Um dia desses um chofer de taxi, e eu entrevisto muitos, foi quem se encarregou de me entrevistar. Fez-me várias perguntas indiscretas e, entre elas, uma bastante estranha: a senhora se sente uma mulher igual a todo mundo? (ele era tão nortista que não dizia mulher, dizia muler) Respondi sem saber ao certo ao que respondia: "mais ou menos". "Pois eu", continuou ele, me sinto igual a todo mundo. Já fui mendigo minha senhora. E hoje sou chofer. E mesmo tendo sido mendigo, me sinto igual a todo o mundo. É, por isso que lhe estou dando uma lição de moral”. Merecia eu esta lição? Não sei porque despedimo-nos com a maior efusão, um desejando felicidade ao outro. Na certa estávamos precisados.
(In: Aprendendo a Viver. Ed.Rocco 2004)
Uma conhecida minha ficou surpreendida, quando lhe contei: sempre pensara que, uma vez mendigo, último ponto de parada de uma pessoa, nunca mais se mudava. Mas aquele não só saiu como está com dinheiro bem ganho num carro por ele comprado a prestações. E não só saiu da mendicância, mas estava pronto para dar lição de moral a uma muler que não a pediu. Lição de moral eu detesto. Quando percebo que a conversa está descambando para isso – outros, os moralistas, diriam “subindo para isso” – retraio-me toda, e uma rigidez muda me toma. Luto contra. E estou piorando nesse sentido.
(In: Aprendendo a Viver. Ed.Rocco 2004)
Regina, até que enfim pude encontra-la para agradecer seus comentários. Não sei como responder no blog (semi-analfabeto digital) ms agora vou ficar me deliciando com seus textos. Fernando Azevedo
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