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30 Melhores Livros Infantis de 2021, Revista Crescer

 Os melhores de 2021 -  de 6 meses a 4 anos:

Tralalá Tem Trem, Gilles Eduar
Jujuba Editora
A partir de 6 meses

 Em 2007, chega à França um livro sanfonado sobre um casamento um tanto maluco. A cerimônia propriamente dita não conseguimos ver, mas a diversão está em observar noivos e convidados na ida e na volta (no verso das páginas). Se na ida o leitor observa tudo contando de 1 a 10, na volta, a ressaca é clara, tudo parece um tanto bagunçado e o desafio é ver se os convidados estão todos no trem. 


A Caçada, Guilherme Karsten 
Harperkids/Leiturinha
A partir de 18 meses

A imagem da capa parece assustadora, e junto com o nome do livro, como prever algo bom? Encare mesmo assim, afinal, trata-se de uma obra de um autor que está conquistando prêmios aqui e fora do Brasil. Guilherme Karsten nos apresenta um sapo aflito na página esquerda e uma só palavra na da direita: “Corra.” Conforme continuamos a folhear, mais tensão, sempre no mesmo projeto gráfico, e uma porção de animais se escondendo de algo. Como uma boa obra ilustrada, a gente desconfia até o final que tem algo mais acontecendo...




Céumar Marcéu, Renato Moriconi
Jujuba Editora
A partir de 1 ano

Astronauta? Mergulhador? Vire mais páginas. Estrela do céu, estrela-do-mar? Mas é nuvem e é onda? Asa delta ou uma arraia? Há muitas maneiras de ler esta obra de Renato Moriconi, que vem ampliar a leitura das imagens e das formas de vermos o mundo. Mais ainda: sob a companhia da coleção Literatura de Colo, Moriconi transcende a ideia de como livros destinados a bebês podem relacionar uma palavra à imagem correspondente. É a criatividade que vale, é a viagem com lápis e tinta guache especial que o artista paulistano quer nos contar, do mar ao céu, ou do céu ao mar.


Bia e o Elefante Piquenique, Carolina Moreyra e Odilon Moraes
Jujuba Editora
A partir de 1 ano

A coelha Bia e o elefante chamado de “Elefante” são dois amigos que nós conhecemos em 2019, quando Carolina Moreyra e Odilon Moraes lançaram o primeiro livro dessa dupla de personagens que vem conquistando as famílias com bebês. Na obra inicial, o adulto percebia informações sobre opostos. Desta vez, há uma sutil intenção de colocar as crianças para brincar com os números. Bia e Elefante decidem fazer um piquenique e preparam os detalhes: almofadas fofinhas, bolinhos, sanduíches e muitas frutas. Embora o texto não se dedique a isso, a ilustração nos mostra a progressão numérica. Com um toque de humor o tempo todo, o final ainda reserva uma última surpresa!

A Baleia na Banheira, Susanne Straber
Tradução: Julia Bussius
Companhia das Letrinhas
A partir de 2 anos

A baleia estava em plena hora do banho, que maravilha, o que poderia atrapalhar? Que tal a chegada de uma tartaruga com dor nas costas? E um castor com muito frio? Um flamingo com as pernas sujas e até um urso incomodado por cheirar a peixe? Ah, neste conto cumulativo, vemos em texto e imagem detalhes tão incríveis quanto surreais. Depois de ir até o final, vale voltar e redescobrir a leitura e notar o que passou despercebido. A bagunça vai ser boa, e a baleia dará um jeito de acolher a todos. Cabe tudo na imaginação desta autora alemã premiada e que já conhecemos por Bem Lá no Alto e Muito Cansado e Bem Acordado.

