Escola criada por catador dá oportunidade a crianças carentes de Olinda
Na unidade de ensino, além da sala de aula, há uma sala de judô, uma de capoeira, biblioteca, parque e um espaço para cozinha
As paredes coloridas da Escola Nova Esperança numa rua sem calçamento do bairro de Rio Doce, em Olinda, chamam a atenção. Na fachada, uma imagem grafitada por moradores da comunidade registra o carinho do fundador da unidade de ensino, o catador de recicláveis Sebastião Pereira Duque, 59 anos, com as crianças que ali estudam. A escola, que existe desde 1984, atende a filhos de desempregados, catadores e pessoas de baixa renda da 2ª Etapa de Rio Doce. Não é uma escola da rede pública de ensino, mas também não funciona como uma instituição particular. Para fazer a matrícula, basta que os pais paguem R$ 20 por mês, para custos de manutenção, ou façam doações de materiais recicláveis.
Das 80 crianças com idades entre 2 e 6 anos que estudam na Nova Esperança, 70 pagam a mensalidade simbólica. As famílias das outras 10 entregam papelão, plástico, alumínio ou metal a Sebastião. “Esse valor é dividido entre as duas professoras da escola, que são praticamente voluntárias. Quando os pais não pagam, elas ficam sem receber e, depois, eu tiro do valor da venda do material que eles doaram para elas”, conta. É do bolso de Sebastião, diretor voluntário da escola, que sai o dinheiro para pagar os materiais escolares e as contas do imóvel.
Apesar de alfabetizado, Sebastião nunca frequentou uma escola regular. “Sei ler e escrever o básico e, por isso, quis dar aos meninos da comunidade um futuro que eu mesmo não pude ter”, revela o catador natural da cidade de Água Branca, Sertão da Paraíba. Pai de sete filhos, com oito netos e três bisnetos, Sebastião “adotou” ainda as crianças de Rio Doce fundando a escola. “Cresci sem pai e sem mãe. Quero ser para essas crianças o pai que não tive. O carinho delas é o melhor pagamento”, afirma.
A escola é a única opção de muitos pais da comunidade para poderem trabalhar. “A ação que começou aqui é fundamental. Se não tivesse essa escola, meu filho não estaria estudando, já que as creches do bairro não têm vagas suficientes. Ele pode não ser um professor, mas é o grande mestre, um educador para todos”, diz a dona de casa Patrícia Santos, 26, mãe de Renato, 3.
(Matéria de: Anamaria Nascimento - Jornal: Diário de Pernambuco - 24.05.2015)
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