Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de maio, 2015

Desenho da semana: Samuca

Samuca - Diário de Pernambuco 31 de maio 2015

Minha Vida de Cão, Ariane Bomgosto

                           Pela frestinha da janela posso ver o sol entrar. Sinal que já é de manhã. Pior. Sinal que é hora de acordar. Não é que eu tenha preguiça. Afinal, preguiça de quê? Já sei que meu dia, como todos os outros trezentos e poucos dias que se passaram desde que vim ao mundo junto com os meus outros doze irmãozinhos, será mais um dia de sono, até que este mesmo sol, que vejo raiar agora, faça o favor de ir embora. Só nesta hora, enfim, poderei sair para passear, como também já é de costume.      Minha orelha esquerda levantou. Opa. Esta é a prova definitiva de que o relógio está marcando exatamente sete horas da manhã. Vamos lá. Um olho de cada vez. Primeiro o direito, lentamente. Deste ângulo, vejo dois pezinhos pequenos encostarem no chão. Dois seriam se eu não tivesse esquecido mais uma vez de abrir o olho esquerdo. Admito. A memória não é lá o meu forte. Pois bem, são quatro. Agora com certeza. Os dois de mamãe e os dois de papai. Demorei um pouco para me a

A Velha Engolida Pela Pedra, Mia Couto.

          Não sou homem de igreja. Não creio e isso me dá tristeza. Porque, afinal, tenho em mim a religiosidade exigível a qualquer crente. Sou religioso sem religião. sofro, afinal, a doença da poesia: sonho lugares em que nunca estive, acredito só no que não se pode provar. E, mesmo se eu hoje rezasse, não saberia  que pedir a Deus. Esse é o meu medo: só os loucos não sabem o que pedir a Deus. Ou não se dará o caso de Deus ter perdido fé nos homens? Enfim, meu gosto de visitar igrejas vem apenas da tranquilidade desses lugarinhos côncavos, cheios de sombras sossegadas. Lá eu sei respirar. fora fica o mundo e suas desacudidas misérias.

História Bonita (12): Catador Sebastião Cria e Mantém Escola Em Olinda - PE

Escola criada por catador dá oportunidade a crianças carentes de Olinda Na unidade de ensino, além da sala de aula, há uma sala de judô, uma de capoeira, biblioteca, parque e um espaço para cozinha As paredes coloridas da Escola Nova Esperança numa rua sem calçamento do bairro de Rio Doce, em Olinda, chamam a atenção. Na fachada, uma imagem grafitada por moradores da comunidade registra o carinho do fundador da unidade de ensino, o catador de recicláveis Sebastião Pereira Duque, 59 anos, com as crianças que ali estudam. A escola, que existe desde 1984, atende a filhos de desempregados, catadores e pessoas de baixa renda da 2ª Etapa de Rio Doce. Não é uma escola da rede pública de ensino, mas também não funciona como uma instituição particular. Para fazer a matrícula, basta que os pais paguem R$ 20 por mês, para custos de manutenção, ou façam doações de materiais recicláveis. Das 80 crianças com idades entre 2 e 6 anos que estudam na Nova Esperança, 70 pagam a mensalida

Folhas Na Relva, Walt Whitman

Arranquem os trincos das portas! Arranquem as próprias portas dos batentes! Nada de pegar coisas de segunda ou de terceira mão... nem de ver através dos olhos dos mortos... nem se alimentar dos espectros nos livros Vadio uma jornada perpétua Tudo segue e segue sem parar... nada se colapsa, E morrer é diferente do que se imagina, bem mais afortunado. Se ninguém mais no mundo está ciente, fico contente, E se cada um e todos estão cientes, fico contente.

Desenho da semana: Laílson Holanda.

Fim e Começo

Terminei e recomendo A Noite Escura E Mais Eu .       Estou lendo Sal .    Os dois livros estão circulando entre os leitores do grupo Livro Errante.                                    Os homens estão parados na entrada do caramanchão e combinam um jogo para mais tarde, o mais velho parece satisfeito, o trabalho está praticamente terminado. O escorpião já fugiu com seu dardo   aceso, as pinças altas no alerta, escondeu-se. A tática. Um ser odiado odiado odiado e que resiste porque os deuses o inscreveram no Zodíaco, lá está o Signo de Escorpião e se Deus me der essa mínima forma eu aceito, quero a ilusão da esperança, quero a ilusão do sonho em qualquer tempo e espaço e o demolidor jovem   está aqui junto de mim. Pai nosso que estais nos céu com a constelação de Escorpião brilhando gloriosa brilhando com todas as suas estrelas e o braço do homem se levanta e fecho os olhos Seja feita a Vossa vontade e agora a   picareta e então aceito também ser a estrela menor de grande caud

Uma Galinha, Clarice Lispector

                        Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.       Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.         Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé.             O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu

A Recompensa,Lêdo Ivo

Eis a dádiva da noite: fenda, cova, gruta, porta casto pássaro sem canto cisterna oculta no bosque concha perdida na praia viva natureza-morta. Um corredor de coral matriz e canal de mangue trilha, sebe, valva, furna voluta cheia de adornos desfiladeiro da tarde tumba de sol e corola sereno da madrugada.

