Pular para o conteúdo principal

Praia do Porto, Paulo César Pinheiro

Na praia do porto amanheço.
Praia do Porto, imagem: Museu do Una


Na pedra do cais tomo assento.
Na água salgada eu me benzo.
No brilho do sol me oriento.

Na orla deserta eu caminho.
Na trilha de concha me enfeito.
No espelho de prata mergulho.
No pé da palmeira me deito.

No vento do mar me penteio.
No cheiro do sal me perfumo.
Na rede de palha balanço.
No azul do horizonte me aprumo.

Na estrela da tarde te chamo.
Na ponte de tábuas te vejo.
Num vão de maré te contemplo.
Na luz do luar te desejo.

No branco da espuma te encontro.
Na areia do chão te desenho.
No ronco das ondas te encanto.
No sangue da aurora te tenho.

No corpo moreno eu me esvaio.
Na arrebentação me energizo.
Na vela do barco adormeço.
No canto do mar me eternizo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di...

Vamos pensar? (18)

Será que às vezes o melhor não é se deixar molhar?  

O Mendigo do Viaduto do Chá, Regina Ruth Rincon Caires

     A moeda corrente era o cruzeiro. A passagem de ônibus custava sessenta centavos. O ano era 1974.       Eu trabalhava no centro da cidade, em um banco que ficava na Rua Boa Vista. Morava longe, quase ao final da Avenida Interlagos, e usava diariamente o transporte coletivo. Meu trabalho, no departamento de estatística, resumia-se a somar os números datilografados em planilhas e mais planilhas fornecidas pelas agências do banco. Somas que deveriam ser checadas, e que eram efetuadas nas antigas calculadoras elétricas com suas infernais bobinas, conferidas e grampeadas nas respectivas planilhas. Não fosse o café para espantar o sono durante as diárias e rotineiras oito horas de trabalho, nenhuma soma teria sido confirmada.