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A Casa das Mulheres, crônica de Rubem Braga

     A casa das seis mulheres amanhece tarde e lenta; chegam duas tão lavadas, penteadas, com perfumes, com louçãs, e se olham passeando no capim perto da piscina azul, e lhes dá vontade de fotografias. Chegam mais duas de shorts coloridos; depois uma some como por encanto, mas surge outra. Na casa das seis mulheres nunca são vistas seis mulheres; duas se afastam para se dizer segredos, ou uma está lá dentro falando ao telefone, e quando vem contando uma história outra sai correndo para mudar a blusa.

     A vida é uma tarde de domingo, cchove com energia, faz sol com prazer, há flores, vidros, luz e sombra na casa das seis mulheres. Os homens que chegam se sentem bem;  mas os homens são transitivos; chegam com suas vozes grossas, bebem tilintando gelo nos copos, fumam e partem; os homens são como sombras lentas e fortes, mas apenas sombras. Podem deixar algo no coração e nos segredos de alguma das seis mulheres mas depois mergulham no cinzento de seus cotidianos e a casa des seis mulheres continua limpa, luminosa e transparente entre árvores e flores.

     Talvez seja para eles que as seis mulheres estão sempre se lavando, se penteando, se pintando e cambiando saias imprevistas e trescalando fragrâncias matinais ou sensuais - entretanto elas permanecem suspensas na indolência das tardes de domingo e os homens, seres broncos, se apagam longe, são apenas ecos de telefone, fotos perdidas em álbuns fechados nas gavetas escuras. As seis mulheres continuam se lavando, se penteando noite cheia de estrelas carregando o sono e o sonho de cinco - porque sempreuma saiu, ou foi misteriosamente à sala escura, ou a um canto vigia, ou, escondida se abandona ao pranto.


Em: 200  Crônicas Escolhidas, as melhores de Rubem Braga. Ed. Record. Pág.195

Imagem: Baptistão.


Leia também:  A Casa dos Homens, crônica de Rubem Braga

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