Como se sabe, a cobra ofereceu a fruta a Eva, que a mordeu e deu para Adão ( a fruta, que fique bem clato). Assim que os dois comeram, perceberam que estavam nus e se envergonharam. Cobriram-se com folhas de parreira e uma semana depois, em todas as bancas do Jardim do Éden, podia-se ler na capa de primeira revista feminina da história: "10 maneiras hipertransadas de usar folhas de parreira para arrasar nesse verão!" ( se você achou "hipertransadas"e "arrasar" meio ridículo, lembre-se de que a edição e de milhões de anos atrás: as gírias, naquele tempo, eram outras).
A história, tirando a revista feminina, está inteira na Bíblia. O que mostra que ter vergonha do corpo é tão antigo quanto andar pra frente. Talvez o motivo da vergonha tenha mudado: antes o pudor porque o desejo carnal era pecado. Hoje parece ser justamente o contrário: a vergonha surge ao pensarmos que os outros podm não achar nosso corpo desejável o bastante. Ou seja, se Adão e Eva ficaram mal pelo desejo que sentiram pelo corpo do outro ( isso é uma hipótese, pois como a Bíblia é lida por freira e padres, as melhores partes são muito mal-explicadas), hoje o medo é não causar desejo algum. Quando chega a hora de pôr um biquini, então, todos os andeios em relação ao corpo buzinam ao mesmo tempo.
Resolver essa questão é muito simples: basta ter uma dieta balanceada, praticar exercícios físicos ao menos quatro vezes por semana, passar hidratantes e cremes contra celulite e estrias, fazer tratamentos com laser, colocar silicone onde falta, fazer lipo onde sobra e usar o biquíni adequado. Fácil, não? Claro que não. Minha cara, conforme-se, o seu corpo é esse aí: você pode fortalecer um pouco aqui, diminuir um tanto ali, mas acho que a questãi não é essa. A vergonha não está no corpo ( uns quilos a mais, pernas muito finas, peitos muito pequenos), mas sim na cabeça. Temos vergonha porque somos idiotas, porque queremos sempre ser o que não somos. Nesse verão, esqueça os olhos de DEus e dos meninos, que estão por toda parte e que tudo veem, e tente aproveitar a praia, o sol, o mar. Se até Eva, que teve a maior vergonha do corpo de que já tivemos notícia, sobreviveu ( apesar dos castigos divinos), você também sobreviverá. E encontrará muitas pessoas interessadas em dividir com você aquele fruto que - ainda bem! - já não é mais proibido.
Em: Adulterado ( crônicas), Antonio Prata, Ed. Moderna, 2009, págs.39-40
Imagem: Eva e a serpente - John Dickson Batten
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