Pular para o conteúdo principal

Matutando O Que É Você, César Feitoza

Matutando o que é você
Em meu quarto eu estava tão demente
Numa tarde sem ter o que fazer
Em você eu pensei tão docemente
E sobre o que eu queria te dizer
Sobre como eu, matuto, poderia
Declarar de uma vez o que eu sentia
Dei por mim: só faltava o que e o quando
Pois o como seria versejando
Um rimar matutando o que é você
Você é caminhão de tripa assada
Com mais duas carretas de farinha
Você é acordar de manhãzinha
Escutando o cantar da passarada
Você é o amor de madrugada
Provocando a insônia dos amantes
Você é o fervor dos viajantes
A buscar o abraço da chegada
Você é comer queijo e mel de engenho
Sob a fresca sombrura do umbuzeiro
Você é projeção mental do cheiro
Da lembrança mais bela que eu tenho
Você é a alegria em cor brejeira
Morenando demais meus pensamentos
Você é a tristeza em meus lamentos
Como um pátio vazio ao fim da feira
Você é sussurrar bem de mansinho
Num ouvido palavras de amor
Você é o cantar do aboiador
Indicando à boiada o caminho
Você é meu calor no inverno frio
Chuvarada na terra esturricada
Saparia cantando na invernada
De paixão é sentir o arrepio
Você é querer bem de bem querente
Cafungado fungado no cangote
Você é a razão desse meu mote
És de mim tão igual e diferente
Você é a lapada com caldinho
Que eu tomo pensando em você
É paixão que acalento sem querer
Pois não queres seguir o meu caminho
Você é tudo aquilo que eu diria
E não disse talvez por esquecer
Você é meu espelho em outro ser
Espelhando de bom o que eu queria
Você é histeria e é prazer
Ao se ver à primeira vez o mar
Sua luz me inspira a rimar
Um rimar matutando o que é você.

Agradeço a colaboração do professor César Feitoza que me enviou esta poesia.

Comentários

  1. Que bela declaração de amor! Ótima postagem Regina, beijinhos, Ladyce

    ResponderExcluir

Postar um comentário

comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Aprenda a Chamar a Polícia, Luis Fernando Veríssimo

          Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.                   Como minha casa era muito segura, com  grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali,espiando tranquilamente. Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.            Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível. Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: - Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guard