O outono capixaba alterna dias ensolarados com outros nublados, atravessados por dias chuvosos,
desfazendo um pouco do eterno verão que nos é peculiar. Nesses últimos dias, o mar tem nos trazido ventos tristes... Francisco é morto.
desfazendo um pouco do eterno verão que nos é peculiar. Nesses últimos dias, o mar tem nos trazido ventos tristes... Francisco é morto.
Isso faz lembrar o trecho da música de Fernando Brant, Lô Borges e Márcio Borges; eternizada na voz de Milton Nascimento:
“Por que você não verá
Meu lado ocidental?
Não precisa medo, não
Não precisa da timidez
Todo dia é dia de viver
Eu sou da América do Sul
Sei, vocês não vão saber”
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos. Quando eleito Papa, ele disse: “Parece que meus irmãos cardeais foram me buscar no fim do mundo”. Ele se declarava, assim, um homem do Sul Global. Proveniente dos países colonizados pelas nações europeias por cerca de 300 anos. Nós, a periferia do mundo. Nós somos o Extremo Ocidente, como cantou Caetano Veloso, na música Milagres do Povo:
“Foi o negro que viu a crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres de fé no Extremo Ocidente”
Será que foi por esses “milagres de fé no Extremo Ocidente” que Francisco angariou tantas simpatias entre céticos, agnósticos e ateus? E por qual motivo, contra ele se ergueram tantas vozes e punhos cerrados no seio da cristandade?
Ah, Francisco, você abraçou os leprosos sociais do terceiro milênio, que não podem ser abraçados! Você sugeriu uma compreensão além dos limites tolerados! Teria sido essa a infração?
Atravessando o outono que cobre as avenidas da Grande Vitória, avisto igrejas de quase meio milênio, e me pergunto: por que mãos que seguram o terço e cobrem a cabeça com véus, insurgem-se contra o papa jesuíta, que zelou por resgatar o minimalismo dos primeiros tempos apostólicos? Por quê?
Se eles, os mais fiéis entre os fiéis, não te amaram, Francisco; permita que os agnósticos e os ateus chorem sua partida de frente para o Atlântico que banha o solo capixaba. Permita que povos que se vestem de branco joguem flores brancas ao mar em sua homenagem.
Foram 12 anos de papado e o Papa latino-americano jamais voltou à Argentina para uma visita... Muitos lá não te amariam, Francisco. Ah, Francisco! Como os fariseus têm se multiplicado aqui na sua América de Sul!
Mas, você os perdoará, Francisco! Porque, outra vez, novamente, de novo ... eles não sabem o que fazem.
Deixai-os pelas igrejas multicentenárias do Espírito Santo. Eles continuarão a mascatear no templo, a exigir que toquem a trombeta quando dão esmolas e a apontar o dedo em riste para os pecadores. É o farisaísmo do tempo.
Vá com Deus, Francisco.
A escrita de Antonio é mordaz. Diz muito sobre a humanidade, ou a falta dela.
ResponderExcluirPapa, em muitos momentos, revolucionário. Ótimo texto !!
ResponderExcluirA sua leitura me honra muito!
ExcluirQue texto lindo e impactante, António. Sucesso! E soube expressar o que realmente aconteceu com o papado de nosso saudoso Francisco. Deixou um importante legado.
ResponderExcluirA sua leitura me honra muito!
ExcluirUm texto bem escrito, cheio de informações e provocador. Parabéns, meu nobre Antonio. Saudações!
ResponderExcluirA sua leitura me honra muito!
ExcluirParabéns ✍🏽✍🏽
ResponderExcluirA sua leitura me honra muito!
ExcluirAntônio Neto! Sempre com um texto de leitura prazerosa carregada de informações misturando o arcaico com contemporâne! Forte abraço...
ResponderExcluirA sua leitura me honra muito!
ExcluirUm texto lúcido, repleto de delicadezas, sem deixar de ser potente, expondo a hipocrisia religiosa, que tantas e tantas vezes sequer respeitam o sagrado. "Sim, todo amor é sagrado!!!
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