Sabemos, por entrevistas, que Nafissatou Diallo ficou magoada quando as acusações criminais foram arquivadas. Uma reação esperada e compreensível. Mas a imaginação artística também é o mundo do "e se" . E se em vez de ficar devastada, ela visse o arquivamento das acusações como uma maneira de escapar de um sistema que sabia que não estava configurado para beneficiar pessoas como ela? E se ela visse isso como um alívio complicado, tendo-lhe sido negada a chance de fazer justiça, mas também como o ganho de possibilidade de recuperar sua vida, congelada no gelo do desconhecido?
Às vezes quando escrevemos ficção, momentos mágicos caem do céu, personagens se mostram e partes reveladoras formam cenas, como aconteceu no fim deste comance. Fiquei profundamente comovida com aquele final gestado no terreno selvagem da dor pessoal e, ainda assim, tão afastado da dor.
Minha mãe, acho, teria gostado sa personagem Kadiatou. Eu a imagino lendo este romance e então suspirando e dizendo, com uma espécie de resignação e empatia: "Nwanyi ibe m". Mulher, como eu.
A Contagem dos Sonhos, Chimamanda Adichie Ngozi, Cia das Letras,2009,págs. 421-422
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