Naquela noite eu esperava retardatários. A presença do jovem casal no bar tornou menso desconfortável a falta de companhia. Ficar sozinho em botequim é a pior forma de solidão. Lembro de um episódio que se atribui a Tom Jobim, não sei se real, mas típico senso de humor do grande músico.
Contaram que Jobim chegou ao bar favorito e ficou esperando a turma: Vinícius, Chico Buarque&Cia. Passavam-se horas, não aparecia inguém. Toda vez que a porta do bar se abria, o maestro olhava curioso, e nada. Somente chegavam estranhos, como estranha era toda a freguesia em volta, incluindo moças desacomapnhadas que o solitário compositor observava, já depois da terceira dose, com interesse cada vez maior. As moças, porém, continuavam o papo, indiferentes aos seus olhares.
Para tornar ainda mais triste a solidão de Tom Jobim, alguns casais nas mesas próximas caprichavam em cenas românticas. Tudo conspirava para que ele acelerasse o consumo de uísque. Sem ter com quem conversar nos bares as pessoas tendem a beber mais. O maestro não fugia e essa regra boêmia. Num dado instante, de copo vazio, espiava com inveja um casal se beijando, quando o garçom aproximou-se: "O senhor quer alguma coisa?" E Jobim, imperativo: "GArçom, beije-me".
Em:Cronistas de Pernambuco. Org. antonio Campos e Luiz CArlos Monteiro. CarpeDien 2010, págs 36-37.
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