Fui uma criança educada sob o catolicismo apostólico piauiense. O cristianismo do Meio Norte difere do romano apenas em um aspecto: o fervor. O que é coerente com a temperatura média do estado, sempre beirando os 40 graus. A grande mentora da minha espiritualidade foi a avó materna. Dona Alzira, pelas minhas contas, só perdeu em número de leituras da Bíblia para Johannes Gutenberg – pai do famoso Livro Sagrado produzido em tipos móveis. Fora a sua exegese bíblica, ainda havia os terços diários, os rosários apressados e os jejuns. Minha mãe reproduzia, de modo mais suave, as práticas místicas. Era devota de Santa Teresinha do Menino Jesus. E, como boa meio-nortista, com grande fervor. Nosso pastor alemão, para que o leitor tenha ideia, se chamava Tom: era xará do cachorro de Teresa de Lisieux. Era natural que eu tivesse influências das duas. Até os 11 anos, quando me perguntavam o que queria ser quando crescer, respondia, sem titubear: “papa”. Quando estava com 16 anos, em pleno M...