A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di
O Compromisso (Heute wär ich mir lieber nicht begegnet), conta a história de uma ex-operária da indústria têxtil perseguida pela polícia secreta da Romênia. Minha surpresa com esse livro deveu-se a que supunha encontrar detalhes grotescos de morte e ou tortura, tão comuns em livros e ou filmes cujo pano de fundo seja regime totalitário. Nada disso. A personagem (Herta?) faz belas reflexões durante o trajeto que precisa fazer quando vai prestar depoimento, por exemplo. Fala de seus dois casamentos, mãe e pai, amigos, do cotidiano que lhe era possível ver na Romência. É intimista, franco, sem ideologismo algum. Leitura agradável. Recomendo.
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