Dorinha, como se recorda, acidentou-se no último carnaval, quando
desfilou na Sapucaí como madrinha da bateria de uma escola. Ela não
conseguiu acompanhar o ritmo da escola e foi atropelada pela bateria.
Além dos arranhões e da perda de miçangas sofreu o que ela chama de
“escoriações morais”, pois foi bem na frente do camarote da Brahma.
Este ano Dorinha desfilará outra vez como madrinha da bateria, mas
de patinete. Como todos os anos, ela preparou-se para o carnaval
internando-se no Pitanguy durante quatro meses, só saindo de lá com a
garantia de que nada que foi esticado se soltaria na avenida, por mais
que ela rebolasse.
Dorinha também diz que... Mas deixemos que ela mesmo nos conte. Sua
carta veio em papel roxo, escrita com tinta carmim e cheirando a Mange
Moi, o perfume que tira o sono Papa.
“Caríssimo! Beijíssimos!
Sim, estarei na avenida de novo, recordando meus velhos triunfos.
Você se lembra da vez em que desfilei completamente nua com apenas
um retratinho do Fernando Henrique como tapa-sexo, para protestar
contra a política econômica do seu governo? Como eu ia saber que a
política econômica do Lula seria igual à do Fernando Henrique, só que
de barba? Pensei em repetir a fantasia trocando o retratinho mas um
tapa-sexo barbudo poderia ser mal interpretado.
Minhas manifestações políticas não foram em vão, no entanto. Até
hoje tenho certeza que aquela minha alegoria sobre a necessidade de
renovação na política, usando a renovação dos meus seios como exemplo,
foi responsável pelo afastamento do cenário nacional de figuras como
José Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho, de quem nunca mais se
ouviu falar, se é que não estou mal informada.
Minhas companheiras do grupo de pressão Socialaites Socialistas, que
luta pela instalação no Brasil do socialismo no seu estágio mais
avançado, que é o fim — Tatiana (“Tati”) Bitati, Betania (“Be”) Steira,
Cristina (“Kika”) Tástrofe e as outras — formarão uma ala toda de
tailleur e carregando motosserras, simbolizando a Dilma e os cortes no
Orçamento.
Não pretendo ser abalroada de novo pela bateria, mas se acontecer já
combinei com o Gustavão, que toca surdo de repique, para me salvar.
Estou chegando naquela idade em que o repique começa a ser um conceito
interessante. Ainda se diz ziriguidum?
(www.stellabartoni.com.br)
(Imagem:www.blogdanani.com.br)
(Imagem:www.blogdanani.com.br)
Grande Luiz Fernando Veríssimo!!! Saudades de suas crônicas
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