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Eu E Os Poetas do Recife, Manuel Bandeira

                       
Desenho de Romero Brito
Manuel Bandeira do Circuito da Poesia está em uma das margens do Rio Capibaribe, no centro da cidade.  Na mesma margem onde se encontra  João Cabral de Melo Neto que o blog já mostrou. 

Infelizmente alguém de pouquíssima educação pixou toda a estátua do poeta e, por essa razão, as imagens que tenho foram feitas no Espaço Pasárgada, na Rua da União que era a casa do  avô e onde ele passou a infância.

Rimancete À dona de seu encanto
À bem-amada pudica,
Por quem se desvela tanto
Por quem tanto se dedica,
Olhos lavados em pranto,
O seu amante suplica:

O que me darás, donzela,
Por preço de meu amor?
-Dou-te os meus olhos (disse ela),
Os meus olhos sem senhor...
-Ai não me fales assim!
Que uma esperança tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço de meu amor?
-Dou-te os meus lábios (disse ela),
Os meus lábios sem senhor...
-Ai não me enganes assim,
Sonho meu! Coisa tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço de meu amor?
-Dou-te as minhas mãos (disse ela),
As minhas mãos sem senhor...
- Não me escarneças assim!
Bem sei que prenda tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás. donzela,
Por preço do meu amor?
dou-te os meus peitos(disse ela),
Os meus peitos sem senhor...
- Não me tortures assim!
Mentes, Dádiva tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço de meu amor?
- Minha rosa e minha vida...
Que por prendê-la perdida,
Me desfaleço de dor...
- Não me enlouqueças assim,
Minha vida! Flor tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela?
- Deixas-me triste e sombria.
Cismo... não atino o quê...
Dava-te quanto podia...
Que queres mais que te dê?

Responde o moço destarte:
-Teu pensamento quero eu!
- Isso não... não posso dar-te...
Que há muito tempo ele é teu

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