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Mostrando postagens de abril, 2025

Miriam Leitão: Nova Imortal da Academia Brasileira de Letras

     A jornalista e escritora mineira Miriam Leitão foi  eleita hoje para ocupar a cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras. Cacá Diegues, falecido em fevereiro foi o ultimo ocupante da cadeira. Miriam Leitão é muito conhecida como jornalista da Globo e também como escritora. Tem 16 livros publicados sendo Saga Brasileira: A Longa Luta de Um Povo Por Sua Moeda, vencedor do troféu Jabuti em 2012 categoria Reportagem e Livro do ano, não ficção. Amazônia na Encruzilhada: O Poder da Destruição e o Tempo Das Possibilidades, também é premiado. Obras da autora: O Estranho Caso do Sono Perdido A Verdade é Teimosa:Diários da Crise Que Adiou o Futuro A Democracia na Armadilha Tempos Extremos As Aventuras do Tempo História do Futuro: o Horizonte do Brasil no Sec. XXI Flávia e o Bolo de Chocolate Refúgio no Sábado: Crônicas A Perigosa Vida dos Passarinhos Pequenos A Menina de Nome Enfeitado O Menino Que Conhecia o Fim da Noite O Mistério do Pau Oco Convém Sonhar ...

Anotações Sobre Um Amor Urbano, conto de Caio Fernando Abreu

      Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei  dizer  mais nada, não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só esta vontade quase simples de estender o braço para tocar você, faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nesta janela, já dissemos tudo que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação impressão ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e, com a ponta dos meus dedos, tocar você, natural que seja assim: o toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora. Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha para mim, sorri. Quanto tempo dura? Faz pouco despencou uma estrela e fizemos, ao mesmo tempo e em silêncio, um pedido, dois pedidos. Pedi para saber tocá-lo. Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me d...

Por Que Não Te Amaram, Francisco? crônica de Antonio Neto

O outono capixaba alterna dias ensolarados com outros nublados, atravessados por dias chuvosos, desfazendo um pouco do eterno verão que nos é peculiar. Nesses últimos dias, o mar tem nos trazido ventos tristes... Francisco é morto. Isso faz lembrar o trecho da música de Fernando Brant, Lô Borges e Márcio Borges; eternizada na voz de Milton Nascimento: “Por que você não verá Meu lado ocidental? Não precisa medo, não Não precisa da timidez Todo dia é dia de viver Eu sou da América do Sul Sei, vocês não vão saber” Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos. Quando eleito Papa, ele disse: “Parece que meus irmãos cardeais foram me buscar no fim do mundo”. Ele se declarava, assim, um homem do Sul Global. Proveniente dos países colonizados pelas nações europeias por cerca de 300 anos. Nós, a periferia do mundo. Nós somos o Extremo Ocidente, como cantou Caetano Veloso, na música Milagres do Povo: “Foi o negro que viu a crueldade bem...

Leia Em Voz Alta, Na Finlândia a leitura começa no berço.... literalmente

     Na Finlândia incentivar o gosto pela leitura começa bem cedo, ainda na maternidade. Desde 2019, todos os bebês nascidos no país recebem um book bag (bolsa de livros, em português), um kit com obras infantis e materiais informativos voltados aos pais. A ação faz parte do programa nacional Read Aloud (“Leia em voz alta”, em tradução livre), criado pelo Finnish Reading Center e, desde 2023, oficialmente integrado ao plano de governo do país.      A distribuição da bolsa acontece nos centros de saúde materno-infantil, com apoio do Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar. A proposta é incentivar que os pais leiam para os filhos desde os primeiros meses de vida e garantir que todas as famílias, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso a livros de qualidade.      Além dos livros, os pais recebem um guia com informações práticas sobre a importância de ler para os filhos desde cedo. Esse material foi pensado para aten...

Vamos Pensar? - charge de Angeli (25)

  Angeli para a Folha de São Paulo

Duas Vidas Em Uma - A Névoa,conto de Priscila Aquino

     Aos oitenta e três anos me permito, por vezes, transformar em lágrimas as sombras que acompanham minha trajetória pelos caminhos tortuosos da vida. Meus passos, por vezes lentos, errantes e despretensiosos, transportaram meu corpo e alma por muitos espaços imprevistos e outros tantos necessários. Com o tempo, aprendi a conviver com os fantasmas do meu passado e as lembranças da minha terra natal. Aprendi a entendê-los, a atender suas demandas e urgências. Aprendi que a essa dor dá-se o nome de saudade e que nomeá-la não a torna menos  tangível. A dor da saudade é dor de alma, mas também é dor de carne. É enraizada e ramificada: parte do coração, dói no peito e transborda pelos olhos. É a falta do que não voltará, o pesar pela ausência dos que já se foram, o desconsolo da lembrança de todas as coisas e fatos que me moldaram. A saudade é uma certeza, como se parte de mim estivesse incompleta, aquela parte que relutou para ficar no momento da despedida.  Minha...

