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Canção do Primeiro Ano, Mário Quintana (inédito)






Pelas estradas antigas
As horas vêm a cantar.
As horas são raparigas,
Entram na praça a dançar.
As horas são raparigas…
E a doce algazarra sua
De rua em rua se ouvia.
De casa em casa, na rua,
Uma janela se abria.
As horas são raparigas
Lindas de ouvir e de olhar.


A imagem ao lado é um manuscrito, descoberto por acaso por um livreiro de Porto Alegre. Trata-se de um  poema de Mário Quintana foi escrito em 1941.  Comprovada sua autenticidade a Associação dos Amigos da Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul, adquiriu o poema e o livro onde ele foi encontrado e incorporou os dois a seu acervo.
 
O poema chama-se Canção do Primeiro Ano.  Veja abaixo a transcrição.


As horas cantam cantigas
E eu vivo só de momentos,
Sou como as nuvens do céu…
Prendi a rosa dos ventos
Na fita do meu chapéu.
Uma por uma, as janelas
Se abriram de par em par.
As horas são raparigas…
Passam na rua a dançar.
As horas são raparigas
Lindas de ouvir e de olhar.
As horas cantam cantigas
E eu vivo só de momentos,
Sou como as nuvens do céu…
Prendi a rosa dos ventos
Na fita do meu chapéu.
Uma por uma, as janelas
Se abriram de par em par.

Fonte:  Estadão 23/1/22

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