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Mostrando postagens de abril, 2012

Matutando O Que É Você, César Feitoza

Matutando o que é você Em meu quarto eu estava tão demente Numa tarde sem ter o que fazer Em você eu pensei tão docemente E sobre o que eu queria te dizer Sobre como eu, matuto, poderia Declarar de uma vez o que eu sentia Dei por mim: só faltava o que e o quando Pois o como seria versejando Um rimar matutando o que é você Você é caminhão de tripa assada Com mais duas carretas de farinha Você é acordar de manhãzinha Escutando o cantar da passarada Você é o amor de madrugada Provocando a insônia dos amantes Você é o fervor dos viajantes A buscar o abraço da chegada Você é comer queijo e mel de engenho Sob a fresca sombrura do umbuzeiro Você é projeção mental do cheiro Da lembrança mais bela que eu tenho Você é a alegria em cor brejeira Morenando demais meus pensamentos Você é a tristeza em meus lamentos Como um pátio vazio ao fim da feira Você é sussurrar bem de mansinho Num ouvido palavras de amor Você é o cantar do aboiador

Crônica cantada:Benvinda - Chico Buarque

Para Inglês Ver, Fernando Sabino

    Tenho de ir a bordo de um navio inglês despedir-me de um amigo. Pois nada mais fácil: basta passar na Polícia Marítima e tirar a respectiva licença.     A Polícia Marítima é ali na estação rodoviária: pego o elevador e subo até lá. Encontro uma funcionária tranquila e muito boazinha à minha espera. Está ali para isso, inteiramente às minhas ordens. É paga para servir-me.     -Desejo ir a bordo de um navio - explico.     - O senhor tem carteira de identidade?     Tenho: já fui fichado e sujei os dedos de tinta, como um criminoso qualquer - em Minas Gerais, já se vão alguns séculos. O retratinho positivamente é de outra pessoa: um jovem magro, de olhos assustados para a objetiva e para a vida.     A moça pega a minha carteira, olha, deixa em cima da mesa e então vai no fundo da sala consultar um sujeito, provavelmente chefe dela. Ao fim de meia hora de consulta começo a perder a paciência e vou até lá para saber qual é o embaraço. Não há embaraço algum, me explicam com um sorriso, es

Soneto, Florbela Espanca

Leia sobre a autora, clicando aqui Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem julguei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar ... Se as minhas mãos as garras se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar... - Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar! Minha alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus! O amor dum homem? - Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada... Um homem? - quando eu sonho o amor dum Deus! ...

Crônica cantada:Ex My Love - Gaby Amarantos

A Mala, Sergei Dovlátov

     Na Seção de Vistos e Registros, a cadela me diz:      - Cada passageiro tem direito a três malas. Esta é a norma. É a instrução especial do ministério.      Não fazia sentido contra-argumentar. Mas, é claro, contra-argumentei:      - Só três malas?! E o que fazer com as coisas?      - Por exemplo?      - Por exemplo, a minha coleção de carrinhos de corrida.      - Venda - replicou, sem dar atenção, a burocrata.      Depois acrescentou, franzindo um pouco a testa:      - Se o senhor não estiver satisfeito com alguma coisa, redija uma reclamação.      - Estou satisfeito - digo.      Depois da prisão, eu estava satisfeito com tudo.      - Pois então seja mais moderado...      Em uma semana já havia feito a mala. E, como se verificou, bastava-me apenas uma única mala.      Por pouco não chorei de dó de mim mesmo. Tenho 36 anos. Durante 18 deles, trabalhei.             Gasto tudo o que ganho. Tenho, como descobri, alguns bens. E o resultado é uma mal

Quem não lê....

     Insisto sobre a inutilidade de distribuir livro, fazer campanha nas escolas etc.  visando  melhorar o nível de leitura de crianças e jovens. Não funciona.  Não, sem investir  muito na alfabetização das crianças. Começa no ensino fundamental a formação de centenas de milhares de analfabetos funcionais que temos espalhados pelo país.  Lamentavelmente os  pais e, acreditem, professores também não leem e sem o exemplo do mais próximo a situação se perpetua.  Vejo, entristecida e preocupada um monte de universitários escrevendo grandes barbaridades. Não leem, por certo. Mas também tiveram péssima alfabetização.  Adianta dar livro??

As Minhas Asas, Almeida Garrett

Eu tinha umas asas brancas asas que um anjo me deu, que, em me cansando da terra, batia-as,voava ao céu -Eram brancas, brancas, brancas, como as do anjo que mas deu. Eu inocente como elas, por isso voava ao céu. Veio a cobiça da terra, vinha para me tentar; por meus montes de tesouros minhas asas não quis dar - Veio a ambição coas grandezas, vinham para mas cortar, davam-me poder e glória; por nenhum preço as quis dar.

Crônica cantada:Chico Buarque - Realejo

Grupo reune-se virtualmente para ler

Bilhetinhos que seguem para os donos dentros dos seus livros Pequeno grupo de leitores, reune-se no Orkut unicamente para ler.   Há cinco anos os vorazes leitores  oferecem e pedem emprestado livros de qualquer gênero, autor ou nacionalidade. Os envios são feitos pelos Correios, uma vez que os integrantes são de vários estados do Brasil.  O sistema é bem sucedido por algumas razões, dentre elas o custo da leitura. Tendo em vista que o participante só precisa pagar o valor da postagem do livro, é possível  fazer a leitura de 4 exemplares desembolsando valor igual ao da compra de um livro apenas.  Outra vantagem é a possibilidade de conhecer títulos e autores através dos comentários e indicações do grupo. Todos os livros voltam aos seus respectivos, depois de passarem meses ou até anos, seguindo de mão em mão, voltm a seus respectivos donos. Integrante que sou, posso dizer de minha satisfação com o sistema de leitura desenvolvido em 2007 pelo grupo do Orkut. Através dele pude ler  uma