Peixe Na Água, Mario Vargas Llosa ( Primeira página)

           1 - Aquele Senhor Que Era Meu Pai             Minha mãe me segurou pelo braço e me levou para fora utilizando a saída de serviço da prefeitura. Fomos andando até o cais Eguiguren. Estávamos nos últimos dias de 1946 ou nos primeiros de 1947, pois já prestármos exames no Salesiano, eu já concluíra a quinta serie do primário e já chegara o verão de Piura, de luz branca e esfixiante calor.      - Você sabia, claro - disse minha mãe sem que sua voz tremesse. - Não é mesmo?      - O quê?      - Que seu pai não morreu. Não é mesmo?      - Claro. Claro.      Mas não sabia, não desconfiava minimamente, e foi como se de repente o mundo se paralisasse para mim. Meu pai, vivo? E onde ele estava durante todo o tempo em que pensei que estava morto? Era uma longa história que até aquele dia - o mais importante de todos os que já vivera e talvez dos que ...

Mario Vargas Llosa, o Nobel peruano se foi.

  Mario Vargas Llosa Arequipa (Peru) 1936 - Lima (Peru) 2025 Premio Nobel de Literatura de 2010. Escritor, jornalista, professor, ensaista, foi um dos mais importantes escritores da América Latina e, para alguns críticos, o que teve maior impacto internacional e audiência mundial. Obras: Os Chefes   (1959) Batismo de Fogo  (BR) /  A Cidade e os Cães (PT) ("La ciudad y los perros") (1963) A Casa Verde(1966) (Prêmio Rómulo Gallegos) Os Filhotes   (1967) Conversa na catedral   (Brasil) /   Conversa n'A Catedral   (Portugal) (1969) Pantaleão e as visitadoras   (1973) Tia Júlia e o Escrevinhador (BR)  / A Tia Júlia e o Escrevedo  (PT)   (1977) a Guerra do Fim do Mundo  (1981) Historia de Mayta   (1984) Quem matou Palomino Molero?   (1986) O falador   (1987) Elogio da madrasta   (1988) Lituma nos Andes   (1993). Prêmio Planeta Os cadernos de Dom Rigoberto   (1997 A Festa do Bode(BR)  /A Fe...

Releitura de Cálice ( Chico Buarque e Milton Nascimento) por Criolo

Como ir pro trabalho sem levar um tiro Voltar pra casa sem levar um tiro Se as três da matina tem alguém que frita E é capaz de tudo pra manter sua brisa Os saraus tiveram que invadir os botecos Pois biblioteca não era lugar de poesia Biblioteca tinha que ter silêncio E uma gente que se acha assim muito sabida Há preconceito com o nordestino Há preconceito com o homem negro Há preconceito com o analfabeto Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai A ditadura segue meu amigo Milton A repressão segue meu amigo Chico Me chamam Criolo e o meu berço é o rap Mas não existe fronteira pra minha poesia, pai Afasta de mim a biqueira, pai Afasta de mim as biate, pai Afasta de mim a coqueine, pai Pois na quebrada escorre sangue, pai Pai Afasta de mim a biqueira, pai Afasta de mim as biate, pai Afasta de mim a coqueine, pai Pois na quebrada escorre sangue Ouça/Veja aqui   

Vamos Pensar? Chutar o balde, Martha Medeiros

  "Como Ser Legal" é o nome do livro que o escritor inglês Nick Hornby lançou este ano. Conta a história de um cara que era um chato e que, quando percebe que seu casamento está indo para as cucuias, resolve se transformar num benfeitor, num boa praça: e se torna mais chato ainda.      Todo mundo quer ser legal, e todo mundo se ferra na empreitada. É difícil ser legal o tempo inteiro. A gente consegue ser legal a maior parte do tempo, mas aí faz uma besteira e pronto: tudo o que você fez de bom é imediatamente esquecido e você se torna apenas aquele que fez a grande besteira. Aí você precisa de mais uns dois meses sendo exclusivamente legal para todo mundo esquecer da besteira. E quando eles esquecem, você faz outra, claro.      Mas você é legal. Você é simpático com os amigos, dá sempre uma força quando eles precisam. Você puxa papo com o garçom, abre a porta do elevador para sua vizinha entrar, você acaricia a cabeça das criancinhas, você é fiel à su...