Na Não, Gustavo Piqueira
Pulo do Gato
A partir de 2 anos

Sabe aquela fase em que não importa a pergunta a criança sempre diz “não”? Pois o personagem deste livro está assim: seja bolo, sorvete, brincar com os amigos, ir ao gira-gira, para tudo que se propõe ele vem com um “não”. Até que um dia, alguém se dá conta: e se o problema não for a resposta e, sim, a pergunta? Gustavo Piqueira, que ama experimentar jeitos diferentes de se fazer livro, estava num desses momentos com seu filho, Milo, e a ideia nasceu. Como design é seu lugar de arte, Piqueira – que, à frente da Casa Rex, já venceu mais de 500 prêmios internacionais de design – criou uma brincadeira entre texto e desenhos. 

O Menino Que Virou Chuva, Yuri de Francco e Renato Moriconi
Editora Caixote
A partir de 3 anos

A gente chove. Começa feito garoa, mas pode virar uma tempestade. Criança também chove. Mesmo pequena, tem um poder de virar furacão. Porque a sua intensidade não é medida pela razão. Nasce da vida vivida. E quando tem esse encontro de criança, adulto, choros e a sensação de que não vai passar? Como seguir? É por isso que um menino-chuva nasce no surpreendente livro de Yuri de Francco, estreando como escritor, e Renato Moriconi, premiado mestre da narrativa visual. E para além de uma proposta usual de leitura, o objeto gráfico cruza o comum virar de páginas com a aventura do flipbook (quando a velocidade cria a percepção de movimento). Tem de deixar chover bem para chegar ao final.

Três, Stephen Michael King
Tradução: Gilda de Aquino
Brinque-Book
A partir de 3 anos

O australiano Stephen Michael King, autor de O Homem Que Amava Caixas e Pedro e Tina tem lugar cativo nas estantes brasileiras desde os anos 1990. As relações e seus desdobramentos são um ponto em comum em suas narrativas e, desta vez, ele nos apresenta um cachorro de três patas que anda pela cidade a observar o modo de viver de outros seres, inclusive nós, os “duas-pernas”. O que ele não esperava, porém, era caminhar tanto até encontrar uma família e uma casa de onde ele não ia querer sair mais. Demorar nos detalhes dos desenhos, como em todos os livros dele, é um prazer sem fim.

É HojeLiliana Pardini
Edições Barbatana
A partir de 3 anos

O primeiro livro publicado da autora paulistana Liliana Pardini já deixa a gente instigado desde a capa. Vimos uma bicicleta. Mas ela está parada ou em movimento? Virando a capa, outra surpresa: as páginas estão enroladas como um caracol. Do lado esquerdo, uma casa; do outro, o começo de uma história de uma menina com uma missão secreta. O que fazer? “Desencaracolizar”, mesmo sabendo que esse verbo nem sequer existe. E aí aparece uma confeitaria, uma granja, uma padaria, uma outra casa e, pronto!, estamos em uma rua. E, se colocarmos o livro se equilibrando, “em pé”, fica como um minicenário para brincar, em que vemos a bicicleta em todas as partes, mas o segredo, só no final!

É o tambor de crioulaSonia Rosa e Mariana Massarani
Projeto Editora
A partir de 3 anos

“No meio da roda o tempo gira pra muito além do agora.” Esta é uma das frases mais comoventes e estimulantes deste novo título da carioca Sonia Rosa que, com o seu O Menino Nito, em 1995, marcou na história do livro para a infância quanto à representatividade negra, e não parou mais. Ao lado da ilustradora Mariana Massarani, nesta obra, ela vem homenagear o tambor de crioula, expressão do estado do Maranhão, reconhecida como patrimônio cultural brasileiro, em 2007. A história começa nos preparativos, a saia florida e rodada das mulheres, as mãos negras que preparam o tambor, os mais velhos que abençoam a todos. Depois, é dança pelo livro todo, até a hora de dormir! Detalhes sobre a dança em um paratexto no final.

