Os melhores de 2021 - de 6 meses a 4 anos:
Tralalá Tem Trem, Gilles EduarJujuba Editora
A partir de 6 meses
Em 2007, chega à França um livro sanfonado sobre um casamento um tanto maluco. A cerimônia propriamente dita não conseguimos ver, mas a diversão está em observar noivos e convidados na ida e na volta (no verso das páginas). Se na ida o leitor observa tudo contando de 1 a 10, na volta, a ressaca é clara, tudo parece um tanto bagunçado e o desafio é ver se os convidados estão todos no trem.
A Caçada, Guilherme Karsten
Harperkids/Leiturinha
A partir de 18 meses
Céumar Marcéu, Renato Moriconi
Jujuba Editora
A partir de 1 ano
Bia e o Elefante Piquenique, Carolina Moreyra e Odilon Moraes
Jujuba Editora
A partir de 1 ano
A coelha Bia e o elefante chamado de “Elefante” são dois amigos que nós conhecemos em 2019, quando Carolina Moreyra e Odilon Moraes lançaram o primeiro livro dessa dupla de personagens que vem conquistando as famílias com bebês. Na obra inicial, o adulto percebia informações sobre opostos. Desta vez, há uma sutil intenção de colocar as crianças para brincar com os números. Bia e Elefante decidem fazer um piquenique e preparam os detalhes: almofadas fofinhas, bolinhos, sanduíches e muitas frutas. Embora o texto não se dedique a isso, a ilustração nos mostra a progressão numérica. Com um toque de humor o tempo todo, o final ainda reserva uma última surpresa!
A Baleia na Banheira, Susanne Straber
Tradução: Julia Bussius
A partir de 2 anos
A baleia estava em plena hora do banho, que maravilha, o que poderia atrapalhar? Que tal a chegada de uma tartaruga com dor nas costas? E um castor com muito frio? Um flamingo com as pernas sujas e até um urso incomodado por cheirar a peixe? Ah, neste conto cumulativo, vemos em texto e imagem detalhes tão incríveis quanto surreais. Depois de ir até o final, vale voltar e redescobrir a leitura e notar o que passou despercebido. A bagunça vai ser boa, e a baleia dará um jeito de acolher a todos. Cabe tudo na imaginação desta autora alemã premiada e que já conhecemos por Bem Lá no Alto e Muito Cansado e Bem Acordado.
Na Não, Gustavo Piqueira
Pulo do Gato
A partir de 2 anos
Sabe aquela fase em que não importa a pergunta a criança sempre diz “não”? Pois o personagem deste livro está assim: seja bolo, sorvete, brincar com os amigos, ir ao gira-gira, para tudo que se propõe ele vem com um “não”. Até que um dia, alguém se dá conta: e se o problema não for a resposta e, sim, a pergunta? Gustavo Piqueira, que ama experimentar jeitos diferentes de se fazer livro, estava num desses momentos com seu filho, Milo, e a ideia nasceu. Como design é seu lugar de arte, Piqueira – que, à frente da Casa Rex, já venceu mais de 500 prêmios internacionais de design – criou uma brincadeira entre texto e desenhos.
O Menino Que Virou Chuva, Yuri de Francco e Renato Moriconi
Editora Caixote
A partir de 3 anos
A gente chove. Começa feito garoa, mas pode virar uma tempestade. Criança também chove. Mesmo pequena, tem um poder de virar furacão. Porque a sua intensidade não é medida pela razão. Nasce da vida vivida. E quando tem esse encontro de criança, adulto, choros e a sensação de que não vai passar? Como seguir? É por isso que um menino-chuva nasce no surpreendente livro de Yuri de Francco, estreando como escritor, e Renato Moriconi, premiado mestre da narrativa visual. E para além de uma proposta usual de leitura, o objeto gráfico cruza o comum virar de páginas com a aventura do flipbook (quando a velocidade cria a percepção de movimento). Tem de deixar chover bem para chegar ao final.
