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Mulheres da Fuvest (6) Opúsculo Humanitário: Nísia Floresta (1853)

      Enquanto pelo Velho e Novo mundo vai ressoando o brado - emancipação da mulher - nossa débil voz se levanta, na capital do império de Santa Cruz, clamando - educai as mulheres!

     Povos do Brasil, que vos dizeis colonizados! Governo, que vos dizeis liberal! Onde está a doação mais importante dessa civilização, desse liberalismo?

     Em todos os campos, e em todas as nações do mundo, a educação da mulher foi sempre um dos mais salientes característicos da civilização dos povos. Na Ásia, esse berço maravilhoso do gênero humano e da filosofia, a mulher foi smpre considerada como um instrumento do prazer material do homem, ou como sua mais submissa escrava: assim, os seus povos, mesmo aqueles que atingiram oa mais alto grau de glória, tais como os babilônios, ostentando aos olhos das antigas gerações suas admiráveis muralhas, seus suspensos e soberbos jardins, suas colunatas de pórfiro, seus templos de jaspe, com zimbórios de pedras preciosas elevando-se às nuvens, obras que até hoje não têm podido ser imitadas; esses povos tão poderosos, dizemos, permaneceram sempre em profunda ignorância dessa civilização, que só podia ser transmitida ao mundo pela emancipação da mulher, não conforme o filosofiemo dos socialistas, mas como a compreendeu a sabedoria Divina, elevando até a si a mulher, quando encarnou em seu seio o Redentor do mundo.

     As Déboras, as Semíramis, as Samíramis, as Judiths se mostram embalde (1) atestando aquela a graça de que a tocara Deus, permitindo-lhe revelar aos homens alguns de seus mistérios; estas, uma razão esclarecida, uma coragem rara, que provacam já então não ser a mulher somente destinada a guardar rebanhos, a preparar a comida, e a dar à luz a sua posteridade.

1- Embaldo: sem resultado.

Em: Opúsculo Humanitário, Nísia Floresta, Ed.via Leitura, pág.10

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