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Mostrando postagens de agosto, 2019

Historinha Pra Ninar Gigante, Nara Rúbia Ribeiro.

Um rei medroso Ordenou que fossem mortos Todos os pássaros do seu reino.  Assim se cumpriu. Daquele dia em diante O canto que nascia vinha das entranhas das pedras. Deu-se uma quebra no encantamento das coisas E dragões desembocaram do espaço. Parecia que o mundo inteiro findava. O rei, Desobrigado de sonho, Fechou os seus olhos de esquecer de acordar. Então, as crianças se aliaram aos poetas E desenharam um poema De passarinhos ressuscitados. Foi aí que pequeninas pedras Animaram-se a levitar. Pouco a pouco ganharam penas, Bico, asas, gorjeio de pássaro. E as crianças descobriram Que pedrinhas coloridas São passarinhos disfarçados de chão. Segredo milenarmente guardado. Só o sabem as crianças e os poetas. Fonte: Revista Pazes   Compre o livro aqui

Rubi,edição especial. Odette Castro

      Odette Castro conta que foi em um ano de muitas perdas que veio o insight de escrever o livro “Rubi” (Editora Impressões de Minas, 106 páginas), lançado no mês passado, na Casa-Atelier, Santo Agostinho. “Final de casamento, perdas financeiras, morte da minha mãe e das tias que me criaram. Quando dei por mim, estava em frente à tela do computador, escrevendo compulsivamente. Uma catarse. E assim foi acontecendo por dias a fio. Como se eu expelisse as dores através das letras. Em nenhum momento pensei na reação das pessoas. Foi uma surpresa. Talvez se tivesse pensado, não escreveria”, diz ela, frisando, ainda, a importância da palavra liberdade. À ela, pois: “Quando você tem que lidar, diariamente, com as diferenças, você se liberta de julgamentos. Esta é a maior liberdade que uma pessoa pode conquistar”. (www.hojeemdia.com.br) Ao usar a palavra “diferenças”, Odette se refere, particularmente, à filha, Beatriz, hoje com 28 anos, e portadora da Síndrome de Rubinstein-Taybi

A Todos Que Não Foram e Não Ligaram, Fernanda Young

     Bom, você não foi. E não ligou. A mim, só restou lamentar a sua falta de educação. Imaginando motivos possíveis. Será que você não foi porque realmente não pôde ou simplesmente não quis? Será que não ligou para não me magoar ou justamente o inverso disso?      Estou confusa, claro. Achava que você iria.    Tanto que eu aguardei sua chegada por mais minutos do que deveria, inventando desculpas esfarrapadas para mim mesma. O trânsito, o horário, a meteorologia. Qualquer pneu furado serviria. E até o último instante, juro, achei que você chegaria a qualquer momento. Pedindo perdão pelo terrível atraso. Perdão que você teria, junto com uma cara de quem está acostumada, e assim encerraríamos o assunto. Mas você não foi.     Esperei outro tanto pelo seu telefonema, com todas as esclarecedoras explicações. Para cada razão que houvesse, pensei numa excelente resposta. Para cada silêncio, num suspiro. Para cada sensatez de sua parte, numa loucura específica da minha.      S

Os Índios de Berlim, João Ubaldo Ribeiro

          Uma coisa eu aprendi, nesta minha temporada berlinense: só apareço outra vez na  Alemanha depois de frequentar um curso sobre a Amazônia e ler pelo menos uma bibliografia básica sobre os índios brasileiros. As coisas aqui podem ficar difíceis para brasileiros como eu, que não entendem nada de Amazônia e de índios. Ao serem informados dessa minha ignorância, alguns alemães ficam tão indignados que desistem imediatamente de conversar comigo.        Outros, talvez a maioria, se recusam a acreditar em algo tão inaceitável,não ouvem minhas negativas e vão em frente, num diálogo às vezes um pouco esquizofrênico.       — Deve ser fascinante a Amazônia, não é?      — Deve ser, sim. Certamente que é.      — Compreendo o que você quer dizer. Para você, imerso na Amazônia, é difícil ter a mesma visão fascinada que um estrangeiro. Para quem está de fora, contudo... — Não é bem isso, é que eu nunca vi a Amazônia.        — Você mora fora do Brasil desde criança?        — Não, mo

As Tardinhas Caem, Ronaldo Wrobel

     Há poucos anos fui convidado para um evento literário em Monte Alto, no interior paulista, e tomei um voo até Ribeirão Preto. Para meu espanto, quem me esperava no aeroporto era uma dupla sertaneja paparicada por fãs. Entre autógrafos e fotografias, os dois disseram que tinham sido contratados pelos promotores do evento literário porque trabalhavam com transportes durante a semana e só se apresentavam de sexta a domingo.      Embarcamos numa van colorida com o nome da dupla. Na estrada, carros piscavam e buzinavam para seus ídolos, que retribuíam alegremente. A emocionada cobradora do pedágio ganhou um CD de presente. Quarenta minutos depois, passamos pelo segundo pedágio e deu-se algo estranho: o cobrador não mostrou qualquer interesse pelos dois, se é que chegou a reconhecê-los. É que aqui não somos famosos, explicaram. Meus condutores só faziam sucesso no entorno imediato de Ribeirão Preto e em algumas cidades perto de Minas Gerais, numa área “dominada” por outras dupl

Canção Para Os Fonemas da Alegria, Thiago de Mello

Imagem Pixabay Peço licença para algumas coisas, Primeiramente para desfraldar este canto de amor publicamente. Sucede que só sei dizer amor quando reparto o ramo azul de estrelas que em meu peito floresce de menino. Peço licença para soletrar, no alfabeto do sol pernambucano, a palavra ti-jo-lo, por exemplo, e poder ver que dentro dela vivem paredes, aconchegos e janelas, e descobrir que todos os fonemas são mágicos sinais que vão se abrindo constelação de girassóis gerando em círculos de amor que de repente estalam como flor no chão da casa. As vezes nem há casa: é só chão. Mas sobre o chão quem reina agora é um homem diferente, que acaba de nascer: porque unindo pedaços de palavras aos poucos vai unindo argila e orvalho, tristeza e pão, cambão e beija-flor, e acaba por unir a própria vida no seu peito partida e repartida quando afinal descobre num clarão que o mundo é seu também, que o seu trabalho não é a pen

Cora Coralina, 130 anos

Cora Coralina,  a poeta doceira mais querida do Brasil , nasceu há 130 anos, no dia 20 de agosto de 1889. Conheça seus poemas, receitas e livros. DE ANINHA A CORA CORALINA Cora Coralina dizia que era a menina feia da Ponte da Lapa. Uma menina triste e nervosa, amarela de rosto empalamado e pernas moles, que tinha duas irmãs lindas e que poderia ter sido amada por ser a caçula, mas então veio mais uma e ocupou seu lugar. Por isso, ela escreveu certa vez, ficou sozinha, fechada em seu mundo imaginário. Ao longo de seus 95 anos de vida – de muito trabalho, garra e coragem e de alguma alegria –,  Cora Coralina  carregou essa menina ao seu lado, e quando começou a escrever mais sistematicamente e a publicar seus livros, já mais velha, lá estavam a garota, a casa da infância, que foi a casa da velhice, as memórias – tudo o que ela viu, sentiu, viveu neste quase um século, e que não foi pouco. Nascida Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas em  agosto de 1889 , meses antes d