Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2017

País Estrangeiro, Lêda Rivas

A vida que passa na rua é história que não vejo A palavra é código, mistério, sem solução, sem remédio A solidão dói na alma Que língua é essa que fala a multidão no meu tédio? Tua ausência faz de mim um país estrangeiro O medo de voar é maior do que a ânsia de tocar as estrelas A própria face se perde na imensidão dos espelhos Que mundo é esse que enxergo na escuridão do degredo? Que rumo é esse que traçam os seres extraterrenos? Que punhal o que me corta, dilacerando-me o peito? Que fogo é esse que arde e me consome por inteiro? Tua ausência faz de mim um país estrangeiro. (Recife, 20 de fevereiro de 1996) Nota: texto e imagem foram gentilmente cedidos por Lêda Rivas

A Volta, Marcos Cirano

Trinta e sete anos depois, quando voltei pela primeira vez a minha cidade, só então descobri que aquela já não era mais a minha cidade. De tudo o que ali deixei, quase nada mais existia. As pessoas, também quase todas, não eram aquelas mesmas pessoas com as quais eu vivera sonhos e fantasias, vitórias e derrotas, tristezas e glórias... E, foi aí que me abateu uma gelada melancolia... Não é que não havia grandes explosões de vida naquela cidade que agora eu encontrava. Nem que eu quisesse que tudo tivesse permanecido estático, exatamente igual como nos tempos de quando ali vivi. Não é isso!... É que eu gostaria que, pelo menos, algumas daquelas coisas que várias gerações passadas construíram (e foi com tanto sacrifício!) existissem para sempre – ou para quase sempre, como se estivessem ali a dizer: - Olhem, foi assim que tudo começou!... E o que hoje eu mais queria de volta da minha velha cidade?... Simples! Primeiro, eu gostaria que devolvessem o charmoso prédio do cinema

Inversão de Racismo, Rogaciano Leite

Amor não é racista..." — Ela dizia, Quando em beijos ardentes me abrasava. Ao seu peito, nervosa, me apertava, Ao meu peito, nervoso, eu lhe prendia. Era noite na praia. Ninguém via Aquele par que se beijando estava... Nos braços do cristão — ela sonhava! E eu sonhava — nos braços da judia! No templo azul daquela noite calma Eu lhe dei uma Pátria, na minh'alma, E ela deu-me, em su'alma, a Canaã... Desde então o racismo se inverteu: — Vivo pensando que fiquei judeu, E ela jurando que ficou cristã! Santos, 16/08/1950. Sobre Rogaciano Leite leia aqui. Imagem: Arte  Origami

A Filha da Lavadeira, Antônio Neto

     Olhando as águas que vencem a resistência das pedras, infiltrando-se nas frinchas rochosas, a correnteza conduz o olhar do observador aos locais de remanso, onde as pedras — generosas — quase que formam pequenos tanques nos quais as lavadeiras vêm tirar o seu sustento nas águas do Rio Vermelho.      Quantas mulheres da Cidade de Goiás não recorreram às águas samaritanas do Rio Vermelho para tirar sustento para a família, depois que o marido migrou, em busca de sonhos; arranjou outra família, esquecendo a primeira; ou amasiou-se com a cachaça, entregando-se totalmente aos seus caprichos?      Lavadeiras de Goiás Velho, mulheres-água. A lavadeira traz consigo a aura da penitência. Cumprem sina. Desafiam as dificuldades, os preconceitos, a carestia, os abandonos. Falta tudo à lavadeira, menos uma palavra bendita na boca, um “Deus abençoe!”, um “Deus lhe pague!”, e um “Bom dia!”, que vencem as trevas do pessimismo.       Balbina é filha de lavadeira. O pai arr