Três, Stephen Michael King
Tradução: Gilda de Aquino
Brinque-Book
A partir de 3 anos
O australiano Stephen Michael King, autor de O Homem Que Amava Caixas e Pedro e Tina tem lugar cativo nas estantes brasileiras desde os anos 1990. As relações e seus desdobramentos são um ponto em comum em suas narrativas e, desta vez, ele nos apresenta um cachorro de três patas que anda pela cidade a observar o modo de viver de outros seres, inclusive nós, os “duas-pernas”. O que ele não esperava, porém, era caminhar tanto até encontrar uma família e uma casa de onde ele não ia querer sair mais. Demorar nos detalhes dos desenhos, como em todos os livros dele, é um prazer sem fim.
A partir de 3 anos
A partir de 3 anos
O Pai da Mamãe, Cristiane Gomes e Odilon Moraes
Editora Caixote
A partir de 3 anos
É dia de praia, e a menina vai na melhor das companhias: o vovô. A conversa rola solta enquanto eles colocam o guarda-sol firme na areia, respiram fundo aproveitando o belo dia, fazem um castelo, experimentam o mar. Nas ilustrações de Odilon Moraes, cenas habituais para o leitor se identificar ou acessar a história de modo divertido. No texto de Cristiana Gomes (em seu primeiro livro), sabemos melhor que a neta está prestes a descobrir algo grandioso: quem é aquele pai da mamãe dela que tinha o cabelo marrom, usava gravata e a ensinou a nadar? Prepare-se para a ilustração final dessa história inesquecível para ser lida na companhia de várias infâncias.
Tradução: Lenice Bueno
Amelí Editora
A partir de 4 anos
Tradução: Lígia Ulian
Companhia das Letrinhas
A partir de 4 anos
Pequena Zahar
A partir de 4 anos
O muro no meio do livro) vai jogando a leitura em um contraponto: o menino não vê nada, mas o leitor nota um ser gigante de olhos arregalados ao lado dele. Na certeza de que a missão não teve sucesso, o garoto apenas deixa uma caixinha com cupcakes, que pretendia dar de presente. Mas é quando ele tem a primeira surpresa: uma flor amarela no meio de tudo. A segunda? Só indo até o final.
Companhia das Letrinhas
A partir de 4 anos
VR Editora
O Que Vamos Construir — Planos para o nosso futuro juntos, Oliver Jeffers
Tradução: Yukari Fujimura
Salamandra
A partir de 4 anos
O irlandês Oliver Jeffers é um dos autores contemporâneos mais queridos do mundo. Estamos sempre à espera do próximo livro do escritor e, desta vez, ele traz uma comovente poesia em texto e imagem sobre a relação entre um pai e uma filha. No começo, o enredo supõe algo bem concreto: “o que vamos construir, você e eu?”. Mas, ao longo da história, nonsense e metáforas nos levam a outros pensamentos, pois há madeira, prego e martelo, claro; mas também contos clássicos e música. Afinal, como ele mesmo diz na dedicatória: “para a minha filha Mari (e vovó Marie). Temos muito a construir”. A obra Aqui Estamos Nós, que ele dedica ao primeiro filho, virou um best-seller mundial.
Carona, Guilherme KarstenCompanhia das Letrinhas
A partir de 4 anos
A brincadeira de decora ou adivinha, típica dos contos cumulativos, é um gênero de texto altamente estimulante como exercício de linguagem. Neste livro, Guilherme Karsten — nesta lista também com A Caçada — faz isso com uma sequência de personagens improváveis numa mesma história. Ele usa o jogo entre texto e imagem como poucos e não deixa a gente tirar os olhos das páginas. Tudo começa com um surfista que, rumo à praia, aceita dar carona a um mergulhador. O problema é que, depois, um herói — de capa e tudo — pede também. E então um jacaré, um ladrão, uma policial: confusão completa, carro abarrotado. Cheio de cores, humor e um vocabulário robusto, tornando essa viagem muito marcante.
