Pular para o conteúdo principal

Eu Não Vim Fazer Um Discurso. Grabiel García Márquez

     Comprei o livro de García Márquez por acaso. Já conhecia o autor,de quem gosto  imensamente. Não sabia, porém, que ele estava com livro novo na praça. 
     O exemplar, cuja capa não tem nada de atraente, estava bem à minha frente quando entrei na livraria.
     Fazer o quê? Eu Não Vim Fazer Um Discurso  é uma coletânea de textos, discursos feitos em diversas ocasiões e lugares ao longo de boa parte de sua vida. 
     Inicia com o que ele fez em 1944 despedindo-se dos colegas de turma do ensino médio.  Simples, abrangente, afetivo, bem humorado e elaborado. 
     A primeira surpresa foi quando confirmei no próprio livro que o autor  tinha, à época, apenas 17 anos.  
     A cada texto uma satisfação. Em Como Comecei a Escrever (03.05.1970), García Márquez diz francamente do medo que está sentindo por falar em público. Desculpa-se por ficar sentado e conta que pelo medo até desejou ficar doente de verdade e que imaginou não ir de paletó ao evento para não ter franqueada a sua entrada. 
     Prossegue dizendo de forma por demais divertida que fez seu primeiro conto desafiado pelo diretor  do caderno literário do Jornal El Espectador. Diz ter adoecido de verdade quando viu, no dia seguinte, nota elogiosa da direção do jornal  junto com seu conto publicado.
     Confessa não saber quando vai ou o que vai escrever e que espera a ideia lhe chegar pronta. Podendo isto demorar bastante,logicamente.
     Dedica ao México em Outra Pátria Diferente (22.10.1982) , recebendo a Ordem da Águia Asteca, um pronunciamento de gratidão comovente pela simplicidade e grande carga de afeto, pela acolhida que o México lhe deu nos anos 60, quando, segundo ele, já não era feliz. 
     Mais adiante A Solidão da América Latina (08.12.1982) é uma aula de história e sociologia como a maioria gostaria de  ter. Pronunciamento feito por ocasião do recebimento do Premio Nobel de Literatura. Nesse pronunciamento feito em Estocolmo, Suécia, García Márquez discorre sobre diversas mazelas porque passaram, ao longo de décadas ininterruptas,vários países da A.L. Ditaduras sangrentas e esquizofrênicas, algumas delas ainda nas nossas lembranças. Dando números absolutos e comparativos, nomes de pessoas e países Gabo, mostra a causa da  solidão da América Latina. Mais adiante, e de forma brilhante, chama a atenção para o erro da visão europeia sobre a A.L. Porque, segundo ele, o europeu não entende que o novo continente vive em tempo diferente. Que, por exemplo, a Suíça que nos olha hoje é a da paz, da prosperidade, dos queijos. Os suíços não conseguem ver  semelhança entre os movimentos massacrantes que ora ocorrem aqui com protagonizados por seus compatriotas do passado, que de pacíficos nada tinham.
     Prossegue com O Cataclismo de Dâmocles, discurso feito na reunião do Grupo dos Seis  no México em 06.08.1986. É sobre  a paz e o desarmamento nuclear. Exceto pelos dados numéricos está atual até hoje.
     A lei me impede de  reproduzir qualquer texto, mas não posso negar que faria isso com satisfação para compartilhar a mesma satisfação que tive lendo.  Falar a verdade, satisfação é pouco. O livro me emocionou a cada discurso.  Havia me prometido não comprar livros por algum tempo, mas fiz bem em não cumprir. São ao todo 21 textos.  Todos emocionados, simples, realistas, francos, necessários a qualquer leitor.
     Para quem já conhece Gabriel Garcia Márquez: imperdível. Para quem não conhece é ótima oportunidade.



Dedico a você, Amaro Gantois,  a emoção que senti com a maioria dos textos desse livro. É a única forma que tenho de apaziguar a vontade que me deu de comentar e lhe emprestar  a obra

Comentários

  1. Também me prometi não comprar livros por um tempo, e a grata surpresa que você teve, eu tive com o livro que adquiri: Um dia, David Nicholls.
    Não me arrependi, terminei a leitura extasiada e emocionada.

    Beijo!

    ResponderExcluir
  2. Pedi esse livro na L.E e ninguém tem.
    Adoro qdo. um livro mexe comigo!
    bj,
    Regina

    ResponderExcluir

Postar um comentário

comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Aprenda a Chamar a Polícia, Luis Fernando Veríssimo

          Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.                   Como minha casa era muito segura, com  grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali,espiando tranquilamente. Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.            Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível. Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: - Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guard