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Mostrando postagens de janeiro, 2017

Cantiga Para Não Morrer, Ferreira Gullar

Quando você for se embora moça branca como a neve me leve. Se acaso você não possa me carregar pela mão, menina branca de neve, me leve no coração. Se no coração não possa por acaso me levar, moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar. E se aí também não possa por tanta coisa que leve já viva em seu pensamento, menina branca de neve, me leve no esquecimento. Os Melhores Poemas de Ferreira Gullar/seleção Alfredo Bosi,São Paulo,Global Ed.1983, pág.98

E Se Eu Fosse Presidente?

     - Mãe! Sabe o que  o presidente Obama fez?       - Me conta!!      - Convidou para um almoço na Casa Branca os cinco escritores prediletos dele, bota no blog!       - Foi? Algum autor conhecido da gente?       - Conheço Zadie Smith, tenho livros dela. Não tem nenhum best seller no Brasil.      - São todos americanos?      - Uma é inglesa. Vou te mandar o link...      - Ai que inveja...      - Ele é o presidente, não é? Ele pode..       - É...      Fui ver o link enviado. Não era uma manchete, um destaque na imprensa. Afinal, o presidente  pode chamar quem bem quiser à Casa Branca. O leitor Barak Obama, que por ser presidente talvez até já conhecesse seus convidados,  reuniu os cinco: Dave Eggers (USA), Colson Whitehead (USA), Zadie Smith (ENG),Barbara Kingsolver (USA) e Junot Diaz (R.DOM).          Não conheço nenhum dos prediletos do ex-presidente. Eles também não são dos mais vendidos no Brasil, embora existam edições em português de alguns de seus livros

Calcinhas Secretas, Ignácio de Loyola Brandão

Caminhando pelas calçadas congestionadas por camelôs que pagam propinas aos vereadores e, portanto, estão autorizados a montar suas barracas, ele hesitava diante da quantidade de bancas vendendo calcinhas e sutiãs. Desde que a Tiazinha começara a ter sucesso, as bancas exibiam modelos os mais diferentes, procurando excitar as mulheres na conquista dos amados. Percebeu que parte dos compradores eram homens e ficou na dúvida. Para eles mesmos ou para as mulheres? Parou diante de uma nordestina de rosto marcado por sulcos profundos e escolheu uma calcinha vermelha, uma preta aberta na frente e duas de renda.  “ Se levar meia dúzia, ganha uma de brinde ” , disse a vendedora, com os olhos iluminados pela esperança. Como na feira, pensou ele. Quem compra quatro pastéis leva um de brinde. Por toda parte, promoções para segurar freguês.

Meu Povo, Meu Poema, Ferreira Gullar

Meu povo e meu poema crescem juntos como cresce no fruto a árvore nova. No povo meu poema vai nascendo como no canavial nasce verde o açúcar No povo meu poema  está maduro como o sol na garganta do futuro Meu povo em meu poema se reflete como a espiga se funde em terra fértil Ao povo seu poema aqui devolvo  menos como quem canta do que planta. In:Gullar, Ferreira,Poemas,seleção de Alfredo Bosi, São Paulo,Global Editora 1983 Fotografia de: Marco Pimenta

Comentando: Duas Postagens e Uma Queixa: a intolerância

      N a ultima quarta-feira, postei uma  antiga crônica do jornalista Aluízio Falcão.  No texto, o autor  se diz intolerante à intolerância, o que justificou a praga que, mentalmente, jogou contra um casal que vinha falando mal de nordestinos quando cruzou com ele num parque em São Paulo .        A crônica, bem redigida, traz a situação muito  (crescente?) frequente  da intolerância ao diferente. Naquele caso, o diferente era ser nordestino. O casal vítima da praga não conseguia admitir algo fora do que determinou pra si como aceitável. Para os intolerantes do parque quem não puder ser identificado como paulistano, precisa ser afastado de seu campo de visão. Uma lástima!!        Na mesma quarta-feira, o blog da jornalista Suzana Valença   trouxe uma   matéria   interessantíssima sobre identidade. Na verdade sobre determinar e ou fechar-se numa identidade.       A jornalista quer falar sobre polarização, mas  trouxe antes  uma matéria com Johnnetta Cole,

Nordestinos em São Paulo, Aluízio Falcão.

      Leio uma publicação da ECA/USP com várias reportagens escritas por estudantes de jornalismo. O tema é a saga dos migrantes. Há depoimentos de intelectuais nordestinos residentes em São Paulo, mas principalmente daqueles anônimos viventes de periferia. Comove-me o testemunho de uma senhora que migrou em companhia da filha. Contando a estória, diz essa mãe-coragem que a sua menina, diante da miséria reinante no cafundó natal, assim propôs a retirada: "Mãe, vamos pra São Paulo, vamos lutar na vida". Não me lembro, em prosa brasileira, de registro mais bonito para o verbo lutar.      A onda migratória para os grandes centros tem vários intérpretes: antropólogos, sociólogos, romancistas, e até um vereador chamado Bruno Feder, autor daquele famigerado projeto que simplesmente proibia a entrada de nordestino em São Paulo. Muito já se analisou e escreveu, para o bem e para o mal, sobre os personagens desta humilhante diáspora. Nenhum intérprete do fenômeno, porém, saiu-

Faith No More, Mário Lúcio Sousa

  A fé nunca é demais se se transborda rega e invade. Sei que está comigo e que me fala:   não ouvi-la é transcendental. Ela me fala do outro lado do som   e toma formas efêmeras para agilizar a língua porque é a mesma forma que se vê dissímil                                        em cada forma. A cor pura necessita de luz pura   mas a luz tem as suas cores e ali estão, também efêmeras, porque é a mesma luz que se vê dissímil                                        em cada cor. Creio e vejo e tenho   só porque creio porque nem vejo nem tenho.   Tudo se me faz presente, tanto a construção da ponte como a sua ruína;   as batalhas ganhas ainda não começaram mas ganhas já, porque as creio assim. A distância toma o sentido contrário porque penso mais rápido do que a luz e   portanto, vejo antes de as coisas se definirem   para se deixarem ver o que são. Puro engano o contrário: o que é não se define, está definido. E pode ser visto sem que exista

Vai Querer? Estou vendendo...