O Pai da Mamãe, Cristiane Gomes e Odilon Moraes
Editora Caixote
A partir de 3 anos

É dia de praia, e a menina vai na melhor das companhias: o vovô. A conversa rola solta enquanto eles colocam o guarda-sol firme na areia, respiram fundo aproveitando o belo dia, fazem um castelo, experimentam o mar. Nas ilustrações de Odilon Moraes, cenas habituais para o leitor se identificar ou acessar a história de modo divertido. No texto de Cristiana Gomes (em seu primeiro livro), sabemos melhor que a neta está prestes a descobrir algo grandioso: quem é aquele pai da mamãe dela que tinha o cabelo marrom, usava gravata e a ensinou a nadar? Prepare-se para a ilustração final dessa história inesquecível para ser lida na companhia de várias infâncias.

Brasileirinhos da AmazôniaLalau e Laurabeatriz
Companhia das Letrinhas
A partir de 4 anos

A dupla Lalau e Laurabeatriz está há 27 anos nos encantando em dezenas de livros. Passar ileso a suas escritas é quase impossível, principalmente se tiver a vontade de ver como a arte pode tratar com leveza assuntos graves, como as barbaridades ambientais a que assistimos. As crianças os adoram, e 2020 foi a vez de conhecer poemas sobre bichos da Amazônia, como a anta-pretinha, o curica-urubu, o pirarucu. É lugar de descobrirmos que o jupará é semelhante aos macacos, que o sapo-ponta-de-flecha parece uma obra-prima abstrata. No final, outros animais à espera de poemas e uma lista de 13 parques nacionais na região. 


Clara e o homem na janela, María Teresa Andruetto e Martina Trach
Tradução: Lenice Bueno
Amelí Editora
A partir de 4 anos


A gente já começa a leitura alisando a capa, em relevo em um amarelo forte, onde vemos uma menina carregando uma cesta de roupas. Na primeira dupla, a argentina María Teresa Andruetto nos revela ser uma história sobre sua mãe. Os desenhos de Martina Trach, conterrânea da escritora, vão nos aproximando de uma aldeia, como um processo de zoom, e do cotidiano da família. O jogo de cores entre traços mais fortes e mais leves nos enlaça a um mistério do encontro que a menina tem com um cliente da mãe lavadeira. Da janela, ela vê uma parede de livros, e são eles que iniciam uma amizade em que a coragem vem de onde menos se espera.


A Princesa Kevin, Michael Escoffier e Roland Garrigue
Tradução: Lígia Ulian
Companhia das Letrinhas
A partir de 4 anos

Kevin é uma princesa e não importa se os outros tirarem sarro. “Quando nos fantasiamos é porque queremos ser outra pessoa. Senão, de que adianta se fantasiar?” Firme e forte, ele segue para a festa na escola. À procura de um cavaleiro, fica muito triste quando nota que os meninos o deixam sozinho, e é Chloé, a menina vestida de dragão, que o elogia. Kevin fica sem jeito e, já confiando nela, assume que está bem difícil aguentar os sapatos apertados. Que desafio ser princesa todos os dias! Os autores franceses usam a cor rosa de uma maneira bem criativa, da capa aos detalhes. Tudo faz sentido para a história.



Vida Em Marte, Jon Agee
Tradução: Ana Tavares
Pequena Zahar
A partir de 4 anos

Um destemido astronauta resolve, de uma vez por todas, entrar na missão de encontrar vida em Marte. Desce de sua espaçonave e explora o árido planeta. Enquanto viramos as páginas, o americano Jon Agee (mesmo autor de

O muro no meio do livro) vai jogando a leitura em um contraponto: o menino não vê nada, mas o leitor nota um ser gigante de olhos arregalados ao lado dele. Na certeza de que a missão não teve sucesso, o garoto apenas deixa uma caixinha com cupcakes, que pretendia dar de presente. Mas é quando ele tem a primeira surpresa: uma flor amarela no meio de tudo. A segunda? Só indo até o final.




