Lí há muitos anos O Triste Fim de Policarpo Quaresma, lembro de ter gostado. Nunca mais voltei a Lima Barreto até que na comunidade Livro Errante, no grupo que anualmente encerra nossas trocas, o Saideira, Eloisa Helena ofereceu Clara dos Anjos. Insistiu para que entrasse na fila. Entrei no final do trajeto e concordei com ela: livro sensacional. Por causa dele, me obriguei a estudar sobre Lima Barreto e literatura Brasileira, que infelizmente não tive em minha vida escolar. Nunca é tarde!
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Lima Barreto se coloca em vários personagens e de diversas formas. Toda a história se passa no subúrbio do Rio de Janeiro e seus personagens, muito bem criados por sinal, são pessoas comuns e possíveis em qualquer lugar e época. Narrativa ágil e envolvente. Lima, foi criticado por usar linguagem coloquial, abandonando (debochando talvez) do rebuscamento ou excesso de capricho usados até então.Clara dos Anjos é inteiro um tratado de sociologia. Alguns tabus já não existem e até mesmo o nome "Cassi Jones", já parece bobo diante da festa de K, LL, Y usados hoje na busca de destaque e diferenciação usados nos nomes próprios . Descontadas algumas poucas coisas que o passar dos anos modificou, o livro Clara dos Anjos Continua atualíssimo?
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... A mórbida ternura da mãe por ele, a que não eram estranhas as suas vaidades pessoais, junto à indiferença desdenhosa do pai, com o tempo, fizeram de Cassi o tipo mais completo de vagabundo. É um tipo bem brasileiro. (Clara dos Anjos pgs.33/34 - quem não conhece uma mãe de Cassi Jones na própria família ou largamente divulgada pela imprensa se o filho for uma celebridade? O autor exagera quando diz ser esse o tipo do brasileiro)
O verdadeiro estado amoroso supõe um estado de semiloucura correspondente, de obsessão, determinando uma desordem emocional que vai da mais intensa alegria até a mais cruciante dor, que dá entusiasmo e abatimento, que encoraja e entibia; em Cassi, nunca se dava disso... (Clara dos Anjos pag.34 - Cassi se envolvia com as mulheres por necessidade de se sentir poderoso, acima do bem e do mal; assim, a paixão, descrita pelo autor, jamais faria parte de sua vida.)
O estado de irritabilidade, provindo das constantes dificuldades por que passam, a incapacidade de encontrar fora de seu habitual campo de visão motivo para explicar o seu mal-estar, fazem-na descarregar as suas queixas em forma de desaforos velados, nas vizinhas com quem antipatizam por lhes parecer mais felizes. Todas elas se têm na mais alta conta, provindas da mais alta prosápia; mas são probíssimas e necessitadas. (Refere-se a uma briga entre várias mulheres iguais, absolutamente iguais em carências as mais básicas; explica também que até a falta de compreensão delas próprias lhes dava motivo para extravasar na contenda). Tem algo a ver com: Retire seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor? (Cartola)
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Em geral essas brigas duram pouco. Lá vem uma moléstia num dos pequenos desta e logo aquela a socorre com seus vidros de homeopatia. (Sentimento ancestral de grupo,de igualdade,sobrevivência das mulheres, largamente exercitado nos grupos muito pobres)
Cessou de pensar em Cassi Jones e pôs-se a cogitar no trabalho, nas gratificações e nos aumentos.( Refere-se a Joaquim dos Anjos, carteiro, pai de Clara - Note-se: um funcionário público. Àquela época ser funcionário público dava uma certa distinção e dependendo do órgão até poder. Tempo passado e aí estão as filas quilométricas para os concursos de empregos com salários acima do mercado,gratificações, a garantia de establidade e, dependendo do cargo, status. Como no tempo de Cassi Jones)
Vinha tudo isso com nomes arrevesados: franceses, ingleses, alemães, italianos, etc. Mas como eram sempre os mesmos acabara decorando-os mais ou menos corretamente. gostava de lidar com aqueles homens louros, rubicundos,robustos, de olhos da cor do mar entre os quais ele não distinguia os chefes e os subalternos. Quando havia brasileiro no meio deles, logo adivinhava que não eram chefes. ( o personagem, carteiro, desfaz dos brasileiros; um recalque do autor?)
... Raramente vinha ao centro. Quando muito, descia até o Campo de Santa'ana.
... achava tudo ridículo, exagerado, copiado, mas não sabia bem de que modelo. O que, de fato, sentia.... daquelas maneira, daqueles ademaques, daquelas convresas que não entendia, era a sua ignorância, a sua grosseria nativa, a sua falta de educação e de gosto.
O seu ódio, então, ia forte para os poetas e jornalistas, sobretudo para estes. ( Refere-se a Cassi Jones, quando a caminho da fuga, mas ainda no Rio de Janeiro, encontra-se no centro da cidade. Sente-se incomodado diante de outros jovens de sua idade. Sente-se inadequado num lugar onde não é o centro das atenções. Incomoda-lhe a consciência de que é ignorante e mal educado.)
