Um dia, explicou, eu passaria a ser capaz de colocar as minhas próprias questões. ofício mais difícil ainda do que procurar respostas. Sozinho, saberia inventar um mistério até para mim mesmo. Como se eu fosse o lado de cá e o lado de lá das coisas. O lado de cá e o lado de lá do mundo. Um cristal com emissão de luz para todos os sentidos, para todas as direções.
Ponderávamos mistérios. O meu avô dizia que as evidências eram todas sustentadas por mistérios. Criava jogos para inventarmos perguntas só para ver se todas as perguntas teriam uma solução. As mais absurdas talvez estejam adiadas, só o futuro lhes saberá responder. Inventar perguntas é aprender. Quem não aprende tende a não saber perguntar. muita gente não tem sequer vontade de ouvir. Fica do tamanho de uma ervilha, no que às ideias diz respeito.
Aprendi que o dinheiro tem valor em troca de muita coisa, mas muita coisa só tem valor de graça. Aprendi que o preço é quase sempre o lado corrompido do valor.
Escutei como os bichos domésticos podem querer falar. Habituados aos seus donos, eles entendem bem que a linguagem acontece.
Aprendi que minha avó ficou doente e precisou morrer. Por causa de estar muito doente, a avó
precisara morrer para ficar sossegada. não lhe poderíamos falar, mas ela seria um património dentro de nós, uma recordação que a saberia manter como viva. Meu avô corrigiu: podemos falar com ela, ela vai responder de modo diferente. Sua resposta é a nossa própria ideia.
Biblioteca Azul, Portugal 2019, págs. 10-19
Imagens originais do livro.
Minhas avós conversam comigo também, Valter ...❤️
ResponderExcluirQue privilégio, Valter.
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