Pular para o conteúdo principal

A Dor de Ser Poeta, Vinícius Gregório

Talvez não seja tão bom

Ser poeta nessa vida;
Talvez seja até sofrida
A vida com esse dom.
Afirmo isso em bom som:
Alegria nos renega!
É que o poeta se entrega,
Sente a dor de todo mundo...
Tem sempre um choro profundo
Que no sei peito se apega.

Saudade é sempre pior
No coração do poeta!
Alegria é nossa meta,
Mas a tristeza é maior!
Eu sinto a dor do menor
Abandonado e sem trilho, 
Sinto a dor do andarilho,
Sinto do velho a idade,
Eu sinto até da saudade,
Da mãe que perdeu o filho...

Eu sinto a dor de quem ama,
Mas não pode ser amado.
Eu sofro multiplicado
Quando a paixão não me inflama.
Eu sinto o queimar da chama
De quem sente solidão.
Sinto a fome de um irmão
Que a muito tempo não come,
Eu sinto a praga da fome
Que atrapalha meu sertão.

O poeta nasce feito
Com seu destino traçado.
Já nasce predestinado
A sentir dor no seu peito...
Deus nos criou desse jeito:
Uma raça diferente.
Sinto a dor de toda gente
Que não tem sonho nem meta...
Sinto até como poeta
A dor que um poeta sente...

Poeta no dia-a-dia,
Tem sentimento apurado,
Só que não sofre calado,
Descarrega em poesia!
Tenta encontrar alegria
Mas só tristeza lhe afeta...
Possui a vida inquieta
Mas mesmo assim é valente,
Pois, com toda a dor que sente,
Não deixa de ser poeta.

Apesar de toda a dor,
Caso outra vez nascesse
E Jesus me concedesse
Escolher o meu labor,
Minha escolha, sem temor
Não era ser diferente.
Mesmo coéssa dor pungente
Que se instala no meu peito,
Eu queria satisfeito,
Ser poeta novamente.

E se eu nascesse de novo
E Deus me desse um Menu
Onde eu visse o mundo inteiro,
Cada conto a olho Nu.
E mandasse eu escolher
Onde eu queria nascer,
Com certeza ia dizer:
De novo no PAJEÚ.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Aprenda a Chamar a Polícia, Luis Fernando Veríssimo

          Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.                   Como minha casa era muito segura, com  grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali,espiando tranquilamente. Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.            Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível. Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: - Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guard