Charge para B.B.King

Considero a charge, cartoom, quadrinhos etc uma forma de literatura.  Por essa razão vou trazer uma charge a cada semana. A melhor que eu encontrar.       Para iniciar: Jarbas, do Jornal do Commércio do Recife - Brilhante alusão a B.B.King, recentemente falecido.

Mundo, Eduardo Galeano

    Um homem da aldeia de Negua, no litoral da Colombia, conseguiu subir aos ceus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. — O mundo é isso — revelou —. Um montao de gen te, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz propria entre todas as outras. Nao existem duas fogueiras iguais Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, nao alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que e impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo. ( O Livro dos Abraços)    

Uma sugestão.

               Estive pensando em como me sentiria se eu fosse professora de português e frequentasse o Facebook.         A rede social é uma festa: tem intelectuais, os que apenas olham e nunca postam nada, os moderados e xiitas, torcedores de todos os times, os belos, os que se julgam belos e por isso são mesmo, os que levantam bandeiras revolucionárias desde que não precisem mudar nenhum de seus hábitos, os religiosos verdadeiros e os que pregam mas não fazem o que ordenam aos demais, os inseguros e perdidos de si que são contra de manhã e a favor à tarde, tem aqueles que estão sempre reclamando de um preconceito de que se supõem vítimas e os que realmente são.        Ah, tem quem arrase postando selfie  em espelho ou com  texto sem pé nem cabeça.            Tem quem faça discurso contra um livro que nunca leu e, esse é ótimo, o que posta linda e comovente poesia de  Cecília Meireles que a poeta jamais escreveu...        Bem,  tem muita coisa no Facebook. Mas o que me impressio

Os Poemas, Mário Quintana - Segunda -feira poética

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti…     (Ilustração: Cado)

Joquinha e a Coruja Felizberta,Caroline Soares

No jardim da casa do menino Joquinha viviam borboletas,passarinhos,grilos,formigas, todos muito felizes! Ah!! E também, a coruja Felizberta!! Estava muito velhinha e já não brincava, mas nunca deixou de cantar. Ela morava na linda macieira do jardim. Que sorte ele tinha por viver rodeado de alegrias. Da janela do seu quarto avistou um chapéu azul com grandes abas a voar, e pensou: “A Gegoca deve estar a brincar e o vento levou-lhe o chapéu! Deve andar a procura dele. Ela não tirava aquele chapéu por nada. Era enorme para a cabeça dela, tinha grandes abas e flores coloridas pintadas. O menino achava um horror!! A Gegoca era sua melhor amiga e conheciam-se desde de pequenos. Passado uns minutos, o menino escuta na sua janela alguém a bater. E avista uns olhos castanhos lindos, enormes e a chamarem por ele: – Joquinhaaaaaaa, abre a janela! Perdi meu chapéu, o vento levou-o, preciso que ajudes-me a encontrá-lo! O menino começou a dar gargalhadas deliciosas e disse: – Q

Morreste-me, José Luis Peixoto

Acabei de ler Morreste-me de José Luís Peixoto.  Pela capa do exemplar fico sabendo que foi o livro que revelou o autor em 2000. Estou, portanto, atrasada em 15 anos.  O livro trata  luto do autor ao mesmo tempo em que homenageia seu pai. Me chamou a atenção a forma concisa e poética de José  Luís Peixoto .  Recomendo a leitura. " Pai. A tarde dissolve-se sobre a terra, sobre a nossa casa. O céu desfia um sopro quieto nos rostos. Acende-se a lua. Translúcida, adormece um sono cálido nos olhares. Anoitece devagar. Dizia nunca esquecerei, e lembro-me. Anoitecia devagar e, a esta hora, nesta altura do ano, desenrolavas a mangueira com todos os preceitos e, seguindo  regras certas, regavas as árvores e as flores do quintal; e tudo isso me ensinavas, tudo isso me explicavas. Anda cá ver, rapaz. E mostravas-me. Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente  deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é

Agualusa no cinema: O Vendedor de Passados

Lembram desse livro?    Foi com ele que comecei a conhecer os escritores africanos de língua portuguesa. Todos os colegas de meu grupo de leitura já leram O Vendedor de Passados do angolano José Eduardo Agualusa. Em 2013  Lula Buarque de Holanda fez uma adaptação livre  e trouxe a obra para o cinema. Pois bem, agora você pode assistir ao filme. O vendedor de passados do cinema é Lázaro Ramos. É ele, na pele de Vicente, que cria documentos, fotos e indícios para reescrever a história de quem quiser ou precisar. Hoje( 4 de maio) no Cine PE 2015 no Cinema São Luiz, Recife e dia 21 de maio tem estreia nacional

A Procura, Cora Coralina

Andei pelo caminhos da Vida, Casa de Cora Coralina - Imagem do google Caminhei pelos ruas do Destino - Procurando meu signo. Bati na porta da Fortuna, mandou dizer que não estava. Bati na porta da Fama, falou que não podia atender. Procurei a casa da Felicidade, a vizinha da frente me informou que ela tinha se mudado sem deixar novo endereço. Procurei  a morada da Fortaleza. ela me fez entrar: deu-me veste nova, perfumou-me os cabelos, fez-me beber de seu vinho. Acertei o meu caminho. (Em: Meu Cordel)