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Maneco, poema de Marcelo Valença

Sempre que chove Manequinho floreia Verde branco e lilás Manequinho incendeia Como ninguém é capaz Sempre que chove Por toda parte Manequinho clareia Vívido e audaz Manequinho sereia Como ninguém é capaz Por toda parte Sem nenhum alarde Manequinho alheia Lívido e em paz Manequinho permeia Como ninguém é capaz Sem nenhum alarde
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Vamos Pensar?

 

O Presente, conto de Natascha Duarte

 ( Para meu pai) Eu nunca soube porque ele não entrou na casa para dar a bicicleta à menina. Ela tinha 8 anos e era Natal, um natal de fim de tarde encandescente e, entre eles, havia uma porta de correr de vidro. Fechada. O quadriculado do vido criava a impressão de rostos disformes e foi assim que a menina o viu quando ele chegou, ele que nem parecia ele.  Ela também deve ter surgido outra, através da ilusão que a porta provocava, como se não fosse sua filhinha adorada. No entanto, ao abrir o que os separava, a falsa impressão se dissipou,e os dois, pai e filha, encontraram-se no meio, nem pra fora, nem pra dentro. Simplesmente, em cima do trilho que corria no chão. Ali olharam-se  e se abraçaram mais do que podia ser.      A presença um do outro fortalecia os dois e fez a menina sentir na pele sensações diferentes que ela coloriu do jeito certo. A ansiedade pareceu branca e arrepiou a nuca. A felicidade amarela deu coceiras, de tanto ela se movimentar. A ...

Pelas Ruas de Tirano, crônica de José Paulo Cavalcanti

  Tirano fica bem ao norte de Itália. Na Lombardia, já fronteira com a Suiça. É famosa por muralhas construídas, no final do século XV, por Ludovico Sforza - O Mouro; pelo Santuário della Madonna, dos inícios do século XVI; e por suas três grandes portas - Bormina, Milanese e Poschiavina.      Marmirolli fazia parte daquela paisagem de cartão-postal.Órfão dos pais, desde cedo foi criado por uma velha tia. Com todos os cuidados e carinhos próprios dos filhos únicos. Até quando foi estudar em Milão. Já engenheiro, e com o advento da Segunda Guerra, voltou à terra. Não em busca de emprego, como seria natural; mas para ser partigiano - contra o Eixo de Hitler e Mussolini. Tendo plena consciência dos riscos que corria. E não foi surpresa para ninguém quando seu grupo acabou nas mãos de tropas alemães. Ao meio-dia de um dia quente, ainda mai quente que os dias quentes daquela época do ano. Quente como ferragosto.       Aqueles quase meninos foram então...

História Bonita: A Escola da Árvore

  Francisco tinha três anos quando a mãe, a então servidora pública Letícia Araújo, 49, o levou a um posto de saúde no Varjão, na região norte de Brasília. Ao avistar uma criança da mesma idade, o menino fez um questionamento que estaria prestes a mudar a vida da família. "Ele olhou para a nossa cara e disse: 'Ele (o menino) é preto?' Meu filho não sabia o que era uma pessoa preta", relembrou a mãe. Foi a partir dessa indignação que ela e o marido, Davi Contente, 40, em 2015, decidiram usar uma casa de 46 metros na chácara em que moravam, para dar início à história da Escola da Árvore. "Aqui era a minha churrasqueira", apontou Araújo, fundadora e pedagoga da instituição, ao apresentar o cômodo reformado, que abriga a turma mais nova da escola: Mirindiba. "Eu só comecei a pensar nessa escola quando não achava nenhuma no Plano Piloto que tinha crianças negras. Como que meu filho vai aprender a lidar com o racismo, se ele só tinha coleguinhas brancos?...

O Jeito Que Meu Pai Fala, crônica de Marcílio Godoi

  Salve 4 de outubro, dia do seu Marciano! Lá em casa, quando fazíamos aniversário, meu pai sempre chegava, a um determinada hora do dia, geralmente trazido à força por minha mãe, e perguntava: — Aêooou, Marcs..., (parênteses: meu pai Marciano chamava todos os filhos de Marcs..., que era um genérico de si mesmo que ele aplicava a toda a prole, Marciano, Márcio, Marcelo, Marcus, Marcial, Marcílio...) ouvi dizer que é o seu aniversário hoje? — É, sim, pai. — Então meus parachoques! — ele brincava, de longe, sempre com medo de que um abraço e um beijo — perigo! — formalizassem um parabéns muito afetuoso. Seu Marciano era amoroso, mas não podia deixar isso expresso de forma nenhuma, sob pena de perder o moral. Os filhos, os que sabiam ler a gente no gesto, sabiam disso. E era fácil saber, afinal o ET sempre esteve lá, junto de nós. Não faltava uma vez. Quando atendia o telefone, dizia, meio gritado, para a pessoa do outro lado ouvir quase sem a necessidade ...

A Professora Encantadora, Márcio Vassalo

  Maísa era uma professora que olhava para tudo com olho de assombro e estranheza. Ela dizia que assombro é um susto cheio de beleza e que estranheza é o casamento do estranho com a surpresa. As aulas da Maísa eram mesmo assombrosas, estranhas e surpreendentes. Na escola, ela se derretia de amor pelas palavras, pelas frases, pelos livros. Mas a Maísa se derretia pelas pessoas ainda mais que pelos livros. Então, a professora contagiava a gente com todo aquele derretimento. E dava aula de esticar suspiro. De olhos fechados, nós aprendíamos a suspirar fundo. E a Maísa suspirava junto com a gente, com aquele seu riso, às vezes freado, às vezes desembestado. Ah, e para ninguém atrapalhar a aula com urgências sem importância, no lado de fora da porta a professora pendurava um aviso: NÃO ENTRE AGORA. ESTAMOS SUSPIRANDO… No começo, os alunos que não conheciam bem a Maísa achavam que um dia ela daria uma prova para ver quem tinha aprendido a suspirar certo.Mas a professora logo explicava qu...