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Lágrima de Um Caeté, poema de Nísia Floresta ( sem imagem/referência)

 (...) página 2 

Lá, quando no ocidente o sol havia 

Seus raios mergulhado, e a noite triste 

Denso-ébanico véu já começava 

Vagarosa a estender por sobre a terra; 

Pelas margens do fresco Beberibe, 

Em seus mais melancólicos lugares, 

Azados para a dor de quem se apraz 

Sobre a dor meditar que a pátria enluta! 

Vagava solitário um vulto de homem, 

De quando em quando ao céu levando os olhos, 

Sobre a terra depois triste os volvendo... 

(...) 

(...) página 18 

Não chores, ó Caeté, o amigo teu: 

Que caiu, não morreu, porque o bravo 

Constante defensor da pátria sua, 

Para a pátria não morre. 

(...) 

(...) página 21 

O bravo selvagem atônito ficou... 

- Quem és; lhe pergunta, infernal deidade? 

- Uma tal visão de inferno não sou: 

Sou cá deste mundo, a realidade. 


Volta às selvas tuas, vai lá procurar 

Alguns desses bens, que aqui te hão tirado: 

Não creias, ó mísero, jamais encontrar 

A paz, a ventura que aqui tens gozado. 

(...) 

  

(...) página 23 


Um movimento fez de impaciência 

Da natureza o filho. 

Seus braços estendendo à bela Virgem, 

Quis ir a seu socorro... 

Mas os olhos volvendo à terra vê 

Realidade horrível! 

- Dissipa as ilusões, filho dos bosques 

A meu rosto te afazei; 

E verás, que tão feia eu não serei, 

Como agora pareço, 

Se de ilusões a mísera humanidade 

Não amasse nutrir-se, 

Horrenda a face minha não seria 

A seus olhos depois... 

(...) 

(...) Página 56 


E súbito o Caeté foi-se saudoso! 

................................ 

Nas margens do Goiana agora expande 

Sua dor ! 

  

- Goiana ! ... clama ele ali vagando, 

Mais triste do que lá o Beberibe: 

Onde está teu herói ? o filho teu ! 

- no céu ... 

 

- No céu ... responde o eco ! E sabe o mundo 

Suas grandes virtudes; sabe a glória, 

Que seu nome  deixou, nome imortal 

Na pátria ! ... 

 

E lá do Caeté 

O triste pungir, 

Com ele se foi 

No céu confundir !


 


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