E Foi Assim Que Eu e a Escuridão Ficamos Amigas, Emicida e Aldo Fabrini
Companhia das Letrinhas
A partir de 4 anos

“Papai, deixa uma luzinha!” era o que ela dizia sempre que a escuridão vinha. “Mamãe, me protege da claridão!” era o que a outra falava, quando o primeiro raio de sol brilhava. O grande rapper Emicida – que em 2020 nos emocionou com o filme e CD AmarElo – volta à parceria com Aldo Fabrini (de Amoras) para um belíssimo encontro entre texto e imagens para abordar a dualidade medo e coragem, aqui transformados em personagens marcantes. A partir da história de duas meninas, o poeta nos apresenta o medo como “um cara intrometido, entra sem ser chamado e chega convencido”, e a coragem, como a que “chega pequena como uma bobagem, vai ganhando voltagem”. No final, nos faz pensar: seria o medo necessário?  


Um Belo Lugar, Alexandre Rampazo
VR Editora
A partir de 4 anos

“Apenas a matéria vida era tão fina.” É assim, com a epígrafe de trecho de Cajuína, de Caetano Veloso, que Alexandre Rampazo abre esta narrativa. Um dos autores mais atuantes na nossa literatura para a infância traz uma viagem por meio da imagem de uma ave conhecida como “o pássaro da felicidade”, o grou. Ele vai voando a cada virar de páginas ao mesmo tempo em que, no texto, sabemos mais sobre a lenda de que ele levava as almas que partiam “para um belo lugar”. O narrador, então, tem um desejo de perpetuar a história. Uma vontade imensa de que pensar na morte seja valorizar cada vez mais a vida.


O Que Vamos Construir — Planos para o nosso futuro juntos,
Oliver Jeffers
Tradução: Yukari Fujimura
Salamandra
A partir de 4 anos

O irlandês Oliver Jeffers é um dos autores contemporâneos mais queridos do mundo. Estamos sempre à espera do próximo livro do escritor e, desta vez, ele traz uma comovente poesia em texto e imagem sobre a relação entre um pai e uma filha. No começo, o enredo supõe algo bem concreto: “o que vamos construir, você e eu?”. Mas, ao longo da história, nonsense e metáforas nos levam a outros pensamentos, pois há madeira, prego e martelo, claro; mas também contos clássicos e música. Afinal, como ele mesmo diz na dedicatória: “para a minha filha Mari (e vovó Marie). Temos muito a construir”. A obra Aqui Estamos Nós, que ele dedica ao primeiro filho, virou um best-seller mundial.

Carona, Guilherme Karsten
Companhia das Letrinhas

A partir de 4 anos

A brincadeira de decora ou adivinha, típica dos contos cumulativos, é um gênero de texto altamente estimulante como exercício de linguagem. Neste livro, Guilherme Karsten — nesta lista também com A Caçada — faz isso com uma sequência de personagens improváveis numa mesma história. Ele usa o jogo entre texto e imagem como poucos e não deixa a gente tirar os olhos das páginas. Tudo começa com um surfista que, rumo à praia, aceita dar carona a um mergulhador. O problema é que, depois, um herói — de capa e tudo — pede também. E então um jacaré, um ladrão, uma policial: confusão completa, carro abarrotado. Cheio de cores, humor e um vocabulário robusto, tornando essa viagem muito marcante.

Os melhores de 2021 de  5 a 7 anos:

Leotolda, Olga de Dios
Tradução: Monica Stahel
Boitatá/Boitempo
A partir de 5 anos

Os adoráveis Tuto, Catalina e Kasper hoje vão passar a tarde na casa da amiga Leotolda. Eles tocam, ninguém atende, mas, mesmo assim, entram. O mundo supercolorido que a espanhola Olga de Dios apresenta desde a capa vai tomando ainda mais formas e detalhes enquanto vemos o trio à procura da amiga. É aí que a viagem só se aprofunda: ela estaria dentro do armário cheio de dinossauros? Mas os animais indicam que ela pode estar no Parque das Sereias. Na praia ou na ilha? E, durante a aventura, há também uma baleia que engole muitas coisas, carneirinhos enumerados e mais. A maior beleza, no entanto, está no que a autora faz nas entrelinhas da história, que a gente só vai se dando conta no final, quando é hora de o leitor entrar de vez no livro!

