- Querida! Ao pé do leito derradeiro,
- em que descansas desta longa vida,
- aqui venho e virei, pobre querida,
- trazer-te o coração de companheiro.
- Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
- que, a despeito de toda a humana lida,
- fez a nossa existência apetecida
- e num recanto pôs um mundo inteiro...
- Trago-te flores - restos arrancados
- da terra que nos viu passar unidos
- e ora mortos nos deixa e separados;
- que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
- pensamentos de vida formulados,
- são pensamentos idos e vividos.
- Sobre Carolina
- Uma mulher por trás de um gênio. Se houvesse uma biografia da esposa de Machado de Assis poderia ser esta. O livro de Carolina. Sua voz, sua origem, sua ambição. Um romance recheado de correspondências originais, e um toque de requinte em sua construção literária. Fica a imagem de Carolina junto ao escritor: corrigindo seus escritos, transcrevendo-os, vendo-os nascer, hoje, títulos notórios. Seriam as obras de Machado seus filhos não tidos?A portuguesa Carolina Augusta de Novaes Machado de Assis viveu por mais de trinta anos no Brasil. Foi uma mulher reconhecidamente culta, inteligente e discreta, e foi casada com Machado de Assis. Rosa Busnello é uma romancista. Gosta de pessoas que viveram nesse mundo, deixando-nos pistas para compor histórias, e Carolina foi perfeita para este fim. Pouco se sabe de sua vida em Portugal, e por isso a autora coloca esta versão como uma biografia improvável. Não há como comprová-la. No Brasil, a vida dessa mulher intrigante também foi marcada pela discrição, apesar de contarmos com várias histórias. Estas abrangem o namoro com Machado – de início malvisto pelos irmãos Novais –, os relatos de amigas e vizinhas, e seus trinta e cinco anos de companheirismo no casamento. As cartas e reflexões de Carolina que na obra aparecem são todas fictícias. As de Machado são todas verdadeiras, e formam parte do acervo público da ABL.Trecho“Faustino dizia ver vários espíritos. Mamãe era um dos frequentes. Até aquela tarde, não acreditava que pudesse haver algo real no que ele falava. Respondi-lhe, então, mais rapidamente do que desejava:– Que preto?– Machadinho.– Então diga a ela que ele não é preto. E que não vou me casar nunca. Todos sabem disso.– Ele é pardo. E quer você.”
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