Em latim as palavras "inventar" e "descobrir"são sinônimas. Aliás, segundo Aristóteles a multiplicação
destes dois verbos teria como resultado o ato de recordar.
Se não existem invenções ou descobertas, só recordações, o criar torna-se com efeito um admirável exercício de memória. Um incansável esforço do lembrar.
Esta hipótese seria apenas curiosa se não fosse também verdadeira. pois um dos efeitos mais perturbadores do ato de criar é aquele que nos dá a sensação de que não estamos descobrindo nada novo, somente resgatando algo esquecido.
O talento da crianção portanto na maneira que utilizamos para revelar aos outros esta algo, esta história, uma vida, saga ou percepção, que sempre existiu mas que de alguma forma oculta foi esquecida pela humanidade. ficou adormecida sem emocionar ninguém.
E é exatamente o que você encontrará neste livro: uma jornada cuja missão é o ressuscitar da verdadeira estória de uma enigmática mulher, Alma.\
A investigação é realizada por vários profissionais da escrita, cada um deles levando a bagagem dos instintos, emoções e das sensibilidades, mas acima de tudo a capacidade de imaginar.
O fascínio da leitura entre os participantes desta aventura é que o leitor pode, e deve, tomar carona. Imaginar-se ali conosco também criando opções para a estória, compondo os personagens e se perdendo na imponderável dimensão do sonhar acordado.
E como em todo sonhar, mesmo aquele de olhos abertos, o leitor perceberá que não existem certezas e que nada é absoluto. Notará que os viajantes se enfrentam na defesa de seus delírios ( eu e Gabo, por exemplo), depois voltam atrás, reccriam, redescobrem novos detalhes e de repente surge a revelação: sem dúvida encontramos o modo de contar a estória, a trama só pode correr neste fluxo narrativo e com personagens atuando sob determinadas cargas dramáticas. e a paixão
Então o processo se completa. O sonho torna-se realidade. Escreve-se o roteiro. Roda-se o filme. Assiste-se à minissérie. A emoção é transmitida aos espectadores.
Atenção. É justamente antes desta transformação galopante que encontramos a razão maior deste livro. Porque ele não tem por objetivo ensinar a tecenica ou arte de escrever para televisão ou cinema, nem muito menos só pretende contar a fabulosa e misteriosa estória de Alma, a mulher que alugava seus sonhos. Não.
O livro captura o leitor por submergi-lo no processo imaginativo de um grupo de criadores. Em toda a arriscada massa indefinível e visionária que precede a escrita de uma peça, de um livro, de um roteiro.
Por tudo isto trata-se de um livro único: a real transcriçãi de mentes viajando pelo irreal. Pela ficção e a paixão. Sem limites ou barreiras. A princípio tão próximas do caios, da loucura e no final convictas e felizes por terem cumprido o milagre do resgate. Do ressuscitr uma estória esquecida.
Doc Comparato. Rio de Janeiro 11 de janeiro de 1997
Em: Me Alugo Para Sonhar, Oficina de roteiro de Gabriel García Márquez
Ed. Casa Jorge,Rio de Janeiro, 2001, págs.9-10
Imagem: Salvador Dali
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