De vez em quando a gente precisa abrir as gavetas do tempo, limpar os armários da memória e arejar a alma.
Se você olhar com atenção, é bem provável que encontre, dentro de si, sonhos empoeirados, acomodados uns sobre os outros, encostados em cantos escuros de seu íntimo. Por isso, é preciso arejar.
Com o passar do tempo, algumas gavetas podem ficar emperradas pelo desuso e pelo esquecimento e acabarem aprisionando possibilidades, ou improbabilidades, que se aquietaram à espera de um momento certo que nunca chegou ou, se chegou, passou despercebido.
Os pequenos sonhos são os mais fáceis de se perderem nessas gavetas, pois entram em frestas e se acomodam, esfarelam e acabam desaparecendo por completo. Se perdem com facilidade nos muitos porquês, nos severos nãos, nas amargas recusas e enferrujam, tristes, desacreditados, desesperançados.
Abrir as gavetas é olhar para dentro de si e compreender que somos mais feitos de sonhos do que imaginamos, pois são eles que nos impulsionam e nos tiram da inércia imposta pela inoperância e pelo comodismo. Mas sonhar também exige paciência, pois é apenas o primeiro passo para o realizar, a atitude é consequência da vontade. Não é comum alguém começar um novo hobbie ou trocar de profissão do dia para a noite, em um impulso repentino, impensado. Na maioria das vezes, as mudanças são fruto de um processo longo em que os sonhos são filtrados, decantados e curtidos em barris de esperança, saborizados com fragmentos de expectativa e desejo. Os sonhos se moldam à maneira como os conduzimos. Se acalmam, se apagam, desaparecem ou explodem rompendo rótulos e limites.
Quando ousamos abrir as portas que aprisionam nossos sonhos, um mundo novo e desconhecido se desnuda. E nos redimensiona. Permite que nossos saberes e certezas ganhem espaço para se alargarem, germinarem, frutificarem, procriarem. Sonho realizado vira realidade, e realidade impulsiona mais sonhos. O cíclico de ação e ideação, que irrompe barreiras muitas vezes criadas e alimentadas por assombros infundados ou incutidos em nós com o propósito velado de nos moldar, nos domar e nos fazer reféns do medo de ousar, de agir e nos manter reticentes. Arriscar-se é a maneira de garantir que nossos sonhos não se percam na poeira do esquecimento, que não se quebrem nos freios do medo, e que continuem vivos, pulsando, prontos para descobrir o mundo.
Por isso precisamos revisitar nossas gavetas, para nos certificarmos de que nossos sonhos guardados e empoeirados ainda estão lá, à espera de uma oportunidade para se tornarem reais, um impulso. Por que sonhar não é e nunca será um problema, o problema é manter os sonhos cativos por tanto tempo até que eles se esfarelem e desapareçam, deixando as gavetas vazias.
É sempre um prazer ter meus textos compartilhados nesse espaço.
ResponderExcluirExcelente texto. Não podemos desistir de nossos sonhos. É isso: abrir as gavetas e fazê-los acontecer
ResponderExcluirAdorei o texto, sensível e arrebatador. Temos que ter o hábito de revisar gavetas sempre!
ResponderExcluirMaravilhoso, amiga!
ResponderExcluirExcelente texto reflexivo...
ResponderExcluirEstava precisando ler isto!
ResponderExcluirPerfeito!!
ResponderExcluirPerfeito e verdadeiro!!
ResponderExcluirBela mensagem e texto muito bem elaborado. 10, parabéns!!!!
ResponderExcluirBela mensagem e texto muito bem elaborado. 10, parabéns!!!!
ResponderExcluirProfundo e tocante 🌷
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