Moonlight Shadow, Mike Oldfield

Sem nenhuma ideia para o poema desta segunda-feira, resolvi trazer a música Moonlight Shadow de Mike Oldfield que nomeia a terceira parte do livro que estou lendo no momento: Kitchen de Banana Yoshimoto . The last that ever she saw him Carried away by a moonlight shadow He passed on worried and warning Carried away by a moonlight shadow. Lost in a riddle that saturday night Far away on the other side. He was caught in the middle of a desperate fight And she couldn't find how to push through The trees that whisper in the evening Carried away by a moonlight shadow Sing a song of sorrow and grieving Carried away by a moonlight shadow All she saw was a silhouette of a gun Far away on the other side. He was shot six times by a man on the run And she couldn't find how to push through I stay, I pray See you in heaven far away I stay, I pray See you in heaven one day Four am in the morning Carried away by a moonlight

LivroErrante: Para Você Que Não Conhece.

     Além deste blog que existe há 9 anos, LivroErrante é também um grupo de leitura entre pessoas que moram em cidades distantes. Faço parte desse grupo que foi criado no Orkut e está seletíssimo e muito ativo no Facebook.       Neste momento vários livros estão saindo de uma leitora ou chegando à casa de outra em São Paulo, Piracicaba, Recife, João Pessoa, Rio de janeiro, Goiânia, Divinópolis, Brasília ou Fortaleza.       Para vocês morrerem de inveja, olhem os livros que estão circulando entre 15 leitoras vorazes:      Estou terminando de ler Mil Dias Em Veneza que veio de Piracicaba e segue para Fortaleza. Ontem Mulheres de Cinzas foi enviado para João Pessoa e depois segue para São Paulo. ...      Bem, como disse, todos esses títulos foram oferecidos pelas integrantes do LivroErrante, o grupinho fera em leitura e amizade. Leia o blog no facebook clicando aqui                      Assessoria de imprensa, consultoria, mídias digitais: contrate

Erro, Machado de Assis

Erro é teu. Amei-te um dia Com esse amor passageiro Que nasce na fantasia E não chega ao coração; Não foi amor, foi apenas Uma ligeira impressão; Um querer indiferente, Em tua presença, vivo, Morto, se estavas ausente, E se ora me vês esquivo, Se, como outrora, não vês Meus incensos de poeta Ir eu queimar a teus pés, É que, — como obra de um dia, Passou-me essa fantasia. Para eu amar-te devias Outra ser e não como eras. Tuas frívolas quimeras, Teu vão amor de ti mesma, Essa pêndula gelada Que chamavas coração, Eram bem fracos liames Para que a alma enamorada Me conseguissem prender; Foram baldados tentames, Saiu contra ti o azar, E embora pouca, perdeste A glória de me arrastar Ao teu carro… Vãs quimeras! Para eu amar-te devias Outra ser e não como eras… (Crisálidas – 1864) Caricatura de Kácio Assessoria de imprensa, m í dias digitais, pr oduç ã o de conte údo ? Contrat e

Segredo, Paulo Mendes Campos.

            Há muitas coisas que a psicologia não nos explica. Suponhamos que você esteja em um 12º andar, em companhia de amigos, e, debruçando-se à janela, distinga lá em baixo, inesperada naquele momento, a figura de seu pai, procurando atravessar a rua ou descansando em um banco diante do mar. Só isso. Por que, todo esse alvoroço que visita a sua alma de repente, essa animação provocada pela presença distante de uma pessoa de sua intimidade? Você chamará os amigos para mostrar-lhes o vulto de traços fisionômicos invisíveis: " Aquele ali é meu pai". E os amigos também hão de sorrir, quase enternecidos, participando um pouco de sua glória pois é inexplicavelmente tocante ser amigo de alguém cujo pai se encontra longe, fora do alcance do seu chamado.      Outro exemplo: você ama e sofre por causa de uma pessoa e com ela se encontra todos os dias. Por que então, quando esta pessoa aparece à distância, em hora desconhecida aos seus encontros, em uma praça, em uma praia