Todos os livros estão à venda.  Contato através do Fale Comigo, do lado direito da tela.  Aguardo você. O Apocalipse dos Trabalhadores , Valter Hugo Mãe Alma , Manoel Alegre Uma Certa Paz , Amós Oz Um Brasileiro em Berlim, João Ubaldo Ribeiro  O Livro de Ouro da Mitologia , Thomas Bulfinch Água Mãe , José Lins do Rego Foco, A Atenção e Seu Papel Fundamental Para o Sucesso, DAniel Goleman O Texto, Ou, a Vida , Moacyr Scliar Rosellini Amou A Pensão de Dona Bombom ,  Cícero Belmar O Professor , Crstovão Tezza O Banqueiro dos Pobres, Mohammad Yunus Fora de Órbita , Woody Allen O Último Cabalista de Lisboa , Richard Zimler A Lei da Atração ( O segredo colocado em prática), Michael J. Losier A Morada do Ser , Marina Colasanti Memórias de Uma Beatnik, Diane Di Prima

Minha Fila Para Leitura

Brincávamos a Cair Nos Braços Um do Outro, Valter Hugo Mãe

brincávamos a cair nos braços um do outro, como faziam as actrizes nos filmes com o marlon brando, e depois suspirávamos e ríamos sem saber que habituávamos o coração à dor. queríamos o amor um pelo outro sem hesitações, como se a desgraça nos servisse bem e, a ver filmes, achávamos que o peito era todo em movimento e não sabíamos que a vida podia parar um dia. eu ainda te disse que me doíam os braços e que, mesmo sendo o rapaz, o cansaço chegava e instalava-se no meu poço de medo. tu rias e caías uma e outra vez à espera de acreditares apenas no que fosse mais imediato, quando os filmes acabavam, quando percebíamos que o mundo era feito de distância e tanto tempo vazio, tu ficavas muito feminina e abandonada e eu sofria mais ainda com isso. estavas tão  diferente de mim como se já tivesses partido e eu fosse apenas um local esquecido sem significado maior no teu caminho. tu dizias que se morrêssemos juntos entraríamos juntos no paraíso e querias culpar-me por ser

Esperança, Emily Dickinson e Mário Quintana

Esperança, Emily Dickinson    Esperança é a coisa com penas Que se empoleira na alma E canta um som sem palavras E nunca, mas nunca, pára, E mais doce é ouvido no vendaval; E dura precisa ser a tempestade Que poderia desanimar o passarinho Que mantém aquecidos a tantos. Já o ouvi nas terras mais geladas E nos mares mais estranhos, Entretanto nunca, mesmo no desespero, Ele pediu uma migalha a mim. (tradução: Luiz Felipe Coelho)

Depois do Terceiro Uísque, Aluízio Falcão

    Depois do terceiro uísque, qualquer paulista normal, com idade superior a trinta anos, passa a gostar de baladas de Roberto Carlos. A conclusão é também válida para acadêmicos de PUC/USP/UNICAMP, sociólogas descasadas, críticos pós modernos, jornalistas em geral.Dá-se, nesse momento, que o precioso líquido escocês, queimando nas fornalhas do metabolismo, ilumina uma zona escura de cérebro, onde secretamente habita nossa porção latino-brega. Afloram, de repente, canções baratas e adormecidas no inconsciente sob o véu de escrúpulos estéticos. Depois do terceiro uísque, ninguém é de ferro. Até o governador Mário Covas seria capaz de cantar, em lágrimas, "Os botões da blusa".       Não me perguntem detalhes da metodologia que usei par chegar a tais revelações. Este não é um texto científico e eu sou pago para escrevinhar amenidades. Não tenho comigo as planilhas. Mas, se a tanto for obrigado, posso exibi-las diante de um tribunal técnico. O máximo que faço hoje é con

Meninos, Juraildes de Cruz -Voz: Xangai

Vou pro campo No campo tem flores As flores tem mel Mas a noitinha estrelas no céu, no céu, no céu O céu, da boca da onça é escuro Não cometa, não cometa Não cometa furos Pimenta malagueta não é pimentão, tão, tão, tão Vou pro campo Acampar no mato No mato tem pato, gato, carrapato Canto de cachoeira Dentro dágua Pedrinhas redondas Quem não sabe nadar Não caia nessa onda Pois a cachoeira é funda É afunda Não sou tanajura mas eu crio asas, Com os vagalumes eu quero voar, voar, voar O céu estrelado hoje é minha casa Fica mais bonita quando tem luar, luar, luar Quero acordar com os passarinhos Cantar uma canção com o sabiá Dizem que verrugas são estrelas Que a gente conta Que a gente aponta Antes de dormir, dormir, dormir Eu tenho contato Mas não tem nascido Isso é estória de nariz comprido Deixe de mentir, mentir, mentir.. Os sete anões pequeninos Sete corações de meninos e a alma leve, leve, leve São folhas e flores ao vento O sorriso e o sentimento da Branca de Nev