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Mostrando postagens de novembro, 2024

Vamos Pensar?

 

Jason, conto de Lívia Garcia-Roza

     -Ângela vem aí - e corri para dar uma última espiada no espelho do banheiro.      Mamãe tirava a mesa. Põe e tira a mesa todo o tempo, está tão treinada que pode fazer isso de olhos fechados. Quando voltei, encontrei mamãe abraçada a um dos pratos, perguntando quem era Ângela. Uma garota, respondi. Jason meu irmão, descaço, peito nu, passando por mim, empurrou minha cabeça:      -Aí garoto! - e continuou se jogando nas poltronas. Mamãe diz que Jason está compondo; precisa relaxar para aguardar inspiração.      Jason tem dezoito anos e eu catorze e meio. Mamãe diz que meu irmão parece artista de cinema. Diz também que o que aconteceu ao Jason foi raro - obra do Criador. A beleza é algo divino, ela agradece, revirando os olhos para o alto.      Eu ainda não cresci, mas parece que um dia isso vai acontecer. Quiseram até me levar ao médico porque continuo do mesmo tamanho; com meu pai também foi assim, e hoje é ...

Assim Começa o Livro Que Eu Comecei

 1 - OS ARGONAUTAS "OS ÓRFÃOS DA TEMPESTADE"      Medonho desastre. Perdido na procela, o avião precipitou-se no mar, a pouca distância da costa da Flórida. Era noite fechada quando as lanchas de serviço de salvamento da marinha norte-americana chegaram ao lical do sinistro. E ali, sob a chuva, na negra noite, começaram a pescar os cadáveres de passageiros e tripulantes. O primeiro a aparecer foi o da Princesa Hindu, que sorria com uma estrêla-do-mar aninhada entre os seios. O gordo Homem de Negócios boiava abandonado, como um fôfo boneco de borracha, e em sua bôca aberta mexia-se um caranguejo. Vieram outros. O moço de Bordo com uma medusa na testa. A Americana Loura com os cabelos soltos e olhos vidrados... O Comandante todo condecorado de anêmonas... Tinham os braços enredados em algas, e a morte lhes pintara nos rostos as côres mais doidas. Por fim ficaram faltando apenas os corpos dos brasileiros. Holofotos eflitos varejavam as águas. Longe, cintilavam as lu...

Prêmio Jabuti edição 2024 - vencedores

 Prêmio Jabuti -  Livro do ano 2024      Durante os anos 1970 e 1980, Rosa Freire d'Aguiar trabalhou como correspondente internacional em Paris. Os restaurantes mais badalados da época, a chegada do primeiro avião comercial supersônico, a devolução do deserto do Sinai ao Egito, tudo que dizia respeito a cultura e política internacional virava notícia, que era rapidamente despachada por telex para o Brasil. E, claro, as longas entrevistas, que marcaram a era de ouro das publicações impressas.      Com um texto saboroso, na melhor tradição do jornalismo literário, a autora reconstitui a atmosfera fervilhante que dominava a cidade — dos cafés e livrarias até os embates sociais e políticos que permeavam o dia a dia dos franceses. O livro ainda inclui 21 entrevistas com intelectuais, escritores e políticos, aqui personagens incontornáveis da história cultural do século XX: Alain Finkielkraut, Alberto Cavalcanti, Conrad Detrez, Élisabeth Badinter, Ernes...