Nunca houve em toda a montanha pastor como Gabriel. - Merecia outras olvelhas, homem! - disse-lhe um dia o Prior, desanimado da anarquia dos seus paroquiamos, quando viu o rebanho do rapaz atravessar a estrema dum centeio sem tirar uma dentada. - Deus me livre! Já me vejo maluco com estas... Mentira. O padre tinha razão.Era uma pena ver tanta autoridade, tanta vocação, tanto jeito natural, ao serviço de animais. Nem se pode fazer ideia! O carneiro mais teimoso, mais lorpa, mais churro, chegava às mãos do Gabriel e mudava de condição. Só não ficava a falar. -Que fazes tu ao gado, criatura? Parece que o enfeitiças! - Nada. Dou-lhe monte, como a outra gente. Sorria. E lá continuava a educar os malatos com gestos e palavras que ninguém sabia fazer nem dizer. Nunca batia numa rês. O castigo era um simples olhar reprovativo, um assobio impaciente, uma interjeiçào mal humorada. Mas bastava. Ao fim de algum tempo, cada cabeça como que porfiava em não desagra