Pode Chorar, Coração, Mas Fique Inteiro, Glenn Ringtved e Charlotte Pardi
Tradução: Caetano W. Galindo
Companhia das Letrinhas
A partir de 6 anos

Esta obra tem a morte não apenas como tema, mas como personagem principal. Ela já aparece logo no início, na companhia de quatro crianças. Adiante, vemos que a avó delas está bem doente. No andar de baixo, todas conversam. Os pequenos tentam ganhar tempo, servem café até a Morte não querer mais. A mais nova, então, pergunta por que ela quer levar sua avó, “se ela é a pessoa que a gente mais ama no mundo?”. É quando a indesejada visita conta uma comovente história e vemos que, na verdade, ela é uma admiradora da vida. Com tradução de Caetano Galindo, o texto costura delicadeza e certa franqueza, e as imagens o  enriquecem num movimento inesquecível.

O Incrivel Livro do Gildo, Silvana Rando
Brinque-book
A partir de 6 anos

Crianças amam criar seus próprios livros, de preferência livres e com muitas ideias diferentes. Mas se elas forem como Gildo, uau, é uma inspiração atrás da outra! O problema é que o elefante de Silvana Rando – já conhecido de outras histórias premiadas – vai ouvindo a opinião dos outros também e, quando vê, seus monstros já viraram bailarinos na floresta, atração de extraterrestres e até se tornaram exímios fazedores de bolo. Com medo de não ir na direção da expectativa de quem ama, ele desiste. Até que a barata Socorro, sua melhor amiga, lhe dá um importante conselho, e os desenhos ficam incríveis.

Sagatrissuinorana, João Luiz Guimarães e Nelson Cruz
Salamandra
ÔZé Editora
A partir de 6 anos

O título dá a grande dica: tem a ver com João Guimarães Rosa. Na ilustração, as montanhas das Minas Gerais e, abaixo, outra referência, um porquinho e uma casa de palha. A mistura é um dos pontos fascinantes deste livro de outro João (Luiz) Guimarães, vencedor do Prêmio Barco a Vapor, em 2016. Quando percebemos ser um reconto dos Três Porquinhos, ele nos localiza a “ruindade humana”, citando Rosa, “porque diabo não há”, frase de Grande Sertão: Veredas. E então, as tragédias de Mariana e Brumadinho inundam as páginas, com desenhos do premiado Nelson Cruz. Para pensarmos quanto o homem pode ser o lobo do lobo.

Maremoto, Flávia Reis e Elisa Carareto
ÔZé Editora

A partir de 6 anos

Feito para ser lido verticalmente, Maremoto vai, aos poucos e com bastante delicadeza, nos embalando como ondas. As autoras, num diálogo onírico entre texto e imagem, nos mostram sereias e tritões, seus hábitos, seus caminhos. O narrador ou narradora, no entanto, se coloca entre um e outro: “Já tenho o corpo dividido: metade humano, metade peixe. E tenho o sentimento dividido também”. Entre cantos e o som dos búzios, vamos acompanhando o conflito de alguém que olha para sua própria inquietação diante do que já está estabelecido, mas começa a elaborar um lugar para estar.

Todas as Passoas Contam, Kristin Roskfite
Tradução: Kristin Lie Garrubo
Companhia das Letrinhas

A partir de 6 anos.

No início era o zero, só animais e plantas. Depois, foram chegando um menino e seu bicho de dormir, depois ele encontra o pai, dividem algo especial, e são dois. E outras três pessoas sobem num pódio, depois quatro tocam em uma banda e... 12 estão em uma festa de aniversário, mas o que estão pensando? Outras 15 estão em um velório, mas com o que se preocupam? Vinte e duas estão em um prédio residencial, 23 estão numa prisão. O que elas têm em comum? A autora norueguesa cria uma viagem de traços, cores, números e identidades, indo além de qualquer conclusão prévia e nos encaminhando para refletir sobre o que todos querem quando desejam um mundo melhor.

