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Mulheres da Fuvest (3): O Africano e o Poeta, poema de Narcisa Amália

Les eclaves... Est-ce qu'ils ont des dieux? Est-ce qu'ils ont des fils, eux qui n'ont point d'aieux? (Lamartine) No canto tristonho Do pobre cativo Que elevo furtivo, Da lua ao clarão; Na lágrima ardente Que escalda-me o rosto, De imenso desgosto Silente expressão;       Quem pensa? - O poeta       Que os carmes sentidos        Concerta aos gemidos        De seu coração. Deixei bem criança Meu pátrio valado, Meu  ninho embalado Da Líbia no ardor; Mas esta saudade Que em túmulo anseio Lacera-me o seio Sulcado de dor,      Que sente? - O poeta      Que o elísio descerra      Que vive na terra      De místico amor!  -Roubaram-me feros A f'ervidos braços; Em rígidos laços Sulquei vasto mar; Mas este queixume Do triste mendigo, Sem pai, sem abrigo, Quem quer escutar?...      Quem quer? O poeta      Que os térreos mistérios ...
Postagens recentes

Os Dois Amigos, conto de Lêdo Ivo

     Quando os dois amigos se encontravam, um deles sempre tinha pressa. No instante mal cabia um aperto de mão. O gesto afetuoso perdia-se no ar, inacabado.      - Precisamos nos encontrar! - exclamava o amigo vitorioso e apressado, e talvez uma fagulha de satisfação cintilasse no olhar do outro que sempre respondia, catando as migalhas da antiga estima:      - Telefone. Tenho o nome no catálogo.      O amigo sempre ocupado, não dispunha de tempo para deter-se na calçada ou no meio da rua, tirar o caderninho de notas e escrever-lje o nome e número do telefone. Mas não havia necessidade desse ritual miudo: seu nome estava no catálogo telef6onico!      Contava, à noite, à sua mulher, que encontrara o amigo de infância. "Estive hoje com o Felisberto Barrosso."dizia o nome todo, embora ambos tivessem sentado juntos nos bancos do grupo escolar. chegara mesmo a salvá-lo uma vez de morrer afogado. Felisberto ( ou Feli...

Mulheres da Fuvest (2): Narcisa Amália (1852-1924)

Aflita Per lui solo affido sull'ali dei venti Il suon lusinghiero di garruli accenti! Deh riedi, deh riedi!... mi stinge al tuo cor E giorni beati -vivremo d'amor! Il Guarany Desde a hora fatal em que partiste, Turbou-se para mim o azul do céu! Velei-me na mantilha (1) da tristeza Como Safo na espuma do escarcéu. Até então o arcanjo da procela Não enlutara o lago das quimeras, Onde minh'alma, garça langorosa(2), Brincava à luz de etéreas primaveras. Mas um dia atraindo ao vasto peito Minha pálida fronte de criança, Murmuraste tremendo: -"Parto em breve; Mas não te aflijas, voltarei, descansa!" Ai! Que epopeia túrgida de lágrimas Na comoção daquela despedida! Eu soluçava envolta em véu de prantos: "Quando voltares", já serei sem vida! Desde então, comprimindo atrás as angústias, Vou te esperar à beira do caminho; Voltam cantando ao sol as andorinhas, Só tu não volves ao deserto ninho!... Quando a tribo inquieta das falenas (3) Liba(4) filtos nas clícias(5...

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As Mulheres da Fuvest (1)

     A Fuvest, responsável pelo maior vestibular do país, informou que nos anos de 2026, 2027 e 2028, vai exigir a leitura de livros unicamente de mulheres. Até agora a fuvest pedia majoritariamente livros escritos por homens.   Em 2026 os livros indicados são : Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta Nebulosa s (1872) – Narcisa Amália Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida Caminho de Pedras (1937) – Rachel de Queiroz O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen As Meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles Balada de amor ao vento  (1990) – Paulina Chiziane Canção Para Ninar Menino Grande (2018) – Conceição Evaristo A Visão das Plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida Trata-se de uma reparação que já devia ter sido feita há muito tempo. Nunca houve razão nenhum para que Raquel de Queiroz, por exemplo, ser esquecida.  A presença de talentos femininos não invalida nenhum outro talento.  As três primeiras escrito...

Lira dos Vinte Anos, música de Belchior e Francisco Casaverde

O s filhos de Bob Dylan Clientes da Coca-cola Os que fugimos da escola Voltamos todos pra casa Um queria mandar brasa O outro ser pedra que rola Daí o money entra em cena e arrasa E adeus, caras bons de bola Mamãe, como pôde acontecer? Ah meu coração-lobo mau não aguenta E andarmos apressados Deu em chegar atrasados Ao fim dos anos cinquenta Meu pai não aprova o que eu faço Tampouco eu aprovo o filho que ele fez Sem sangue nas veias, com nervos de aço Rejeito o abraço que me dá por mês Álbum: Elogio da Loucura - 1988 Imagem: Thyagão

Lágrima de Um Caeté,poema de Nísia Floresta ( sem)

 (...) página 2  Lá, quando no ocidente o sol havia  Seus raios mergulhado, e a noite triste  Denso-ébanico véu já começava  Vagarosa a estender por sobre a terra;  Pelas margens do fresco Beberibe,  Em seus mais melancólicos lugares,  Azados para a dor de quem se apraz  Sobre a dor meditar que a pátria enluta!  Vagava solitário um vulto de homem,  De quando em quando ao céu levando os olhos,  Sobre a terra depois triste os volvendo...  (...)  (...) página 18  Não chores, ó Caeté, o amigo teu:  Que caiu, não morreu, porque o bravo  Constante defensor da pátria sua,  Para a pátria não morre.  (...)  (...) página 21  O bravo selvagem atônito ficou...  - Quem és; lhe pergunta, infernal deidade?  - Uma tal visão de inferno não sou:  Sou cá deste mundo, a realidade.  Volta às selvas tuas, vai lá procurar  Alguns desses bens, que aqui te hão tirado:  Não creia...