
XXI
do trem-de-ferro
Quem grita na noite?
Não vejo ninguém,
é o eco do grito do apito do trem, é a boca-da-noite que grita também, é o eco do eco que ecoa no além. Quem grita na noite? Não vejo ninguém, é o grito da ponte debaixo do trem, é o vento que chora por morte de alguém, é o coro das almas que dizem amém. Quem grita na noite? Não vejo ninguém, é a boca-do-túnel na frente do trem, é o grito sem grito de um eco que vem dos montes que aos montes ecoam mais cem. Quem grita na noite? Não vejo ninguém, é o sonho-barulho das rodas do trem, é a luz de uma estrela que tange belém no sino-silêncio que a noite não tem. Quem grita na noite? Não grita ninguém, é o trem dos fantasmas nos trilhos sem trem, é a voz dos dormentes que às vezes contém o grito da vida que a morte detém.
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LXIX
— A ILha é bela dela eu fui filha trilha por trilha trilhei por ela quando era aquela espiga-de-ouro que o vento louro me havia as queixas entre as bochechas feito um besouro. Fui sem partir vim sem voltar (neste lugar ficar é ir) pude seguir graças à brisa que aqui desliza e às cabras-cegas curva as bonecas penteia e alisa. Do Sul ao Norte Oeste a Leste a Ilha veste sua cor forte de um verde corte dágua do mar e sobre o ar pesa um céu nu que é tão azul de se chorar. Além das canas seus altos mastros tocam nos astros que têm pestanas crescem lianas da terra aos sóis e entre cipós sobem os pensos jardins suspensos de girassóis. O tempo gira pelo contrário (ai, mundo-vário ai, mundo-vira) nada é mentira tudo é verdade quando é de tarde o galo canta e o sol levanta com a claridade. Mas quanto ao Bicho que dizer dele? — Sou eu ou ele encolho ou espicho no meu capricho meio-animal. — Ele é fatal mas nesta Ilha toda a luz brilha contra o seu mal. |
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