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Lima Barreto se coloca em vários personagens e de diversas formas. Toda a história se passa no subúrbio do Rio de Janeiro e seus personagens, muito bem criados por sinal, são pessoas comuns e possíveis em qualquer lugar e época. Narrativa ágil e envolvente. Lima, foi criticado por usar linguagem coloquial, abandonando (debochando talvez) do rebuscamento ou excesso de capricho usados até então.Clara dos Anjos é inteiro um tratado de sociologia. Alguns tabus já não existem e até mesmo o nome "Cassi Jones", já parece bobo diante da festa de K, LL, Y usados hoje na busca de destaque e diferenciação usados nos nomes próprios . Descontadas algumas poucas coisas que o passar dos anos modificou, o livro Clara dos Anjos Continua atualíssimo?
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... A mórbida ternura da mãe por ele, a que não eram estranhas as suas vaidades pessoais, junto à indiferença desdenhosa do pai, com o tempo, fizeram de Cassi o tipo mais completo de vagabundo. É um tipo bem brasileiro. (Clara dos Anjos pgs.33/34 - quem não conhece uma mãe de Cassi Jones na própria família ou largamente divulgada pela imprensa se o filho for uma celebridade? O autor exagera quando diz ser esse o tipo do brasileiro)
O verdadeiro estado amoroso supõe um estado de semiloucura correspondente, de obsessão, determinando uma desordem emocional que vai da mais intensa alegria até a mais cruciante dor, que dá entusiasmo e abatimento, que encoraja e entibia; em Cassi, nunca se dava disso... (Clara dos Anjos pag.34 - Cassi se envolvia com as mulheres por necessidade de se sentir poderoso, acima do bem e do mal; assim, a paixão, descrita pelo autor, jamais faria parte de sua vida.)
O estado de irritabilidade, provindo das constantes dificuldades por que passam, a incapacidade de encontrar fora de seu habitual campo de visão motivo para explicar o seu mal-estar, fazem-na descarregar as suas queixas em forma de desaforos velados, nas vizinhas com quem antipatizam por lhes parecer mais felizes. Todas elas se têm na mais alta conta, provindas da mais alta prosápia; mas são probíssimas e necessitadas. (Refere-se a uma briga entre várias mulheres iguais, absolutamente iguais em carências as mais básicas; explica também que até a falta de compreensão delas próprias lhes dava motivo para extravasar na contenda). Tem algo a ver com: Retire seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor? (Cartola)
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Em geral essas brigas duram pouco. Lá vem uma moléstia num dos pequenos desta e logo aquela a socorre com seus vidros de homeopatia. (Sentimento ancestral de grupo,de igualdade,sobrevivência das mulheres, largamente exercitado nos grupos muito pobres)
Cessou de pensar em Cassi Jones e pôs-se a cogitar no trabalho, nas gratificações e nos aumentos.( Refere-se a Joaquim dos Anjos, carteiro, pai de Clara - Note-se: um funcionário público. Àquela época ser funcionário público dava uma certa distinção e dependendo do órgão até poder. Tempo passado e aí estão as filas quilométricas para os concursos de empregos com salários acima do mercado,gratificações, a garantia de establidade e, dependendo do cargo, status. Como no tempo de Cassi Jones)
Vinha tudo isso com nomes arrevesados: franceses, ingleses, alemães, italianos, etc. Mas como eram sempre os mesmos acabara decorando-os mais ou menos corretamente. gostava de lidar com aqueles homens louros, rubicundos,robustos, de olhos da cor do mar entre os quais ele não distinguia os chefes e os subalternos. Quando havia brasileiro no meio deles, logo adivinhava que não eram chefes. ( o personagem, carteiro, desfaz dos brasileiros; um recalque do autor?)
... Raramente vinha ao centro. Quando muito, descia até o Campo de Santa'ana.
... achava tudo ridículo, exagerado, copiado, mas não sabia bem de que modelo. O que, de fato, sentia.... daquelas maneira, daqueles ademaques, daquelas convresas que não entendia, era a sua ignorância, a sua grosseria nativa, a sua falta de educação e de gosto.
O seu ódio, então, ia forte para os poetas e jornalistas, sobretudo para estes. ( Refere-se a Cassi Jones, quando a caminho da fuga, mas ainda no Rio de Janeiro, encontra-se no centro da cidade. Sente-se incomodado diante de outros jovens de sua idade. Sente-se inadequado num lugar onde não é o centro das atenções. Incomoda-lhe a consciência de que é ignorante e mal educado.)
Estou muito feliz que tenha apreciado tanto nosso querido Lima Barreto e seu "Clara dos Anjos". O blog está excelente como sempre .Parabéns!
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