A Máquina de Retrato, Lúcia Hiratsuka
Moderna
A partir de 6 anos


A paulista Lúcia Hiratsuka é uma espécie de mestre da delicadeza. Em seus traços, inspirados na arte do sumiê (técnica oriental de pintura), ela vem em dezenas de livros nos trazer histórias comoventes e cotidianas, em um ritmo próprio, sempre provocando muita emoção. Aqui, o narrador é um menino de roça que se apaixona por um objeto que nunca tinha visto antes: uma máquina de fotografar. Pede uma à mãe, que diz: “retrato tiramos na cidade”. O garoto, no entanto, quase nem ouve e segue na vontade de ter uma só para ele. Enquanto acompanhamos a saga dele pela câmera, passeamos com Lúcia por detalhes da paisagem de interior que ela nos oferta.

A Alma Perdida, Olga Tókarczuk e Joanna Concejo
Tradução: Gabriel Borowski 
Todavia

A partir de 6 anos

Relações entre o corpo e a alma ocupam grandes discussões nas religiões e na filosofia. Atribui-se a povos antigos contos que abordam um descompasso entre eles, e que a vida moderna desequilibra, sugerindo mais esta conexão: o corpo corre, a alma é lenta. O tema é tratado pelas polonesas Olga Tókarczuk (Nobel de Literatura em 2019) e Joanna Concejo, que já inovam no formato: uma série de páginas só com ilustrações, depois uma com texto corrido — o projeto gráfico segue assim. No enredo, um homem muito apressado acorda certa noite sem saber onde estava e em dúvida do próprio nome. Na consulta a uma médica, a surpresa: perdera a própria alma. O tratamento? Procurar um lugar “só para si” e esperar.

O Black Power de Akim, Kiusam de Oliveira e Rodrigo Andrade
Editora de Cultura

A partir de 7 anos

Akim tem cabelos crespos e problemas com os colegas da escola. Depois de um dia muito triste, Seu Dito, seu amoroso avô, vai confortá-lo. “Tenha orgulho de si mesmo”, diz. “Queria ser branco! Ninguém me acha bonito”, devolve o menino. Sábio, Seu Dito pega um berimbau, entoa uma ladainha e revela um tesouro: o garfo de marfim. O que sai dos cabelos crespos se ele chacoalhar a cabeça? É a ancestralidade africana, marca de Kiusam de Oliveira, sempre pronta para mostrar belezas contra o racismo. Os desenhos de Rodrigo Andrade engrandecem ainda mais o livro.

O Coração de Plástico, Lido Loschi e Anita Prades
ÔZé Editora

A partir de 7 anos

Era uma tia daquelas: fazia comida boa para todo mundo da família, desenhava abelhas gigantes nos cadernos. O coração, então, era imenso. Os sobrinhos, no entanto, ficaram apreensivos: souberam que a tia ia trocar o coração por um de plástico. “E para onde vai tudo que mora no coração dela?” O mote criado pelo ator mineiro Lido Loschi emociona a cada linha, jogando o leitor para uma forma de lidar com uma cirurgia de um jeito poético, típico das crianças. As ilustrações de Anita Prades parecem abraçar a história: em cinza, branco, azul e detalhes em vermelho-coração, elas propõem uma outra relação com este sensível enredo para falar de amor.

Obrigado, André Neves
Pulo do Gato
A partir de 7 anos

“A arte existe porque a vida não basta.” A citação a Ferreira Gullar abre o mais recente livro do pernambucano André Neves, que completou 25 anos de carreira, em 2020. Na primeira dupla de desenhos, um menino convida o leitor a embarcar numa viagem inesquecível para conhecer 15 poetas brasileiros. Não se trata de uma coletânea, mas uma criação poética em textos e imagens de André homenageando seus preferidos. Vem Manuel Bandeira brincante, João Cabral tecendo madrugadas, um batuque a Cruz e Sousa, um afeto a cheiro doce entre mulheres com Cora Coralina, uma coluna de palavras e possibilidades com Cecília Meirelles... As imagens parecem quadros, mais comoventes e mais fortes a cada novo virar de páginas.




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