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O Perigo de Uma História Única, Chimamanda Ngozi Adichie ( amostra do livro)

Sou uma contadora de histórias. Gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que gosto de chamar "o perigo de uma história única".      Passei a infância num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que comecei a ler aos dois anos de idade, embora eu ache que quatro deva estar mis próximo da verdade. Eu me tornei leitora cedo, e o que lia eram livros infantis britânicos e americanos.      Também me tornei escritora cedo. Quando comecei a escrever, lá pelos sete anos de idade- textos escritos a lapis com ilustrações feitas com giz de cera que minha pobre mãe era obeigada a ler -, escrevi exatamente o tipo de história que lia: todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis, brincavam na neve, comiam maçãs e falavam muito sobe o tempo e sobre como era bom o sol ter saído.      Escrevia sobre isso apesar de eu morar na Nigéria. Eu nunca tinha saído do meu país. Lá, não tinha neve, comíamos mangas e nunca fal...
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Demétrius Araujo, o Professor Que Faz a Diferença

Oitenta e cinco alunos da Escola Estadual Anísio Teixeira, em Marabá,Região de Integração de Carajás, alcançaram notas acima de 900 na Redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), conforme resultado divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Conforme ainda o resultado, 150 alunos tiraram notas acima de 800 pontos na Redação do Enem 2024. Ano passado, 64 alunos da instituição de ensino tiraram acima de 900 pontos na Redação. O resultado expressivo da Escola Anísio Teixeira representa o maior do Pará, em segundo lugar aparece a Escola Albanízia de Oliveira Lima, em Belém, com 79 alunos com notas acima de 900 pontos. O professor de Redação e Língua Portuguesa da Escola “Anísio Teixeira”,Demétrius Araújo, realiza um projeto de Redação na escola que já colhe frutos positivos há três anos. Em 2022, foram 33 alunos com notas acima de 900, em 2023, foram 64 e em 2024 atingiu o número de 85 discentes em des...

Conto de Verão Número 2: Bandeira Branca, Luís Fernando Veríssimo

    Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, fazendo montinho de confete, serpentina poeira, até serem arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro baile de Carnaval.      Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egipcia. Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas.      Só no terceiro carnaval se falaram.      - Como é teu nome?      - Janice. E o teu?      - Píndaro...

Vasto Mundo, conto de Maria Valéria Rezende

     A moça chegou do Rio. Logo se vê... tão alvinha! Saiu daqui miúda, não diferenciava em nada das  outras meninas da escola minicipal. Foi o padrinho que a levou. Voltou essa moçona. Veio passar o São João. No meio das outras moças, na frente da igreja, ela agora diferencia até demais. O vestido bonito, mais altura, as unhas compridas e vermelhas, movendo os braços, dando voltas e requebros enquanto fala. E fala sem parar.  As outras mais matuts ainda unto dela, são apenas molduras para o quadro. Para os olhos de Preá, nem moldura. Não existem. Não existe mais a igreja, a praça, a vila, nada. Só a moça.      Preá outro nome não tem. Quem poderia dizer era a velha, mas morreu sem que ninguém se lembrasse de perguntar. Para a maioria do povo de Farinhada, hoje parece que ele sempre esteve ali, que sempre foi assim, uma coisa de vila como a igrea, a ponte sobre o riacho, os bancos de cimento da pracinha. Mas alguém se lembra;  chegou um dia c...

Morte e Vida Severina. De que trata o poema de João Cabral de Melo Neto?

A história começa com a apresentação do protagonista, cujo nome é Severino. É um retirante. Ele é mais um entre tantos Severinos nordestinos. No seu ato migratório, encontra dois homens que levam um defunto em uma rede. O defunto é Severino Lavrador. Depois, o protagonista segue viagem. O retirante Severino pretendia seguir o rio Capibaribe, que o guiaria em sua jornada. Porém, o rio desapareceu devido à seca. Ainda assim, Severino segue seu caminho por várias vilas da região. Chega a uma casa onde está ocorrendo o velório de mais um Severino. Em seguida, cansado de tanto andar, decide parar e buscar um emprego. Avista uma mulher em uma janela e lhe pergunta sobre um possível emprego. Ela responde que trabalho tem, mas não de lavrador, devido à seca. Ele então vai em direção à Zona da Mata, onde assiste ao enterro de um “trabalhador de eito”. Em seguida, ele caminha rumo a Recife. Em Recife, quando para com o objetivo de descansar, perto do muro de um cemitério, acaba ouvindo a convers...

Vamos pensar?

Será que às vezes o melhor não é se deixar molhar?  

Assim Começa o Livro Que Comecei

Ele veio silenciosamente. Inclinou-se sobre a minha cama. Seus dedos transparentes quase tocaram no meu ombro: "Raíza, Raíza!" Tinha uma rosa no lugar do rosto, mas o hálito adocicado era de hortelã. Papai você bebeu outra vez! Tive vontade de dizer-lhe. Foi quando senti um perfume moribundo de rosas e lembrei-me então de que ele tinha morrido. Quis abraçá-lo, paizinho, que saudade, que saudade!...      Quando ergui os braços ele já tinha desaparecido. Senti o travesseiro úmido de lágrimas. Contudo, fora um bom sonho. Aúnica coisa estranha era aquela rosa em lugar do rosto, mas assim mesmo cheguei a achar natural vê-lo com a cara desabrochada em pétalas.      Voltei-me para a porta por onde ele entrara. Estava fechada. Na escuridão do quarto, só a porta tinha o contorno marcado pela frincha de luz que se filtrava por baixo: era como a tampa do enorme caixão de um enterrado vivo, acordado com a noite ao redor. E vendo pelas frestas o sol a brilhar lá fora. ...