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A Vida Assim Nos Afeiçoa, Manuel Bandeira


Estátua na Rua da Aurora, às margens do Rio Capibaribe
Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem!


Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança

Pôs o seu hálito vital;


Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
- Olvido, impertubável, onde
"Não restará nada de mim!"


Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.


Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.


E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.


A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel

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Recife comemora:
Na Rua da Aurora tem recital poético, a partir das 16h30, junto à estátua de Bandeira. Entre os dias 26 e 29, Projeto "De bicicleta com Bandeira". A proposta é levar a poesia do homenageado através de "bicicletas de propaganda". Jomard Muniz de Britto vai gravar seu poema preferido, para levá-lo a vários bairros da Região Metropolitana. Entre as parcerias formadas para a celebração de Bandeira, destaca-se, ainda, a formada com a Releitura - Rede de Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana. A Releitura desenvolve no dia 25 de abril a intervenção urbana "Bandeira nas Paradas", em que mediadores voluntários da Rede realizam leituras de poemas de Bandeira, mini-contos e pequenos causos em paradas de ônibus do Recife.
(Do Jornal do Commércio - Reporter JC)

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