Os melhores de 2021 de 5 a 7 anos:
Os adoráveis Tuto, Catalina e Kasper hoje vão passar a tarde na casa da amiga Leotolda. Eles tocam, ninguém atende, mas, mesmo assim, entram. O mundo supercolorido que a espanhola Olga de Dios apresenta desde a capa vai tomando ainda mais formas e detalhes enquanto vemos o trio à procura da amiga. É aí que a viagem só se aprofunda: ela estaria dentro do armário cheio de dinossauros? Mas os animais indicam que ela pode estar no Parque das Sereias. Na praia ou na ilha? E, durante a aventura, há também uma baleia que engole muitas coisas, carneirinhos enumerados e mais. A maior beleza, no entanto, está no que a autora faz nas entrelinhas da história, que a gente só vai se dando conta no final, quando é hora de o leitor entrar de vez no livro!
Pode Chorar, Coração, Mas Fique Inteiro, Glenn Ringtved e Charlotte Pardi
Tradução: Caetano W. Galindo
Companhia das Letrinhas
A partir de 6 anos
Esta obra tem a morte não apenas como tema, mas como personagem principal. Ela já aparece logo no início, na companhia de quatro crianças. Adiante, vemos que a avó delas está bem doente. No andar de baixo, todas conversam. Os pequenos tentam ganhar tempo, servem café até a Morte não querer mais. A mais nova, então, pergunta por que ela quer levar sua avó, “se ela é a pessoa que a gente mais ama no mundo?”. É quando a indesejada visita conta uma comovente história e vemos que, na verdade, ela é uma admiradora da vida. Com tradução de Caetano Galindo, o texto costura delicadeza e certa franqueza, e as imagens o enriquecem num movimento inesquecível.
O Incrivel Livro do Gildo, Silvana RandoBrinque-book
A partir de 6 anos
Crianças amam criar seus próprios livros, de preferência livres e com muitas ideias diferentes. Mas se elas forem como Gildo, uau, é uma inspiração atrás da outra! O problema é que o elefante de Silvana Rando – já conhecido de outras histórias premiadas – vai ouvindo a opinião dos outros também e, quando vê, seus monstros já viraram bailarinos na floresta, atração de extraterrestres e até se tornaram exímios fazedores de bolo. Com medo de não ir na direção da expectativa de quem ama, ele desiste. Até que a barata Socorro, sua melhor amiga, lhe dá um importante conselho, e os desenhos ficam incríveis.
O título dá a grande dica: tem a ver com João Guimarães Rosa. Na ilustração, as montanhas das Minas Gerais e, abaixo, outra referência, um porquinho e uma casa de palha. A mistura é um dos pontos fascinantes deste livro de outro João (Luiz) Guimarães, vencedor do Prêmio Barco a Vapor, em 2016. Quando percebemos ser um reconto dos Três Porquinhos, ele nos localiza a “ruindade humana”, citando Rosa, “porque diabo não há”, frase de Grande Sertão: Veredas. E então, as tragédias de Mariana e Brumadinho inundam as páginas, com desenhos do premiado Nelson Cruz. Para pensarmos quanto o homem pode ser o lobo do lobo.
Maremoto, Flávia Reis e Elisa CararetoÔZé Editora
A partir de 6 anos
Feito para ser lido verticalmente, Maremoto vai, aos poucos e com bastante delicadeza, nos embalando como ondas. As autoras, num diálogo onírico entre texto e imagem, nos mostram sereias e tritões, seus hábitos, seus caminhos. O narrador ou narradora, no entanto, se coloca entre um e outro: “Já tenho o corpo dividido: metade humano, metade peixe. E tenho o sentimento dividido também”. Entre cantos e o som dos búzios, vamos acompanhando o conflito de alguém que olha para sua própria inquietação diante do que já está estabelecido, mas começa a elaborar um lugar para estar.
