Pedro Bandeira faz parte da minha infância. E da de muita gente também.
Quando eu era criança, ler era uma brincadeira. Eu corria na
rua com os meninos e brincava de Barbie com as meninas. Mas sentar e curtir um
livro também era uma das opções de diversão. Minhas memórias de infância
incluem as quedas que eu levei, os nomes que a gente dava para nossas bonecas e
também as muitas histórias legais que eu li. Então, quando a minha mãe (a dona
desse blog aqui) me mandou uma foto do autógrafo que ela tinha conseguido com
um dos meus autores favoritos dessa época, vocês já podem imaginar a minha
alegria.
Pedro Bandeira esteve aqui no Recife promovendo seu mais
recente livro, A Droga da Amizade. Quem tem em torno dos trinta como eu (um
pouco mais ou um pouco menos dependendo da margem de erro do Ibope) conhece bem
esse autor. Muitas escolas tinham seu clássico, A Droga da Obediência, na lista
de leitura do ano. Mas a minha relação com Pedro Bandeira é diferente e eu
aposto que muitos da minha geração também pensam assim. Eu li A Droga da
Obediência primeiro. Li porque eu quis, sem a escola mandar. Não sei como ouvi
falar dele pela primeira vez. Os personagens, Os Karas, eram da minha idade ou
um pouco mais velhos. Eram adolescentes super inteligentes e empolgados em
resolver os mistérios da história. Eu era uma pré-adolescente metida que se
achava super inteligente e estava empolgada para ver aonde o livro ia me levar.
Daí para o negócio virar vício foi um pulinho. Pântano de
Sangue, aliás, foi o primeiro livro que eu comprei com meu próprio dinheiro. Da
mesada, tudo bem, mas era meu. Tenho o livro até hoje, todo velhinho. Li todos
de Pedro Bandeira em sequência, A Droga do Amor, Anjo da Morte e A Marca de uma
Lágrima (que não tinha os mesmos personagens). Cada um deles trazia os Karas em
uma aventura diferente e ensinavam algo sobre história, geografia, etc. Eram
tramas interessantes, com linguagem fácil (mas não bobas) e capturavam o
espírito adolescente tão bem que fisgavam o leitor dessa idade. Eu amava Os
Karas. Eu queria ser Magrí, mas estava mais para Chumbinho. Não porque eu era
gordinha, mas porque eu era a mais nova que achava que podia se enturmar com os
garotos descolados. E Miguel? Quem não amava Miguel?
Eu brincava de Karas com outros pirralhas da rua. Eu usava
frases usando o código secreto dos Karas. Eu admito que até hoje sei uma
decorado. Parece que começou nessa época a minha mania de ficar obcecada com
uma coisa e querer aprender tudo sobre aquilo. Mais ou menos nesse período deve
ter começado também a minha vontade de ler e escrever como profissão. Eu tinha
milhões de diários para contar as minhas (FANTÁSTICAS) histórias de
pré-adolescente, escrevia (FANTÁSTICAS) histórias de ficção e lia um bocado.
Aí, nesse delírio de menina, achei que era uma boa ideia escrever para Pedro
Bandeira sugerindo uma história para os Karas. Fiz a carta com os detalhes da
trama e mandei para ele. Hoje não me lembro de jeito nenhum qual era a minha
ideia. Mas lembro, com vergonha, que eu me coloquei no possível livro como um
dos personagens. A louca!
Então Pedro Bandeira me respondeu. Ele disse: “minha filha,
você está doida?!” Não, não. Brincadeira. Ele respondeu bem fofinho, agradeceu o
fato de eu ter lido os livros dele e explicou calmamente que não era bem assim
que o processo criativo dele funcionava e tals. Será que ele recebia muita
carta de leitores? Será que muitos pediam para ser incluídos nos livros? Será
que muitos diziam “escreve um livro assim ó” e mandam uma trama inteira? Para
ele deve ter sido uma em um milhão, mas a carta que eu recebi dele me deixou
muito feliz.
Os Karas fizeram parte da minha infância / pré-adolescência.
Pedro Bandeira fez parte dessa fase tão engraçada e importante da minha vida.
Hoje, estou aqui com mais um livro dos Karas para ler. Em A Droga da Amizade,
os personagens estão adultos, da minha idade. Como será que isso vai funcionar?
De qualquer jeito, é divertido ter mais uma aventura de Pedro Bandeira nas
mãos. E esta é também especial. O livro tem aquele autógrafo que minha mãe
pegou com ele. E não só para mim. Ele rabiscou o livro me oferecendo “mil
beijocas” e também deixou um recado para o meu sobrinho (o neto dessa blogueira
coruja) pedindo “leia bastante”. Ele só
tem um ano, mas vamos ver se no futuro ele vai fazer parte de mais uma geração
viciada nos Karas.
Beijocas, Pedro Bandeira.
Beijocas, mãe.
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