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Vamos Pensar? (27)

 
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Mulheres da Fuvest (5): Júlia Lopes de Almeida (Memórias de Martha) Matéria de Isabella Andrade

Resumo do livro ‘ Memórias de Martha’ O romance Memórias de Martha, primeiro da escritora Júlia Lopes de Almeida, foi publicado inicialmente como folhetim em 1888 e compilado em livro no ano seguinte, 1889, um ano antes de O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Classificado como um romance memorialista, a obra é uma autobiografia ficcional narrada em primeira pessoa. A protagonista, Martha, narra os acontecimentos mais marcantes de sua vida, desde a infância até o momento da narrativa, que coincide com a morte de sua mãe. Cenário e contexto histórico A história se passa no final do século XIX. Quando jovem, Martha perde o pai, e sua mãe, também chamada Martha, precisa trabalhar como engomadeira para sustentar as duas. A renda escassa obriga-as a morar em um cortiço no bairro de São Cristóvão, na então capital do Império, Rio de Janeiro. Martha descreve o cortiço como um lugar úmido, fétido, devido a um matadouro próximo, e o quarto onde viviam como estreito, abafado e escuro. É de se notar que...

Mulheres da Fuvest (4) Memórias de Martha, Júlia Lopes de Almeida ( 1899)

Primeira página de Memórias de Martha      Tenho uma ideia vaga da casa em que nasci e onde morei até aos cinco anos. Um ou outro canto ficou desenhado em meu espírito; quase tudo, porém, se perde num esboço confuso.      Assim as cenas. Entre tantas coisas, tantos tipos e tantas palavras que se refletiram nas minhas pupilas de criança, ou que vibraram em meus ouvidos, que ficou?      Bem pouco!      Lembro-me, por exemplo, de um ângulo de quintal, onde havia um banco tosco e um tanquezinho redondo que servia de bebedouro às galinhas. Era ali que eu lavava as roupas das bonecass. Lembro-me também do papel de salinha de jantar, cheio de chins(1) e de quiosques; de um vão de janela, onde se armava o presépio de Natal.      Os quartos, os móveis, os criados, de tudo isso me recordo às vezes, mas numa fugacidade tal, que não me fica a sensação de saudade, mas a da dúvida.      Das cenas lembra-me a da ...

Humor. Quem manda.

 

O Que Estou Lendo? O Caminho Sem Aventura, Lêdo Ivo. Primeira página

     Durante o momento em que, tendo já apagado a luz, eu entrecerrava os olhos, aguardando um sono que  não vinha, era que me afluiam à memória todos os acontecimentos em que fôra jogado. Êsses fatos vinham em dsua maioria decepados, partidos, as imagens misturando-se à medida que o aniquilamnto do adormecer me tomava. Principalmente as lembranças da infância se transfiguravam, vestindo-se de tonalidades que eu sabia não serem reais, mas forjadas pela imaginação, surgindo dessa maneira como coisas criadas, afastando-se de suas linhas lúcidas para espalhar-se e desenvolver-se numa atmosfera de sonho. A imagem de Bárbara que flutuava em minha lembrança não era decerto a presença física de minha amiga, mas se tratava de Maria Eleonora, sua mãe, a pessoa que modificara, com sua influência e existência que eu levava, e se projetara de um modo considerával em minha vida.      Maria Eleonora era uma dessas criaturas que, mesmo desaparecidas, permanecem em no...

Mulheres da Fuvest (3): O Africano e o Poeta, poema de Narcisa Amália

Les eclaves... Est-ce qu'ils ont des dieux? Est-ce qu'ils ont des fils, eux qui n'ont point d'aieux? (Lamartine) No canto tristonho Do pobre cativo Que elevo furtivo, Da lua ao clarão; Na lágrima ardente Que escalda-me o rosto, De imenso desgosto Silente expressão;       Quem pensa? - O poeta       Que os carmes sentidos        Concerta aos gemidos        De seu coração. Deixei bem criança Meu pátrio valado, Meu  ninho embalado Da Líbia no ardor; Mas esta saudade Que em túmulo anseio Lacera-me o seio Sulcado de dor,      Que sente? - O poeta      Que o elísio descerra      Que vive na terra      De místico amor!  -Roubaram-me feros A f'ervidos braços; Em rígidos laços Sulquei vasto mar; Mas este queixume Do triste mendigo, Sem pai, sem abrigo, Quem quer escutar?...      Quem quer? O poeta      Que os térreos mistérios ...

Os Dois Amigos, conto de Lêdo Ivo

     Quando os dois amigos se encontravam, um deles sempre tinha pressa. No instante mal cabia um aperto de mão. O gesto afetuoso perdia-se no ar, inacabado.      - Precisamos nos encontrar! - exclamava o amigo vitorioso e apressado, e talvez uma fagulha de satisfação cintilasse no olhar do outro que sempre respondia, catando as migalhas da antiga estima:      - Telefone. Tenho o nome no catálogo.      O amigo sempre ocupado, não dispunha de tempo para deter-se na calçada ou no meio da rua, tirar o caderninho de notas e escrever-lje o nome e número do telefone. Mas não havia necessidade desse ritual miudo: seu nome estava no catálogo telef6onico!      Contava, à noite, à sua mulher, que encontrara o amigo de infância. "Estive hoje com o Felisberto Barrosso."dizia o nome todo, embora ambos tivessem sentado juntos nos bancos do grupo escolar. chegara mesmo a salvá-lo uma vez de morrer afogado. Felisberto ( ou Feli...