Assim Começa o Livro Que Comecei: Kim Jiyoung, Nascida em 1982. Cho Nam-Joo

Outono 2015      Kim Jiyoung tem trinta e três anos, ou trinta e quatro na idade coreana. Ela se casou há três e teve uma filha em 2014. Vive em um pequeno apartamento alugado nos arredores de Seul com o marido, Jung Daehyun, trinta e seis anos, e a filha Jung Jiwon. Daehyun trabalha em uma empresa de TI de médio porte e Jiyoung saiu de uma pequena agência de marketing algumas semanas antes do parto. Daehyun chega em casa por volta de meia- noite e vai ao escritório pelo menos uma vez durante os fins de semana. Os pais dele vivem em Busan. Já os pais dela têm um restaurante, então Jiyoung cuida da filha sozinha. Assim que completou um ano, no verão. Jiwon começou a frequentar a creche em meio período. Ela passa as manhãs em um partamento convertido em creche, no térreo do prédio onde mora.      O comportamento incomum de Jiyoung foi percebido pela primeira vez no dia 8 de setembro. Daehyun sabe a data exata porque era manhã de baengno ("orvalho branco"), a...

Cozinheiras e Deuses da Cozinha (título provisório) Crônica do Prof. Rui Vieira Nery

     Antigamente as cozinheiras dos bons restaurantes portugueses eram umas Senhoras rechonchudas e coradas, em geral já de idade respeitável, com nomes bem portugueses ainda a cheirar a aldeia – a D. Adosinda, a D. Felismina, a D. Gertrudes – e por vezes com uma sombra de buço que parecia fazer parte dos atributos da senioridade na profissão.      Tinham começado por baixo e aprendido o ofício lentamente, espreitando por cima do ombro dos mais velhos. E tinham apurado a mão ao longo dos anos, para saberem gerir cada vez com mais mestria a arte do tempero, a ciência dos tempos de cozedura, os mistérios da regulação do lume. A escolha dos ingredientes baseava-se numa sabedoria antiga, de experiência feita, que determinava o que “pertencia” a cada prato, o que “ia” com quê, os sabores que “ligavam” ou não entre si.      Traziam para a mesa verdadeiras obras de arte de culinária portuguesa, com um brio que disfarçavam com a falsa modéstia dos di...

Poemas da M.P.B: Paz e Amor, Kleiton e Kledir

Ah, eu continuo o mesmo sonhador Que ainda acredita em paz e amor E o meu sonho vai virar realidade Depois que enfim passar a tempestade E essa loucura toda terminar É a gente errou e entrou na contramão E desinventou a civilização Ah, onde foi que a gente se perdeu? Não sei dizer o que aconteceu Só sei que dá pra achar a solução Encontrar a luz no frio da escuridão E acender a vela, o fogo da paixão Falo de amor, de solidariedade Nós somos feitos de felicidade Então é só abrir o coração E no fim das contas o que vai sobrar É o velho sonho pra recomeçar Falo de esperança, de fraternidade De compaixão, de fé e amizade É só assim que o mundo vai mudar Ah, eu continuo o mesmo sonhador Que ainda acredita em paz e amor Encontrar a luz no frio da escuridão E acender a vela, o fogo da paixão Falo de um mundo inteiro sem fronteiras Sem muros, sem divisas, sem barreiras Em que as pessoas possam se abraçar Falo de respeito à diversidade De cor, de gênero, da liberdade De amar alguém do jeito que...

Vamos Pensar? (24) Amanhã

 

Passo, poema de Marcelo Valença

Um passo de pedra Um pé de assoalho Cansaço de asfalto Piso e desfaço Um traço de luz Um risco de som Espaço de tempo Pausa e compasso Um pedaço de ar Um gelo de céu Resquício de agosto Garoa e mormaço Leia mais do autor: Azuis Hora Bolas Sê Rocha Lugar Algum Bastidora Encanto

O Amigo Xanha, crônica de José Paulo Cavalcanti Filho

Lisboa. Mais um se foi, Alberto Vinicius Melo do Nascimento (Xanha), em 11 de dezembro do ano passado. O enorme poeta Marcelo Mário Melo recomenda (no Manifesto da esquerda vicejante ) que “devemos lembrar nossos mortos, não pelas chagas de seus martírios, mas por seus jeitos de rir”. Assim seja. E conto agora uma história que fala nesse que partiu. Tem sua graça e vai estar no meu próximo livro ( Conversas de ½ Minuto ). Vamos a ela.      Na Ditadura 18 estudantes, que lutavam, ficaram presos e em greve de fome. Já 11 dias foram concluídos. Por cautela foram trazidos para o quartel da PM, no Derby, onde havia um hospital militar. Os médicos informaram que, até 12 dias, não haveria problemas para a saúde. Entre 12 e 18, provavelmente. A partir daí, com certeza. Era preciso encerrar a greve, na proteção dos próprios presos.      Fomos negociar com eles. Airton Soares, velho amigo e líder do PT na Câmara dos Deputados (pouco depois, ele e Beth Mendes foram e...