A Espera, Richardson Nochelli

Estátua de Brigitte Bardot - Búzios, RJ Dizem, e quem sou eu para desdizer, que há tempos ela está ali, imóvel, os pés tocando o mar, os olhos perdidos no horizonte e um breve sorriso misterioso nos lábios. Dizem, como eu disse, que faz mais tempo que o próprio tempo, de uma época em que o mundo fazia sentido, e os sentimentos eram verdadeiros e quem seria eu, novamente, para negar? Tudo não passou de um caso de amor, é o que falam, e, eu me pergunto, há nesta vida algum caso que não seja de amor?             Conta a lenda que a pobrezinha que ali está se condenou pelo amor de um marinheiro valente e belo guerreiro, mas desses sem rumo nem dinheiro, desses que, como tantos outros, lhe prometeu o mundo, mas que só lhe deu o mar, salgado e profundo, a banhar-lhe os pés descalços, pela ação do tempo, sempre a esperar.

Um Soneto de Esperança, Francisco Borges Neto

Tento em vão, amor, encontrar a palavra que me engane nesta noite fria, como um inconformado que lavrara a terra infértil do vazio em que sofria E vazia nunca foste. Por que quisera eu, cheio de nada, conter tua euforia exasperante de menina? Quem dera sorrir meu cração como sorriste um dia!... Tua alegria, poente junto  ao crepúsculo, amanhecia também como a fortaleza da alvorada; e estremeço cada músculo de meu corpo, em desespero, pela certeza que habita traiçoeira, no minúsculo verme que sou, a causa da tua tristeza. (Vencidas as Primaveras Insípidas - 2011)

Outra vez Saramago no cinema.

Pela quinta vez Saramago tem livro adaptado para o cinema. Estou falando de O Homem Duplicado cujo título original é An Enemy . O livro foi lançado no Brasil em 2002 pela Cia. das Letras e o filme dirigido pelo canadense Denis Villenueve chegará às telas dos cinemas em 2013. Tertuliano, o professor de história que descobre ter um sósia será vivido pelo  belo ator Jake Gyllenhaal que conhecemos pelo excelente desempenho em Brokeback Moutain. As outras obras do escritor português que já foram adaptdas para o cinema são: Jangada de Pedra( 2002 ), A Flor Mais Grande do Mundo( curta metragem ), Ensaio Sobre a Cegueira( 2008 ) e Embargo ( 2010 ). (Fontes: JC, Revista O Grito, site de José Saramago)

Crônica cantada:Gonzaguinha - Com a Perna No Mundo,

Acreditava na vida Na alegria de ser Nas coisas do coração Nas mãos um muito fazer Sentava bem lá no alto Pivete olhando a cidade Sentindo o cheiro do asfalto Desceu por necessidade O Dina Teu menino desceu o São Carlos Pegou um sonho e partiu Pensava que era um guerreiro Com terras e gente a conquistar Havia um fogo em seus olhos Um fogo de não se apagar Diz lá pra Dina que eu volto Que seu guri não fugiu Só quis saber como é Qual é Perna no mundo sumiu E hoje Depois de tantas batalhas A lama dos sapatos É a medalha Que ele tem pra mostrar Passado É um pé no chão e um sabiá Presente É a porta aberta E futuro é o que virá, mas, e daí? ô ô ô e á O moleque acabou de chegar ô ô ô e á Nessa cama é que eu quero sonhar ô ô ô e á Amanhã bato a perna no mundo ô ô ô e á É que o mundo é que é meu lugar

História bonita (5):Tábata, da periferia para Harvard.

Uma medalhista olímpica brasileira, vinda da rede pública de ensino, está prestes a trocar o Brasil pelos Estados Unidos. Tábata Amaral de Pontes, de 18 anos, tem mais de 30 medalhas no currículo, entre competições nacionais e internacionais de física, matemática, química e astronomia . À época, a notícia era a aprovação dela na Universidade de São Paulo. Estudante tem mais de 30 medalhas em olimpíadas escolares.Agora, o leque de opções aumentou. Filha de um cobrador de ônibus e de uma vendedora de flores, moradores da periferia de São Paulo, no extremo da zona sul, Tábata foi aprovada em seis universidades norte-americanas: Harvard, Caltech, Columbia, Princeton, Yale e Pennsylvania. Ela concluiu o ensino médio no Etapa, como bolsista. A felicidade de Tábata só não é maior porque a confirmação da aprovação em Harvard, na quinta-feira, foi recebida três dias antes do falecimento de seu pai. Por conta disso, a jovem não pôde conversar com a reportagem. Em fev

Para Maria da Graça,Paulo Mendes Campos

       Agora, que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no país das maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas.      Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca. Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?"      Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão ent

Segunda Canção de Muito Longe, Mário Quintana

Havia um corredor que fazia cotovelo: Um mistério encanando com outro mistério,                                                            no escuro... Mas vamos fechar os olhos E pensar numa outra cousa... Vamos ouvir o ruído cantado, o ruído arrastado                                                          das correntes do algibe Puxando a água fresca e profunda. Havia no arco do algibe trepadeiras trêmulas Nós nos debruçávamos à borda, gritando os nomes                                                          uns dos outros E lá dentro as palavras ressoavam fortes,                                                         cavernosas como vozes de leões. Nós éramos quatro, uma prima, dois negrinhos e eu. Havia os azulejos reluzentes, o muro do quintal                                                         que limitava o mundo, Uma paineira enorme e, sempre e cada vez mais,                                                         os gri

Crônica cantada: Milton Nascimento - Morro Velho

No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver Orgulhoso camarada, conta histórias prá moçada Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.