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Poderoso Theo, meu neto

       Por alguns dias, deixei o blog de mão.
     Qual razão eu teria pra ficar buscando poema, conto, crônica ou notícias postáveis se meu primeiro neto ia nascer? 
   Seria parto natural, sem data marcada, portanto. Fui para São Paulo, levando lençóis de berço, de carrinho e cueiros. Ah, queijo de coalho e sombrinha de frevo também. Tá  certo, em embalagens separadas,tudo despachado. 
     Bagagem de mão: Trident  para mascar evitando dor de ouvido no pouso, muita apreensão e o notebook. Viagem  zen quando os pensamentos voam junto e eu estava repetindo, noutra posição, uma história feliz.
     Sobrevoando o mar, conjecturei como seria aquele bebê. Misturei, em mais de uma alternativa,  traços do pai e da mãe lembrando ter feito o mesmo com meu filho sem nenhum acerto. Meu devaneio encurtou o tempo do voo.
     Encontrei Theo naquele barrigão, cercado de sorrisos e esperança dos pais. Minutos depois, ainda no aeroporto de Guarulhos, chegaram e os outros avós vindos do Rio de Janeiro com o mesmo objetivo: ajudar e paparicar. 
      Contrações, mexidas, cansaço ... coisas normais de um evento normal. Nove dias depois, lá fui ver o bebê que não parecia com nenhuma das fisionomias que imaginei.
     Devo dizer que sou meio esquisita: fico silenciosa e quieta diante do que me encanta e aquele bebê me encantou. Na verdade, Theo me paralizou. Não me deu vontade de falar, de apertar, de nada. Só de ficar quieta olhando pra ele. Olhar e calar e era tudo. Outra sintonia, tudo havia mudado, a vida pra mim já era diferente por causa dele. 
     Já não sou mais de estardalhaços, demonstrações barulhentes de emoções. Hoje as maiores coisas e emoções, principalmente elas, cabem dentro de um pacote de silêncio e quietude. Foi assim comigo diante daquele rostinho ainda vermelho e inchadinho: silêncio.
    

    Em casa, com ele nos braços,  conversei. Disse a Theo o mesmo que a meus filhos na mesma idade: da felicidade de tê-lo comigo, da importância de sua existência e do amor  que tenho por ele que é tão imenso a ponto de só caber no silêncio.
  Não lhe desejei nada, achei melhor plantar. Tal fiz com meus filhos, plantei em Theo semente de que ele jamais terá consciência mas que seguirá com ele  por muito tempo em silêncio, mas viva.
     Dele trouxe o som de seu protesto em prol da mamanda salvadora, a sensação de pesinho nos meus braços e uma saudade tão danada  que várias coisas perderam completamente a importância. 
     A gente está sempre usando parâmentros para fazer caminhos e com sinceridade, não imaginava que um bebê pudesse ter tamanho poder. Vivendo e aprendendo: Theo, só na base da xixadinha, melhorou em muito minha percepção da vida. 
     Mais uns meses e a gente se encontra novamente, amiguinho.
    

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