A partir de 6 anos.
No início era o zero, só animais e plantas. Depois, foram chegando um menino e seu bicho de dormir, depois ele encontra o pai, dividem algo especial, e são dois. E outras três pessoas sobem num pódio, depois quatro tocam em uma banda e... 12 estão em uma festa de aniversário, mas o que estão pensando? Outras 15 estão em um velório, mas com o que se preocupam? Vinte e duas estão em um prédio residencial, 23 estão numa prisão. O que elas têm em comum? A autora norueguesa cria uma viagem de traços, cores, números e identidades, indo além de qualquer conclusão prévia e nos encaminhando para refletir sobre o que todos querem quando desejam um mundo melhor.
A paulista Lúcia Hiratsuka é uma espécie de mestre da delicadeza. Em seus traços, inspirados na arte do sumiê (técnica oriental de pintura), ela vem em dezenas de livros nos trazer histórias comoventes e cotidianas, em um ritmo próprio, sempre provocando muita emoção. Aqui, o narrador é um menino de roça que se apaixona por um objeto que nunca tinha visto antes: uma máquina de fotografar. Pede uma à mãe, que diz: “retrato tiramos na cidade”. O garoto, no entanto, quase nem ouve e segue na vontade de ter uma só para ele. Enquanto acompanhamos a saga dele pela câmera, passeamos com Lúcia por detalhes da paisagem de interior que ela nos oferta.
A Alma Perdida, Olga Tókarczuk e Joanna ConcejoTradução: Gabriel Borowski
Todavia
A partir de 6 anos
Relações entre o corpo e a alma ocupam grandes discussões nas religiões e na filosofia. Atribui-se a povos antigos contos que abordam um descompasso entre eles, e que a vida moderna desequilibra, sugerindo mais esta conexão: o corpo corre, a alma é lenta. O tema é tratado pelas polonesas Olga Tókarczuk (Nobel de Literatura em 2019) e Joanna Concejo, que já inovam no formato: uma série de páginas só com ilustrações, depois uma com texto corrido — o projeto gráfico segue assim. No enredo, um homem muito apressado acorda certa noite sem saber onde estava e em dúvida do próprio nome. Na consulta a uma médica, a surpresa: perdera a própria alma. O tratamento? Procurar um lugar “só para si” e esperar.
O Black Power de Akim, Kiusam de Oliveira e Rodrigo AndradeEditora de Cultura
A partir de 7 anos
Akim tem cabelos crespos e problemas com os colegas da escola. Depois de um dia muito triste, Seu Dito, seu amoroso avô, vai confortá-lo. “Tenha orgulho de si mesmo”, diz. “Queria ser branco! Ninguém me acha bonito”, devolve o menino. Sábio, Seu Dito pega um berimbau, entoa uma ladainha e revela um tesouro: o garfo de marfim. O que sai dos cabelos crespos se ele chacoalhar a cabeça? É a ancestralidade africana, marca de Kiusam de Oliveira, sempre pronta para mostrar belezas contra o racismo. Os desenhos de Rodrigo Andrade engrandecem ainda mais o livro.
A partir de 7 anos
Era uma tia daquelas: fazia comida boa para todo mundo da família, desenhava abelhas gigantes nos cadernos. O coração, então, era imenso. Os sobrinhos, no entanto, ficaram apreensivos: souberam que a tia ia trocar o coração por um de plástico. “E para onde vai tudo que mora no coração dela?” O mote criado pelo ator mineiro Lido Loschi emociona a cada linha, jogando o leitor para uma forma de lidar com uma cirurgia de um jeito poético, típico das crianças. As ilustrações de Anita Prades parecem abraçar a história: em cinza, branco, azul e detalhes em vermelho-coração, elas propõem uma outra relação com este sensível enredo para falar de amor.
Obrigado, André NevesPulo do Gato
A partir de 7 anos
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