Pular para o conteúdo principal

História Infantil:Rainha da Primavera

   
  Numa terra muito distante chamada Florislândia, havia todos os tipos de flores, de todas as idades e de todos os estilos. As mais velhas eram mais sábias e cuidavam das mais jovens, as mais novas costumavam ser mais vaidosas e viviam enfeitando suas pétalas. As flores mães cuidavam das tarefas do lar e dos filhos, os pais saíam para trabalhar nas plantações de novas flores, os bebês brotinhos brincavam com suas folhas e tentavam tocar seus caules, as flores avós tinham suas pétalas enrugadas e seus caules tremiam sem parar, elas se apoiavam em pequenos gravetos para andar e não dispensavam seus óculos.
     Uma vez por ano a cidade se enfeitava para o Baile da Primavera. Este baile escolheria a flor mais bela da cidade e a vencedora receberia o título de Miss Rainha da Primavera, ganharia uma viagem ao Jardim do Éden e ganharia muitos presentes dos patrocinadores da festa. Todas as flores jovens e bonitas se inscreviam para o desfile, preparavam suas roupas e arrumavam suas pétalas e folhas para o grande evento.

 
     O dia do baile havia chegado. Jasmim e Violeta eram muito amigas, elas combinaram que seriam rainhas a qualquer custo, não importasse o que fariam para conseguir isto. Rosa era uma linda flor que, além de graciosa, era muito humilde e simpática. Todos a admiravam, mas Jasmim e Violeta tinham muita inveja de sua beleza e sabiam que ela tinha grande potencial para ser a vencedora do concurso.
     Enquanto todas se arrumavam no camarim, Jasmim e Violeta pegaram os sapatos da Rosa sem que ninguém percebesse e colocaram espinhos para furar os pés da rival, depois foram para a passarela e desfilaram sem que ninguém soubesse o que elas haviam feito. O apresentador do desfile chamava todas as candidatas com bastante entusiasmo, mas estava ficando preocupado porque começava a chover forte, ele temia que algo acontecesse com o salão do baile.
     Desta vez, foi a hora da Rosa entrar na passarela, o apresentador a chamava, mas ela não aparecia, ele insistia em chamá-la mas, nada dela ir para a passarela. Quando seu ajudante resolveu procura-la no camarim, viu que a pobre flor estava com os pés sangrando e chorava sem parar. Ela não sabia explicar como aqueles espinhos haviam ido parar dentro de seus sapatos, agora ela não poderia mais desfilar, pois estava sentindo muita dor e seus pés estavam bastante machucados.
     No momento em que o apresentador resolveu chamar outra flor para desfilar, uma gigantesca tromba d’água caiu sobre o salão e o palco veio a baixo. As flores que assistiam ao desfile saíram desesperadas, as crianças choravam de medo, os organizadores do evento tentavam acalmar o público, mas todos estavam bastante eufóricos e assustados.  Em meio a tanta confusão, Violeta ficou presa debaixo das ferragens das arquibancadas, ela gritava por socorro, mas ninguém a ouvia. A chuva caía com muita força e as flores corriam de um lado para outro sem ninguém perceber que ela estava presa. Sua amiga Jasmim havia saído do salão e nem se lembrou de procurar por ela. Depois de tanto gritar e tentar chamar por socorro, Violeta já se encontrava sem forças, e quando pensou que morreria, sua rival das passarelas Rosa, percebeu o que estava acontecendo. Rosa jogou-se no chão e puxou Violeta com toda sua força para tentar salvá-la, não fossem seus pés tão feridos ela teria conseguido mais rápido. Mas a bela flor não desistiu de tentar salvar sua colega e puxou e puxou, até que, ufa! Ela conseguiu retirar Violeta do buraco em que ela se encontrava. Juntas, Violeta e Rosa saíram do salão e foram para a rua, uma apoiada ao ombro da outra, pois, ambas estavam muito feridas.
     Duas horas depois, a chuva havia cessado. A noite caiu fria e serena sob a cidade de Florislândia. Todos estavam sujos e de olhos arregalados comentando o desastre. Jasmim chegou perto de Violeta e perguntou onde ela estava, a amiga contou que ficou presa e disse que a Rosa a ajudou a sair de lá, as amigas ficaram muito envergonhadas com o que haviam feito a Rosa. Chorando, elas pediram perdão à nova amiga e resolveram que contariam toda a verdade ao apresentador do desfile. E para aprenderem a nunca mais sabotarem um evento, as duas ficariam o próximo ano sem participar do Baile da Primavera. Aquele ano não tivera uma vencedora, mas a união das três flores compensou tudo o que havia acontecido. Jasmim e Violeta aprenderam que não se deve fazer o mal a ninguém, mesmo que se queira vencer, e que um dia você poderá precisar daquele a quem tentou prejudicar, pois foi exatamente assim que aconteceu naquele ano. Embora nenhuma delas tenha levado a faixa de Miss Rainha da Primavera, a lição de amor que levaram superou qualquer premiação.
     No ano seguinte, Jasmim e Violeta foram até a casa da Rosa para ajudá-la a se enfeitar para o baile, pois elas torciam para que a amiga fosse a grande vencedora. Naquele ano, tudo estava dando certo e Rosa foi a grande vencedora do baile conforme merecia. Agora, Jasmim e Violeta não tinham mais inveja da Rosa, mas grande admiração e respeito por aquela que, um dia, havia ensinado a lei de amor ao próximo, independente de quem seja esse próximo. A amizade entre elas cresceu cada vez mais e todas se ajudavam quando uma tinha que desfilar. Elas se tornaram modelos internacionais e chegaram a morar juntas para trabalhar. Todas conquistaram o sucesso sem jamais prejudicar alguém, e desta forma viveram felizes para sempre.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.