( Para meu pai)
A presença um do outro fortalecia os dois e fez a menina sentir na pele sensações diferentes que ela coloriu do jeito certo. A ansiedade pareceu branca e arrepiou a nuca. A felicidade amarela deu coceiras, de tanto ela se movimentar. A saudade só podia ter a cor do céu, descobriu com a garganta apertada que a impedia de falar, e o medo de perdê-lo, ah, o medo de perdê-lo não tinha cor e fez erupções saltarem do seu frágil corpo à noite, antes de dormir.
Com a porta aberta até a metade, os dois eram um atributo, seus corações batendo com perfeição; nem os moradores da casa da tia ou os cachorros, ou os periquitos no corredor externo fizeram parar aquele batuque de emoções. A menina virava um touro com o pai por perto ( ou o touro era ele?).
Durante a entrega, ele se abaixou e, com um beijo, apresentou o presente. O silêncio, cúmplice do momento, alargou seu significado , e a menina serenou das emoções contraditórias.
Hoje, quando ela olha para trás, susppeita de alguns detalhes. Talvez não tenha sido rápido, ou no meio do trilho da porta de correr, sem conversa alguma. Pode ter sido no aniversário e não no Natal... Ainda assim, eitado no seu peito, estará para sempre o pouco do que ela se lembra. Pertenciam-se. "Papai perdoa por qualquer teimosia ou mau comportamento na escola", desculpou-se sem dizer. "O mundo me assusta", continuou ela sem voz, sabedora de que ele a entenderia.
O que ela fazia deixada na casa dos primos em uma data tão importante? por onde andava a mãe? Foram dois dias que ela ficou ali ou três séculos? Não me ame menos, papai, que linda bicicleta cor de sorvete de creme!
Em:Meu Nome É Meu, Natascha Duarte, Ed. Urutau, 2025. Págs.35-35

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