Os cravos portugueses Sagraram-se Pelo sangue derramado De negros e alvos. Os cravos, o povo português Os porta à mão como quem empunha um fuzil. E ao cravá-los na lapela, Pulsa-lhes um segundo coração. Os cravos portugueses São perfumados e encarnados De hastes altas, altivos mastros. Na primavera suas pétalas São jorros rubros de vinho. Os cravos dessa terra. O povo os semeia, os cultiva, Os celebra. No 25 de abril, Os portugueses adquirem cravos Como quem compra pão. Carregam cravos e desbravam trevas, As mãos seguram cravos como quem conduz Tochas de fogo e luz. Portugal que criou a ciência dos mares, Vê Lisboa alagada pela esperança, Vê, novamente, nos punhos cerrados do povo A bravura de quem venceu a fúria dos oceanos, E a selvageria dos tiranos. Os opressores argumentam, – Os tempos são outros. E para ter, eternamente, Os trabalhadores como escravos, Alardeiam: os cravos de Abril Murcharam, para sempre, irremediavelmente… Esquecem que eles, São viçosos, teimosos e persistentes