria mais viva. Qual o quê? Ferem seu corpo como espinhos, ficam como acordes de tristeza a lhe tocarem a alma. Pensamentos teimosos! Por que não se vão, feito a chuva?! Gregório para um pouco... Tira o chapéu. Os cabelos grudados à testa, o suor caindo-lhe sobre as pálpebras enrugadas. Sente-se um caco! Olha a sua volta, demoradamente, depois ergue seus olhos para o céu. Nada de nuvens! O céu infinitamente azul, e o sol, majestoso, reinando tirano. Tem sede... Olha para a moita de arbustos lá adiante, e sente-se desanimado calculando a distância que o separa da sua moringa. O jeito é arranjar forças pra chegar até lá. Sem água nem é possível pensar, quanto mais continuar! Descansa a enxada sobre o torrão de terra que acabou de revirar e segue em dir

Vinicius de Moraes e Cecília Meirelles

     Esta segunda-feira vem com dois poemas, para ajudar a esclarecer uma confusão feita por alguns internautas, quando Ladyce West publicou no seu blog, Peregrina Cultural, o poema As Borboletas de Vinicius de Moraes.  Em alguns sites e até em livros didáticos a autoria é  dada a Cecília Meirelles.  O blogueira Ladyce está absolutamente certa. O poema é de Vinicius de Moraes e na postagem consta a referência.   Vamos aprender, então?

9 Sugestões de Mário Vargas Llosa

Vargas Llosa, um escritor que eu adoro,  indicou 9 livros Mrs.Dalloway,     Talvez, noutra oportunidade, eu leia algum livro de virgínia Woolf. Por enquanto acho uma leitura chata.

Dos Amores Divididos e Multiplicados, Regina Ruth Rincon Caires

  Arroz, feijão, mexido de ovo e farofa de torresmo. Tudo misturado, amassado. Isso era feito dia após dia, sempre nos mesmos velhos e descascados pratos de ágate. Cada neto era servido com esse manjar dos deuses, carinhosamente temperado de generosidade, doação, amor. A avó compactava a comida no círculo central de cada prato, borrifava algumas gotas de limão-cravo, e com a lateral do garfo fazia uma cruz no centro, dividindo a porção em quatro partes. Dizia que cada parte era dedicada a um dos quatro grandes amores da vida: mãe, pai, avó e avô. E, comprometidos com esses amores, cada um de nós escolhia a parte mais amada para iniciar a refeição. Quase sempre a sequência lógica prevalecia: mãe, pai, avó e avô. Raras vezes essa harmonia era quebrada, e quando isso acontecia nem precisava investigar: havia uma surra atrelada a isso. Uma surra dada ou uma surra prometida. Se bem que isso era muito particular. Se havia alguma inversão, ninguém comentava. Acontecia dentro das